Meu irmão, quase cinco anos mais velho do que eu, quando aprendia algo interessante na escola ou nos muitos livros que lia, vinha logo me contar. Foi assim que aprendi muitas coisas e acabei tomando gosto por ser, eu mesmo, um leitor ávido e um curioso da ciência. Foi assim que aprendi, ainda na infância, que elefantes são seres gregários; eles se esforçam pelo bem estar da manada e não deixam ninguém para trás. Eventualmente, se um deles morre, alguém lhe guarda. Pesquisadores da psicologia já se dedicaram a estudar o luto dos elefantes.
Não sei se o turista John Chaney e seus companheiros sabiam disso quando avistaram esta cena, fotografada pelo primeiro. Segundo a descrição do fotógrafo, esta aliá* se manteve por longo tempo junto ao corpo de um companheiro, morto há dias. Imóvel, permaneceu com a tromba enrolada na presa do cadáver, deixando mais evidente a sua intenção.
O fato de ser um comportamento previsível do reino animal não retira a capacidade de emocionar. Inevitavelmente, faz-nos pensar na natureza humana. Nós, ditos seres máximos da criação, que frequentemente nos comportamos de modo menos humano do que os bichos. Sei que isso é um grande clichê, mas também é uma grande verdade.
Um detalhe: vendo a imagem, o que mais me chamou a atenção foi a hiena, à direita, que pela postura parece estar bem quieta. Hienas são animais carnívoros, mas para não entrar em confronto com rivais mais poderosos, costumam alimentar-se de carniça, comendo os restos deixados por outros animais. Como perdem o melhor da festa, seu sistema digestivo é capaz de digerir até mesmo ossos, de modo que do repasto das hienas pode não sobrar literalmente nada.
E o que essa hiena está fazendo em nossa poética cena? Comungando da saudade? Claro que não. Está esperando a oportunidade de matar a fome. Não o faz, entretanto, porque o poderoso animal, que passa facilmente das quatro toneladas, segue no local, vigilante. Bastaria um golpe da probóscide, que é basicamente um amontoado de músculos, para fazê-la voar dali, de novo literalmente. A cena retrata, portanto, a linha tênue entre o senso de compromisso e a destruição do que restou.
Realmente, é uma imagem riquíssima em significados e sensações, para nós, supostamente humanos.
* Você sabia que este é um dos nomes possíveis para a fêmea do elefante? A palavra "elefoa", que parece um erro grosseiro, também está certa, assim como "elefanta", que não uso para não ser molestado pela legião dos inimigos da "presidenta". Na verdade, gosto mesmo é de "aliá". É diferente, nada convencional.
Um comentário:
Li na gramática no Sacconi, que Aliá é um espécie de animal de porte inferior ao do elefante, existente apenas no antigo Ceilão, hoje Sri Lanka, e que Elefante não cruza com Aliá.. então não seria a fêmea. Valeu
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