segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Censura e bobagem pela Porta dos Fundos

O canal Porta dos Fundos, maior sucesso da internet brasileira (se considerado o número de acessos e de seguidores em seu tempo de existência; não sei se há outro critério), está novamente sob o olhar dos censores.

Em abril deste ano, o divertido (e a meu ver até inocente) vídeo "Homens" - em que um homem, interpretado pelo ótimo Marcos Veras, não consegue identificar sua esposa entre mulheres completamente diferentes; uma boneca inflável, inclusive - foi sumariamente retirado do ar pelo YouTube, retornando posteriormente com a classificação "impróprio para alguns usuários" e exigência de login para visualização. Uma completa asneira, porque outros vídeos não sofreram idêntica agressão, mesmo sendo muito mais contundentes ou explícitos, seja no conteúdo ou na linguagem. Mas o YouTube tem essa obsessão por ser quase uma Santa Missa em seu Lar que irrita. O filme em questão brincava com os clichês femininos sobre falta de reconhecimento por seus companheiros e por isso mesmo me pareceu uma grande brincadeira, sem nada ofensivo.


Em maio, um serventuário de justiça de 34 anos representou à Promotoria de Justiça de Defesa dos Direitos do Consumidor (oi?) do Distrito Federal, pedindo que o vídeo "Rola" fosse retirado do ar por seu conteúdo ofensivo (atentatório à moral e aos bons costumes, apelativo e um perigo para crianças), porém aberto a qualquer faixa etária. Neste, o balconista de uma lanchonete (Rafael Infante) surpreende uma cliente ao lhe oferecer uma rola e, diante de sua perplexidade, explica que "não tem mistério", fazendo gestos de significado evidente e usando linguagem direta ("cheia de veia, cabeça larga"). O esquete é, realmente, forte para almas sensíveis, que bem fariam se usassem a internet para visitar apenas sites de coisas fofinhas.


A bola da vez é o vídeo de hoje, "Oh, meu Deus!", em que a graciosa Clarice Falcão interpreta uma mulher em consulta ginecológica, sendo que o médico enxerga em seus genitais uma imagem de Jesus. A consequência é uma verdadeira peregrinação em torno das vergonhas da moça, com direito a oração, velas e cantos de igreja. Um prato cheio para irritar religiosos com os nervos à flor da pele.


O problema é que quem tomou a dianteira da campanha para retirar do ar o vídeo, que classificou como "podre", foi ninguém menos que o deputado federal e pastor Marco Feliciano, que está mais acostumado a figurar como alvo de protestos e não como queixoso. Naturalmente, ele contará com a assistência de seus muitos fieis, mas em que pese o esquete ser de gosto bastante duvidoso (nem eu gostei muito), duvido que o controverso pastor conseguirá mais do que dar publicidade ao trabalho dos humoristas e lhes aumentar a audiência, que já é fabulosa.

Renunciando explicitamente, graças a Deus, ao politicamente correto, o canal Porta dos Fundos vem-se firmando como importante capítulo da vida artística nacional, goste você disso ou não. Mas trabalhando com humor, é óbvio que incomodarão muita gente. Afinal, como já dizia alguém que não consigo lembrar quem, não se pode alcançar o sucesso sem chutar algumas bundas. Principalmente quando os donos das bundas fazem questão de colocá-las na direção de um petardo que, muitas vezes, não lhes era destinado.

Feliciano, a vida não é a porra do teu Toddynho gelado! (Adoro esta frase. Ela é pura poesia para mim.)

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