quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Em Capitão Poço

Capitão Poço é um Município do Nordeste paraense com pouco mais de 50 mil habitantes, a aproximadamente 210 Km da capital. De colonização predominante nordestina, o que se percebe pelo sotaque local, acabou de completar 50 anos de fundação.

Tenho vagas lembranças de Capitão Poço, pois uma pessoa de minha família morou na localidade de Boca Nova, pertencente ao Município, e eu a visitei algumas vezes nas férias, nos tempos de minha infância. Recordo-me, portanto, mais do povoado do que da cidade em si, particularmente do outrora caudaloso Rio Guamá (fui revê-lo, no mesmo ponto, vários anos depois, e estava terrivelmente açoreado), onde tomei muitos e demorados banhos e quase morri afogado (além de quase afogar meu irmão). Em certo ano, todos os dias cruzamos a ponte de madeira, sob intensa neblina, para ir a um sítio tomar leite fresquíssimo: da teta da vaca direto para o copo. Apesar de isso ser totalmente desrecomendado, nunca nos provocou uma diarreia sequer!

Vim ontem para cá porque minha esposa veio ministrar o primeiro módulo de um curso e eu, como bom marido que sou, não podia deixar que viesse sozinha a um lugar que lhe é desconhecido e com limitadas opções de serviços. Enquanto ela trabalha, estou aqui no hotel olhando o tempo passar, tentando ler, quem sabe trabalhar um pouco e, agora, blogar. Mas há um problema elétrico aqui e estou levando choquinhos quando toco em certas partes do notebook, por isso digito com cuidados adicionais.

A viagem rodoviária foi tranquila. Nesta região do Estado, as estradas são razoáveis. Veem-se raros buracos, alguns fundos e perigosos, sem dúvida, mas são tão poucos que não oferecem maior perigo. O grande perigo, de fato, é que nos trechos onde há povoados foram construídas lombadas que não possuem o menor indício de sinalização. Você é simplesmente surpreendido por elas e, se não reduzir a tempo, pode acabar se envolvendo em um acidente. Refiro-me sobretudo ao trecho entre Irituia e Capitão Poço.

Aliás, sinalização é mesmo um problema crônico. As estradas paraenses desconhecem o que é sinalização. Placas, só mesmo na região metropolitana de Belém. Depois, vá com Deus. Depois que deixei a BR-316 à altura do Município de Santa Maria do Pará, fui guiado somente pelas lembranças e pelo bom senso. Nenhuma placa, meu amigo. Nenhuma. Não é exagero meu.

A cidade aqui é típica do interior paraense: carente de tudo. Até que o número de ruas pavimentadas, com asfalto ou cimento, é maior do que pensei, mas não se engane: a maior parte dos caminhos está mesmo na piçarra. O meio de transporte predominante, claro, são as motocicletas, onde se equilibram facilmente três pessoas, frequentemente crianças, todas sem capacete. Não vi ninguém de capacete até agora. E são imprudentes no modo de pilotar. Ainda há pouco, uma cidadã avançou a preferencial na minha frente e, logo em seguida, um cidadão me ultrapassou tão do nada que, se eu movesse a direção ligeiramente para o lado, causaria um acidente.

Lazer, por estas bandas, só para quem gosta de ficar à toa na praça ou beber em qualquer bar. Volta e meia pode ocorrer uma festa popular, daquele jeitão paraense que eu tô passando. Há uns igarapés nos arredores, que dizem ser bons, e a alguns quilômetros, no Município de Ourém, a famosa cachoeira onde fizeram um hotel. Pode até ser famosa, mas nada tem de especial. Nem bonita é. Estive lá em 2004 e nada vi de interessante. Segundo soube, o atendimento ineficiente não mudou. Eis a razão de ficar morgando, aqui no hotel, que me oferece refrigeração e acesso à Internet.

Outra dificuldade importante é alimentação. A cidade possui apenas restaurantes simplórios, alguns tão simplórios que, definitivamente, podem me criticar, dispensei só de olhar. Não tenho mais estômago de adolescente; uma manobra errada na cozinha pode me trazer consequências desagradáveis. Rodamos um pouco à procura de um estabelecimento mais confiável e achamos um, com as suas fragilidades, que nos serviu uma comida decente, se bem que no meu caso excessivamente condimentada (tenho certeza que o frasco de cominho virou acidentalmente em cima da carne).

