sábado, 31 de agosto de 2013

Um erro histórico, 49 anos depois

Existem algumas instituições ou empresas que demoram muito para reconhecer os seus erros. A Igreja Católica, p. ex., levou 500 anos para pedir perdão a Galileu Galilei pela humilhação a que o submeteu, e pelos riscos que o fez correr, embora nada disso possa diminuir os prejuízos causados ao desenvolvimento da ciência. Certamente, muitos estudiosos tiveram medo de prosseguir em suas pesquisas, sabendo que uma fogueira lhes podia ser acesa. Que o diga Giordano Bruno, para quem nenhum perdão foi pedido até hoje.

E as Organizações Globo surpreenderam o país, às 17 horas da tarde de hoje, por meio de uma publicação na qual reconhecem que apoiar o golpe militar de 1964 foi um erro do jornal O Globo. Leia aqui.

É particularmente curioso observar que essa súbita honestidade pública não adveio do nada, e sim passa a ser contada como mais um dos efeitos diretos dos protestos que agitaram o país em junho deste ano. O editorial é direto: “Desde as manifestações de junho, um coro voltou às ruas: 'A verdade é dura, a Globo apoiou a ditadura'. De fato, trata-se de uma verdade, e, também de fato, de uma verdade dura.” Mais adiante, uma declaração de mal estar: “A lembrança é sempre um incômodo para o jornal, mas não há como refutá-la. É História.”

Claro que a Globo minimiza os seus atos. Primeiro, divide a culpa com outras empresas de comunicação. Depois, recorre ao cenário geopolítico internacional, caracterizado pela Guerra Fria, para explicar por que teria chegado ao ponto de encarar o golpe militar como a única alternativa para resguardar a nação. Inexiste, é claro, qualquer alusão a outros interesses que possam ter motivado a adesão. E a grande acusação que paira contra a Globo, mais do que apoiar o regime de exceção, é de sempre chamegar com quem esteja no poder, custe o que custar.

Mas também não podemos esperar que tudo venha à tona de uma vez, com uma coragem que as pessoas, muitas vezes, só demonstram quando estão no leito de morte. Foi como li em algum lugar: a verdade é como a luz; precisa ser acesa gradualmente, do contrário ofusca. Ou uma verdade nua pode escandalizar as pessoas, mas vestida sempre encanta.

Agora é ver quais serão as consequências do editorial, não apenas para o modo como a sociedade brasileira enxerga as Organizações Globo, mas inclusive para a percepção da tragédia que foram as décadas de truculência comandadas pelos militares. Começa pelo uso do termo "revolução", que a Globo passa a admitir que não era correto. Será que, após dar sustentação midiática a uma tal revolução, agora aquela empresa vai trabalhar pelo resgate da verdade?

4 comentários:

Anônimo disse...

Mas a Globo foi produto do regime militar... Roberto Marinho assumiu com essa condição de apoiar o regime, legitimar o golpe, Repórter Esso etc, etc.
Uma empresa de comunicação sempre pende para o lado de onde tira seu sustento. Quando foi Collor, apoiou Collor. Quando foi FHC, apoiou FHC. Quando Lula, apoiou Lula. Dilma, apoiou e apoiará porque, pelo seu tamanho paquidérmico, só lhe resta estar submetido à força do poder econômico do estado e tirar disso o sustento da empresa. A propaganda é o principal produto de uma empresa de comunicação e o maior interesse dos governos.

Abraço
Fred

Anônimo disse...

Como eu sei que este blog é um blog de respeito, lido pelas mais tradicionais famílias paraenses, cearenses, paulistas, parisienses, novaiorquinas e outras mundo afora, não posso gritar o motivo real da confissão de O GLOBO :

" quem tem .... tem medo!!!!"

Kenneth

Anônimo disse...

Ah, não tem réplica, num brinco mais...

Yúdice Andrade disse...

Não entendi, das 17h11. Você esperava alguma réplica minha aos comentários acima?