Atualizado em 13.11.2015.
É inevitável: bastou ver as chamadas do novo seriado da HBO Brasil, Psi, e pensei que a concorrência ― a série Sessão de terapia, da GNT ― estava fazendo escola, o que demonstra ser um produto bem sucedido. Afinal, alguns produtos acertam a mão de uma tal forma que acabam criando nichos na produção televisiva. Que o diga ER (no Brasil, Plantão médico), que inaugurou uma leva de tramas ambientadas no meio médico, algumas dramáticas, outras cômicas. CSI, por sua vez, além de ter virado uma franquia com três ramificações (Miami, New York e Cyber, este último o único em exibição atualmente), transformou a investigação criminal e as ciências forenses em uma coqueluche pelo mundo afora.
A HBO, contudo, quer mostrar que o seu produto não é uma cópia, nem de longe. E começa fazendo isso passando ao largo do minimalismo de Sessão de terapia. Esta se passa dentro do consultório do protagonista, Theo Ceccato, em episódios que simulam a agenda do psicólogo, de modo que cada episódio corresponde a um atendimento semanal e o roteiro segue esse fluxo temporal. Na maioria dos casos, vemos apenas psicólogo e paciente em cena, confrontando-se em diálogos e linguagem corporal, o que torna a série extremamente exigente para os atores. Há subtramas, destinadas a mostrar a vida do protagonista, que se tornaram mais comuns na segunda temporada, a ponto de se converterem no fio condutor da estória.
Diversamente, logo no primeiro episódio Psi mostrou seu protagonista, Carlo Antonini, e seu universo imediato: uma namorada com uma filha, uma ex-esposa e dois enteados muito próximos, a colega de profissão vivida por Cláudia Ohana. Muitas cenas externas e um ingrediente hoje bastante cobrado: ação. Até briga de rua e invasão armada de residência houve.
Mas é preciso comparar, porque as semelhanças vão além da profissão e do sobrenome italiano. Theo Ceccato é psicólogo e mantém um consultório em sua residência/apartamento, na cidade de São Paulo. Carlo Antonini é psicólogo, psiquiatra e psicanalista, vive em São Paulo e acredita que as janelas da cidade lhe ensinam mais do que os livros. Ambos vêm de casamentos fracassados, mas Theo em um contexto de crise, inclusive com os filhos, ao passo que Carlo mantém uma relação amistosa com a ex e continua agindo como pai dos filhos que ela teve em seu primeiro casamento.
Ambos se envolvem demais com os dramas de seus pacientes, mas embora Theo acredite ser seu dever salvá-los, mantém aquele distanciamento típico dos psicólogos (que é irritante para nós, que estamos do lado de fora), cujos limites são motivo de virulentas contendas entre ele e sua supervisora, Dora. Carlo, pelo que li, vai se envolver ao ponto de se colocar em situações perigosas.
No que tange à concepção do programa, tanto Zécarlos Machado, que dá vida a Theo, quanto Emílio de Mello, intérprete de Carlo, são atores de teatro. A escolha aponta para uma orientação dramática específica dos diretores, que colocam esses líderes cercados por atores conhecidos da TV, além de investir em novos talentos.
O criador do seriado precursor original Be Tipul, Hagai Levi, é um profissional da televisão, assim como seus parceiros, Ori Sivan e Nir Bergman. Já Carlo Antonini é um personagem saído da obra literária do famoso psicanalista italiano (radicado no Brasil) Contardo Calligaris. Daí que podemos esperar uma atuação do personagem mais diretamente centrada na psicanálise, o que, confesso, não me agrada muito, mas vamos ver no que dá.
O primeiro episódio foi promissor. Ao todo, serão 13 episódios de quase uma hora de duração, o que é outra mudança importante em relação a Sessão de terapia, cujos episódios duram pouco mais de 20 minutos (o suficiente para mexer com nossos sentimentos). A primeira temporada teve 45 episódios e a segunda, 35.
Vou botar fé e assistir. Não me interessa fazer comparações quanto à qualidade. Esta não é uma questão de melhor ou pior, até porque as propostas são claramente diversas. Interessa, mesmo, é ter grandes obras teledramatúrgicas à disposição, capazes de promover reflexões sobre valores, de modo construtivo e duradouro, coisa que a TV brasileira, em geral, habitualmente bloqueia. Para mim, é um grande ganho.
Um comentário:
Produzida pela HBO Latin America, a segunda temporada de "PSI" contará com 10 episódios de uma hora cada e será filmada em mais de 80 locações, em São Paulo, no período de 17 semanas.
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