sexta-feira, 2 de agosto de 2013

"Se fosse um homem de bem, teria morrido"

A frase acima faz parte da literatura espírita e chancela o aforismo popular de que vaso ruim não quebra. Sabemos que não é assim. Na verdade, a questão é de percepção: se você tem aversão a certa pessoa e quer se livrar dela, quanto mais ela dura, mais você se incomoda, o que não implica, todavia, que sua malvadeza lhe tenha ampliado a longevidade.

Veja-se o caso de José Sarney, internado novamente desde ontem e que foi transferido para a UTI, devido a uma pneumonia. É claro que os comentários às notícias publicadas na Internet estão permeados de intenso humor negro, quando não são perversos, mesmo. Isto me fez pensar sobre o significado de desejar a morte de alguém. Minha esposa, por exemplo, me critica se faço isso. Mas não podemos esquecer, de saída, que sou espírita, por convicção. Logo, não encaro a morte como um fim, nem sequer como punição. Numa abordagem rasa e pragmática, é apenas uma forma de retirar alguém da posição em que se encontra; eventualmente, isso significa impedi-la de prosseguir fazendo o mal que tem feito.

Para quem segue alguma religião, a morte provavelmente aparece como um modo de fazer o indivíduo responder por seus atos, sofrer as consequências que construiu ao longo de sua trajetória. Não nos compete fazer nenhum justiçamento: Deus, a Força Superior ou O Que Quer Que Seja cuidará disso. Para nós, espíritas, funcionará a lei de causa e efeito. E a vida seguirá aqui neste plano.

Não há como negar que Sarney se tornou um ícone daquilo que se despreza na política. Está há décadas envolvido com ela, ligou-se a setores obscuros de nossa história e, depois de uma lamentável passagem pela presidência da República (tão somente por causa da morte de Tancredo Neves), aboletou-se no Congresso Nacional e ali, migrando o domicílio eleitoral do Maranhão para o Amapá, tem-se eternizado em funções de comando, sem que nada de bom saia de suas mãos. Até quando, finalmente, deixou a presidência do Senado, pôs em seu lugar Renan Calheiros, que também dispensa apresentações.

A morte de Sarney traria algum benefício para o Brasil? Ou talvez para o Maranhão? Acho que sim, embora o benefício provavelmente seja mais simbólico do que prático. Olhei os nomes dos suplentes. Parece que o primeiro já morreu e o segundo, que assumiria, já foi governador do Amapá e tem uma relação antiga e suspeita com Sarney. Por desconhecimento, prefiro não tecer maiores comentários. Mas a experiência tem demonstrado que os suplentes conseguem ser tão ruins quanto os titulares, só com menos capilaridade eleitoral.

A maior diferença, talvez, resida no fato de que desaparece o articulador, a raposa velha que conhece todas as mumunhas, todos os personagens, sabe os podres de todo mundo, consegue o que quer com base na força de seu nome ou currículo (algumas vezes, prontuário), etc. Pode fazer muita diferença, mormente em um partido que dá voos tão altos na República.

Em suma, não desejo o mal de Sarney. Apenas ficaria muito feliz se ele atravessasse o Grande Portal e fosse acertar suas contas com a única Justiça que nunca falha, embora suas sentenças não sejam conhecidas do grande público. No mais, de alma lavada, devo dizer que, caso Sarney morra mesmo (convém não alimentar grandes esperanças), ainda haverá todo o resto da família. E todo o PMDB.

5 comentários:

Anônimo disse...

Sem querer "causar", apenas acrescento que restarão também os eleitores do Sarney. Um bom agosto!
Anna

Anônimo disse...

Eu ficaria muito feliz se ele atravessasse o Portal da Papuda, e lá penasse por uns 518 anos, no mínimo. E a filha governadora e o genro bem poderiam lhe fazer companhia, além de toda a sua caterva, Lobão, Renan, Gilvan, etc, etc.

Acho que essas pragas têm um pacto com o demo, pois não tem jeito de largarem o osso e as tetas da viúva.

Kenneth Fleming

Maíra Barros de Souza disse...

Yúdice, tive exatamente essa conversa com meu namorado, que me criticou por ter feito uma piada em relação ao desencarne do Sarney. Disse mais ou menos o que você falou aqui: não é desejar o mal, é apenas desejar que uma pessoa aparentemente inalcançável pela justiça terrana, possa ir para algum lugar que nos cause menos mal e possa, quem sabe, evoluir um pouco. Não desejo o mal, mas honestamente, não lamentarei esse desencarne. Se dissesse o contrário estaria mentindo. Isso pode mostrar alguma pequeneza de espírito minha, mas, por ora, é o que tenho.
Abração!

Anônimo disse...

Quanto ao desencarne ou não do Sarney, nem me meto nessa seara. O que desejo, é que a cadeira de nº 38 da Academina Brasileira de Letras, tenha, em breve, novo ocupante.

A seguir, trecho final do discurso de posse do Sarney na ABL, ainda nos idos de 1980, com a presença do presidente(minúsculo mesmo)João Baptista Figueiredo :

Afrânio Peixoto dizia que um acadêmico são dois discursos. Um, que ele ouve no dia da posse; outro, que não ouvirá mais, na sua sucessão, já nos domínios da morte.

Agora, vou ouvir aquele que ouvirei, o único dos dois.

Antes de partir me chegam vozes e sons. Ouço as matracas do bumba-meu-boi, das madrugadas de minha terra. Elas anunciam o instante da despedida. A voz do cantador pede licença:

Adeus, eu já vou embora.
É chegada a hora de me despedir.
Assim como o dia se despede da noite,
Eu me despeço de ti.
São as últimas encantorias que ficarão na lembrança deste instante.
Esta é uma alegria que não murcha.

Kenneth Fleming

Yúdice Andrade disse...

Mas os eleitores são os responsáveis, Anna. Exceto aqueles que votam por ignorância e por cabresto, o que no caso do Sarney devem ser muitos.

Nossa felicidade seria compartilhada, Kenneth. Sonho que a morte desse camarada possa desarticular um pouco o PMDB, partido que tem causado tantos males ao nosso país.

Será mesmo que os nossos espíritos é que são pequenos, Maíra? Será?