Na sexta-feira, uma pessoa de minhas relações me mostrou três fotografias do piloto acidentado na última sexta, aqui em Belém. Estranhei aquilo e perguntei como ela tivera acesso às imagens - por sinal terríveis. Disse-me que uma amiga havia enviado, sem maiores detalhes. Dava para perceber que as fotos haviam sido retiradas já no hospital, onde se supõe que o paciente teria direito à privacidade e a alguma dignidade. Um engano redondo.
Posteriormente, via Facebook, li comentário irritado de um amigo, queixando-se da ampla divulgação de fotos das vítimas do acidente. Reclamava que, pelas imagens, era possível perceber enfermeiras fazendo os registros, quando deviam se ocupar apenas de dar conforto e atendimento aos pacientes. Àquela altura, eu já havia comentado na casa de minha mãe sobre o assunto e ela me respondeu que também já vira as imagens, exibidas por meu primo de 16 anos. Ou seja, a coisa está correndo como rastilho de pólvora por aí. Dá para piorar? Claro que dá!
Acabei de ler na coluna Repórter Diário, edição de hoje, que na sexta-feira a redação daquele jornal começou a receber inúmeros telefonemas oferecendo fotos das vítimas. Para venda! Atitude semelhante teve um funcionário do Hospital Metropolitano.
Deus do céu! Parece que a humanidade pegou o acesso errado em Albuquerque! Dobrou para o lado errado. Quanto mais o tempo passa, mais crueis e odiosas ficam as pessoas, o que não as impede, entretanto, de reclamar cada vez mais direitos e respeito para si mesmas. A lógica do locupletamento está atingindo níveis inimagináveis, já que agora contaminou cada ser humano.
Repugnante.
Se um dia eu tiver que morrer num desastre, espero que haja uma grande explosão e não sobre nada para o festim das bestas!
3 comentários:
Oi, Yúdice!
Tb recebemos a foto, via grupo de whats app, de uma amiga. Agimos com indignação e acabamos passando por chatas. Faz parte.
Mas realmente me pergunto: a crueldade das pessoas é maior agora, mesmo? Se olharmos para trás, veremos que a humanidade sempre foi sedenta pelo horror, pelo sangue... As tragédias sempre tiveram grandes platéias, a meu ver.
Hj a internet potencializa tudo, seja o bom, seja o ruim, e ainda ñ encontramos a melhor forma de lidar com isso, por se tratar de uma ferramenta recente, historicamente falando.
Ao menos é o que acho.
Contudo, sendo maior ou não, não deixa de ser estarrecedor esse interesse cruel.
Beijo grande!
Professor, qual a razão de terem sido ofertadas as repugnantes imagens ? Ora, quem ofertou é leitor do caderno policial do referido diário, e pelas capas cotidianas do periódico que está habituado a ver, entendeu ter um produto adequado à "linha editorial" do jornal.
Rita, querida, a crueldade faz parte da natureza humana, pela competitividade inerente à espécie. Mas se pensarmos no que ocorria na Antiguidade e na Idade Média, p. ex., podemos dizer que os antigos e medievos eram mais violentos do que nós? Não necessariamente.
A violência - inclusive quando excessiva - era o modo normal de solução de conflitos, porque não se conheciam outros recursos. Salvo breves rudimentos localizados, não havia conciliação, diplomacia e até mesmo a visão de futuro era limitada, já que as pessoas pouco passavam dos 40, 50 anos.
O que me leva a falar que a humanidade piorou nos últimos anos é que, hoje, existem alternativas e elas são conhecidas. Pensemos num exemplo fácil: antes, torturar um suspeito era um caminho plausível. Hoje, quando posso testar DNA, fios de cabelo, impressões digitais, não faz sentido torturar. Se o faço, é por conveniência. Então acho que isso faz de mim uma pessoa pior do que os meus predecessores.
Outro aspecto que destaco é que, com os recursos tecnológicos, todos viraram testemunhas, documentadores, juízes e censores. Não somos mais meros espectadores passivos; um cara comum, gravando um vídeo na rua com o seu celular, pode até mesmo mudar o rumo de uma investigação. E as pessoas estão usando essa capacidade para o mal.
É isso que me tem apavorado.
Abraços aí. Fico feliz que tenham ficado do lado do bem.
Verdade, Ramon: o produto era adequado à linha editorial. Mas se o jornal merece um repto por isso, ainda se justifica o horror de pensar que, agora, qualquer cidadão comum deseja se locupletar dessa linha. A coisa se transforma, assim, num grande convescote de abutres.
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