quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Só enxergam o próprio lado

Um desenhista americano chamado Sean Gordon Murphy, autor de uma HQ chamada "Punk rock Jesus" (eu não conheço nem o autor nem a obra, mas tudo bem, não sou consumidor de HQ), deve vir ao Brasil participar do 8º Festival Internacional de Quadrinhos, a se realizar em Belo Horizonte entre 13 e 17 de novembro deste ano. Aí o cara publica em sua conta no Twitter: "Esse processo para obter o visto brasileiro é ridículo. Mais um obstáculo e vou cancelar a visita ao FIQ".

Ofendidinho, nervosinho, o cara só esqueceu — ou talvez não saiba, mesmo; dizem que até hoje uma porção considerável dos americanos não sabe que a Terra gira em torno do Sol; o ex-presidente George W. Bush mandou ensinar o criacionismo nas escolas, porque a evolução é "apenas mais uma teoria" — que as relações internacionais são regidas pela regra da reciprocidade. Sempre foi assim.

O Brasil está longe de ser um país que causa embaraços aos estrangeiros, inclusive para imigração, que dirá para simples visitas. Episódios que podem ser lembrados dizem respeito àquela época em que a Espanha começou a humilhar e repatriar brasileiros, alegando que poderiam ter ido àquele país para se prostituir! Então as autoridades locais apertaram as exigências contra os espanhois. Eu mesmo vi matéria na TV em que um espanhol foi mandado de volta na mesma pisada, porque não informou o endereço de onde iria se hospedar, apresentando apenas um folheto de hotel.

Estes são exemplos de regras bastante razoáveis: comprovar local de hospedagem e recursos financeiros para se manter no país. E foi com base neles que o Brasil começou a ser rigoroso com os espanhois. A população apoiou. Nessas horas, o nacionalismo brota.

Ignorante de tudo isso, o quadrinhista provavelmente acha que o Brasil não é um país digno de impor exigências, ainda mais para um... americano! No entanto, é justamente em seu país que se originam as regras mais malucas, ridículas, patéticas e irracionais em matéria de visto. Além de perguntarem se somos terroristas, narcotraficantes, traficantes de pessoas ou cafetões; se já fomos em algum momento da vida ou se pretendemos ser no futuro; além de exigir informações até do nosso ensino fundamental, faturas recentes de cartão de crédito e declarações de renda, tocam o terror na cabeça dos interessados.

E aí aparece um filho da pátria para reclamar. Frangamente.

2 comentários:

Ana Miranda disse...

É por essa e por outras que você é meu ídolo, Yúdice!!!!

Yúdice Andrade disse...

Não sei se é para tanto, minha querida, mas aprecio muito essa estima. Abraços.