Quanto à hospedagem, o melhor hotel é este aqui, o New Tokyo, na avenida principal, a 29 de Dezembro. Isto não é um jabá. Se fosse, eu não escreveria que o melhor hotel da cidade é apenas e tão somente decente. Não venha com expectativas.

No mais, ficou claro que Capitão Poço é uma cidade polo, que aglutina serviços para a região. Estou bem ao lado de uma agência do Banco do Brasil que seria grande mesmo na capital. Vi um escritório do INCRA e sei que muita gente vem resolver suas questões aqui. Deve ser bem (mais) sofrida a vida de quem está nos arredores.

Forneço estas informações para o caso de alguém precisar porque, para variar, você pode encontrar de um tudo na Internet, mas não informações seguras sobre o Estado do Pará. Aliás, em se tratando do interior, você não encontra nem as inseguras. Não encontra nada. Um acinte.

Tinha muita esperança de voltar para casa ainda hoje, mesmo ciente de que faria metade da viagem à noite, o que não me agrada. Mas quis aplicar o raciocínio de quem vai para casa não se molha com um quem vai para casa não se acidenta nem é assaltado. Mas o tempo fechou e cai uma chuva fina, porém com cara de persistente, neste exato momento. Mesmo se eu quisesse insistir, d. Polyana não vai topar. Então vamos ficando por aqui até amanhã de manhã.

5 comentários:

Anônimo disse...

Na semana que passou uma tal de "Autrabel" reuniu meia dúzia associados, sei lá de onde, e resolveram eleger a CELPA como “melhor empresa de serviços público da região metropolitana de Belém”. Jesus - Maria - José! Essa foi o fim da picada! Como uma empresa que vive aviltando os usuários com tarifas que mais parecem um assalto, constantes quedas de energia, uma estrutura sucateada e um sistema de atendimento que faz qualquer “zen” sair do sério, de tão avacalhada, pode ser considerada exemplo de eficiência?! Fala sério! E ainda vem o Diário (do Jader) do Pará soltar notinha paga dessa fuleiragem.
O governo jatene tem de parar com essa ganância do ICMS nas contas dos pequenos e lascados consumidores, enquanto os mega industriais levam energia de Tucuruí a preço de banana.
E o falsário duciomar, fazer valer a taxa de iluminação pública cobrada e tirar a cidade da escuridão, pois basta ir lá no bairro da Brasília no outeiro ou no "bengola" pra constatar tal abandono.

Yúdice Andrade disse...

Endosso a sua crítica, sem dúvida.

Anônimo disse...

É amigo, tudo verdade o q vc falou sobre a minha cidade, mas ainda faltaram algumas coisas: o abastecimento de água é extremamente precário e o ensino superior público se resume basicamente ao curso de agronomia da UFRA e os "cursos" da PAFOR... Parabéns pois vc soube expor a realidade sem ofender ninguém

Yúdice Andrade disse...

O objetivo não era e jamais seria ofender, das 10h50. Pelo contrário. Fico muito aflito com a carência do nosso interior. Tudo lhes falta, até o mais elementar - como você destacou, p. ex. abastecimento de água. "Protegido" no hotel, não tomei conhecimento disso.
Pergunto-me como será a rede médica por aí, como funciona a emergência (vi o Hospital do Povo e conheço o proprietário), se as farmácias são bem abastecidas. E mesmo no quesito lazer, é triste que os cidadão não tenham um cinema, não vejam uma peça de teatro, nunca tenham ido a uma exposição, etc. Isso embota o desenvolvimento das pessoas, que poderiam fazer mais coisas se tivessem oportunidades.
Tudo isso me deixa triste e com uma raiva renovada dos nossos políticos. Quem são os medalhões da política dessa região? O que fizeram por vocês?
Um abraço.

Frederico Guerreiro disse...

Yúdice, tente, da próxima vez, ir direto pela BR-316 e pegar o acesso a Ourém, em Quatro Bocas. Acho que seria mais rápido. E a estrada também está boa.