quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Sub-liminar inconveniente

"Gostaria de roubar as fotos da Bárbara e mostrar sem photoshop. Não precisa consertar nada. O ensaio está lindo. É uma lolita que de doce não tem nada. Parece uma menina de 14 anos, não parece maior de idade. Os homens vão gostar."

Estas palavras foram ditas por Monique Evans (55), ex-modelo e apresentadora de TV, acerca das fotos que sua filha Bárbara acabou de fazer para a revista Playboy. A moça também foi modelo mas, supostamente, largou a carreira e foi fazer faculdade de nutrição porque não pretende ser famosa — hipótese curiosa considerando o quanto a menina já se pendurou em rapazes mais ou menos famosos, para aparecer.
E por que diabos um tema do universo medíocre das sub-sub-celebridades veio parar aqui, neste blog marrento que adora criticar os outros? Ora, foi por causa da parte do comentário que negritei. Nela, Evans-mãe hipervaloriza o fato de a filha, nua, parecer uma garota de 14 anos, à disposição dos onanistas e das paredes de borracharia. E arremata, com uma sinceridade constrangedora: "Os homens vão gostar."
Sem perceber, a ex-modelo (que em seu tempo também se promoveu às custas da nudez) joga em nossa cara uma verdade daquelas que não se diz nos almoços em família, na presença das senhôuras de bem: muitos homens (eu não me atreveria a estimar um percentual) têm fetiche por transar com meninas jovens, de preferência muito jovens. Para uns tantos, impúberes. Passe o tempo que passar, a figura da "Lolita" continua povoando o imaginário masculino como um prazer que você deve se permitir em algum momento de sua vida.
Mas o mundo mudou e hoje a palavra pedofilia provoca calafrios nas espinhas. Mas isso é mais um conceito. O mundo não mudou a ponto de ser contido o impulso desses homens, sobretudo quando endinheirados, de dar vazão a sua necessidade de estar no controle, perante uma mulher que não os ameace física, intelectual ou psicologicamente. Afinal, essa é a explicação para a pedofilia, não é? O cara é tão escroto e sem auto-estima que, para se realizar, precisa relacionar-se com uma pessoa passível de subjugação. Lastimável. E mais lastimável ainda quando a sociedade continua reproduzindo esses vícios, sem ao menos perceber o que está fazendo.
De quebra, reforça a tese de que as mulheres são as grandes culpadas pelo machismo no mundo. Se isso é verdade ou não, ignoro. Mas Monique Evans e sua filha não ajudaram a desmentir.

5 comentários:

Frederico Guerreiro disse...

Yúdice, não nos esqueçamos de que ser 'modelo' é eufemismo para outra famosa e antiga profissão. Não é o caso de Monique Evans, é claro, que conquistou fama e dinheiro com suas qualidades intelectuais e sua formidável bagagem cultural?

Anônimo disse...

Perfeito seu comentário Yúdice.Você expôs de maneira brilhante o comportamento hipócrita da sociedade brasileira que finge se escandalizar diante de um fato tão deprimente quanto a pedofilia.

Ana Miranda disse...

Fiquei sem palavras, não dá para comentar uma mãe dizer: "Parece uma menina de 14 anos, não parece maior de idade. Os homens vão gostar.", nas fotos da filha nua. Affffffffffffff...

Triste...

autor disse...

Caro Yúdice,

a fala dessa sra. me recordou uma fala do Padre Paulo Ricardo que dizia, falando sobre o caso bíblico do filho pródigo, que o filho pródigo, ao se ver brigando com os porcos por comida, caiu em si e resolver voltar pra casa, arrependido. Porém, continuou o Padre, o que se vê hoje é que a pessoa, ao se ver dividindo a lavagem com os porcos, não apenas não se arrepende, como se orgulha disso.

A mãe - ao invés de alertar a filha para a situação a que está se expondo: mercantilizando seu corpo e aviltando a sua dignidade - não só elogia, como incentiva a "carreira" da menina.

Ou estamos numa grave crise de valores, ou talvez eu seja muito quadrado mesmo...

Yúdice Andrade disse...

Eu nem queria chegar a isso, Fred, mas é claro que pensei a respeito. Será que a menina precisará fazer o mesmo tipo de carreira? E o que significa esse papo de a mãe ensiná-la a ter "postura", para que as pessoas saibam diferenciar seu "trabalho" de sua vida pessoal?

Grato, das 18h42. O grande mote da questão é justamente essa hipocrisia que você destacou.

Ana, o que pensará uma mãe dessas? Mas sei lá, vai ver que a técnica deu certo para ela, em algum sentido, então "natural" que ela recomende à filha. Mesmo assim, continuo achando triste.

Muito interessante a tua analogia, Victor. Presumo que somos, ambos, extremamente quadrados. Quadrados com as arestas bem duras.