terça-feira, 18 de junho de 2013

Deu no New York Times


Rá! A despeito do pouco caso habitual da imprensa nacional com a nossa cidade, fomos nominalmente citados pelo New York Times em matéria intitulada "Milhares se reúnem para protestar nas maiores cidades brasileiras".

Sim, eu me recordo que não gosto desses ufanismos bobos, mas acho que vale a pena sentir orgulho de sermos a capital onde não houve confusão durante a manifestação. O criminalista Salo de Carvalho, autor do Antiblog de Criminologia (dentre outros feitos), noticiou em seu perfil no Facebook, ontem, que a Polícia Militar disparou balas de borracha contra a população que caminhava ordeiramente. Isso foi lá. Aqui, os organizadores da passeata conclamaram o cumprimento do acordo com as autoridades e repeliram com veemência as tentativas de partidarização.

Honestamente, emociona-me ver algo assim acontecendo e, particularmente, os próprios manifestantes dando parabéns à Polícia Militar pela forma como se conduziu. O povo e a polícia, antagonistas tradicionais neste país, dando mostras de civilidade e cooperação. E as pessoas em casa, nos prédios, aplaudindo a passagem do povaréu. Isso dá esperança, sabe?

Foto de Antônio Cícero / Estadão Conteúdo (obtida na web)

Para quem ainda se pergunta, alguns com boa dose de desdém, sobre o que era o protesto, afinal de contas (muita gente está considerando tolice protestar contra o BRT justamente agora que as obras foram retomadas, em habitual falta de conhecimento do mundo ao redor), o protesto era sobre... a pauta que você quisesse. Oficialmente, criticava-se a situação do BRT e se pedia passe livre nos transportes públicos. Mas de um modo geral, por todo o país, o tema transversal mais visível é a indignação contra os desmandos. O povo está protestando contra os péssimos serviços públicos, contra a carência de infraestrutura, contra a corrupção, contra a copa do mundo, contra Belo Monte, contra o oportunismo político (daí a rejeição expressa a manifestações partidárias), etc.

Sua escola está sem aula? Vá para a rua. Sua rua está esburacada? Vá para a rua. Os impostos são elevados demais? Vá para a rua. O vizinho bateu na esposa e a polícia não ajudou? Vá para a rua. E por aí vai. A meu ver, é justamente isso que torna essa onda nacional tão fascinante: ela ser tão difusa quanto aos objetivos e tão convicta quanto à motivação. Ela é, portanto, acima de tudo, uma demonstração radical às autoridades: estamos cansados.

Foto: Gil Sóter / G1 PA (obtida na web)

É provável que ainda demore um pouco para o povo descobrir o que fazer com a irresignação. Aprender cidadania e espírito democrático não é simples. Leva tempo e exige esforços, mas a maior parte de nossa história nos levou para o lado exposto. Por isso, estamos sendo alfabetizados. À medida que o nível educacional do povo cresce, a paciência diminui. Esse é o caminho.

Há um futuro, portanto.

6 comentários:

André Uliana disse...

E vale ressaltar que, além de não haver confusão, tivemos uma das maiores manifestações do país.

Segundo informações do G1, ficamos atrás apenas de Rio, São Paulo e Belo Horizonte, o que já era de se esperar, e ao lado de Curitiba e Porto Alegre, com cerca de 10.000 participantes. Sem contar que fomos a única cidade da região norte a participar.

Parabéns a todos que contribuíram de alguma forma.

Anônimo disse...

Yudice, vem pra rua.

Yúdice Andrade disse...

Grato pelo oportuno adendo, André. Depois desta postagem fiquei sabendo que o idiota do Alexandre Hercovitch se queixou, no Twitter, de que no Norte e Nordeste ninguém protesta. Debiloide. O mundo da moda corroeu os neurônios que tinha. Depois alguém informou a bola fora e ele apagou a postagem esdrúxula.

Fase final de correção de provas, das 9h54. Na próxima semana, estarei em condições de ir para a rua.

André Uliana disse...

E quem é Alexandre Hercovitch? Nunca tinha nem ouvido falar.




Alê G. disse...

Que lindo :)
Agora sim, dá um orgulho de ser brasileiro, não por tudo de errado que tem no lugar que o Brasil está, mas por agora, finalmente, botarmos pra fora.
Enfim, chegou nosso espírito primaveril.

Yúdice Andrade disse...

Não estás perdendo nada, André. Só estás fora da moda, assim como eu!

Sempre poetisa, Alessandra. Esse "espírito primaveril" foi encantador. E que olho expressivo!