sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Notícias que vão mudar o mundo — 13ª edição

Só que esta pode mudar o mundo, mesmo:

"Hugo Chávez é o quinto homem mais sexy da Venezuela."

Fora das universidades, muita gente tem dinheiro para gastar com pesquisa. Esta foi bancada pela Federação de Câmaras e Associações de Comércio e Produção da Venezuela e ouviu 14.123 pessoas, em 3.170 cidades. Realmente, o universo tem todo o interesse em saber quem é sexy na Venezuela. Eu, p. ex., não dormia há seis meses pensando nisso. O biótipo indígena sulamericano — a tez morena, os olhinhos puxados — fazem o maior sucesso mundo afora, certo? Basta ver quantos modelos internacionais possuem essas características.
Minha grande preocupação agora é se o impagável Chávez vai iniciar a terceira guerra mundial por conta desse resultado desfavorável. Afinal, ele está armando o país. Que se cuidem o ator e apresentador Winston Vallenilla (este principalmente, por ser o mais sexy e por trabalhar na RCTV, aquela que perdeu a concessão do governo), o apresentador Daniel Sarcos e os atores Juan Carlos García e Ricardo Alamo. Afinal, há um modo muito fácil de Chávez passar a ser o número 1.

Música no tribunal

Neste exato momento, um sexteto formado por servidores do Tribunal de Justiça do Estado do Pará está dando um show no saguão do prédio anexo ao Palácio Lauro Sodré. Samba da melhor qualidade, com direito a Ave Maria na versão cavaquinho, consagrada por Jorge Aragão, muitíssimo bem executada, tanto que eu pensei ser uma gravação e só depois percebi que era uma interpretação ao vivo. E agora começou o carimbó.
Trata-se do Programa de Qualidade de Vida do Judiciário, que está realizando a Semana do Servidor. Nos últimos dias, serviços médicos e de orientação à saúde, como informações nutricionais, além de massoterapia e acupuntura, ocorreram nas dependências do tribunal. Mas hoje fomos surpreendidos com essa música deliciosa, que está pondo gente para dançar dentro dos gabinetes.
Excelente iniciativa, que quebra a sisudez árida dos ambientes judiciários por um ambiente alegre e de confraternização. Parabéns a quem teve a iniciativa e aos músicos. Espero que eventos assim ocorram com mais frequência. Eu mesmo, aqui dentro da minha sala, já me sinto mais animado e satisfeito. Um ótimo dia a todos.

Procurar uma pena justa

Mesmo estando muito cansado, pode-se dizer há semanas, amanhã, sábado, levantarei cedo da minha cama e irei ministrar uma aula extra para duas turmas, às 8h30. Tenho um bom motivo para isso. O tema da aula será dosimetria, nome que se dá ao procedimento que o juiz criminal faz para impor ao réu uma pena, quando decide condená-lo.
Embora a dosimetria seja obviamente obrigatória em todos os casos em que haja condenação, daí não resulta, na prática, a conclusão a que logicamente se poderia chegar: a de que os juízes sabem calcular a pena. Muito pelo contrário. As sentenças que vejo são tecnicamente incorretas, lacônicas (vício de fundamentação), repletas de especulações e valorações moralistas do magistrado (o Direito não existe para impor moral a ninguém), frequentemente omissas sobre fatos averiguados nos autos e, em geral, mal redigidas — sim, inclusive quanto ao vernáculo.
Para ser bem honesto, em dez anos como profissional do Direito, oito como professor de Direito Penal e quatro trabalhando no Tribunal de Justiça, raríssimas vezes vi sentenças decentes (note o adjetivo escolhido). Com tristeza, devo admitir que algumas das melhores que li foram produzidas em outros Estados do país, que costumam ser apontados nos meios jurídicos como mais avançados em questões jurídicas. Da produção paroara, lembro-me de uma única vez ter dito que a sentença estava muito bem elaborada. Algumas, que eram sentenças razoáveis (decentes). No geral, são ruins, quando não péssimas. Muitas, medíocres.
Para esclarecer minhas críticas, além do que mencionei acima, cito alguns erros técnicos gravíssimos e muito frequentes nas sentenças:

1. Na análise da circunstância judicial culpabilidade, falar em "intensidade do dolo" ou em "grau da culpa", posto que dolo e culpa pertencem ao âmbito do fato típico e não da culpabilidade — pelo menos desde a reforma penal de 1984. Não saber isso mostra que o juiz está desatualizado ou, pior, que ignora conceitos essenciais, trazidos pela teoria finalista da ação, que sucedeu a teoria causalista, já abandonada.

2. Aceitar como antecedentes criminais registros policiais pendentes, inquéritos ou ações penais em andamento, dentre outros, quando somente as condenações penais definitivas (fora dos casos de reincidência) podem gerar antecedentes.

3. Confundir antecedentes com reincidência.

4. Fazer especulações cretinas sobre a personalidade e a conduta social, tais como "a personalidade do réu é antissocial" (sem esclarecimentos) ou "o réu é voltado à criminalidade" (porque cometeu um delito, justamente o objeto da condenação).

5. Desvalorar duas vezes, ou nos momentos incorretos, circunstâncias executivas do crime ou a sua motivação.

6. Aumentar a pena com base em consequências óbvias, tais como aumentá-la, no homicídio, porque a vítima morreu! Ou no roubo, porque a vítima sofreu prejuízo econômico. É uma das coisas mais imbecis que se poderia fazer mas, acredite, acontece com frequência.

Se eu for desfiar o rosário, corro o risco de ficar horas escrevendo, então paro aqui.
Peço que compreendam que, ao dizer isso, não quero ser arrogante nem ofender ninguém. É a aflição de um estudioso do Direito Penal que move meus dedos sobre o teclado, neste instante. E é por isso que faço questão absoluta de ministrar essa aula específica sobre dosimetria, em pleno sábado. Se, dessas dezenas de alunos, uns dez conseguirem assimilar a questão e tomá-la como algo a ser cultivado, terá valido a pena. Para que o futuro da rotina forense-criminal seja um pouco melhor do que é agora.
É preciso que os profissionais da área aprendam e esse é o meu papel. Aquilo que consegui aprender amanhã será compartilhado. Espero que renda frutos.

Acréscimo em 10.11.2007, às 22h42:
PS — E a aula foi bem legal.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Nível judicial

A vítima de um suposto estelionato requer a sua admissão ao processo, na condição de assistente de acusação. O Ministério Público se manifesta contrariamente, por entender que a figura do assistente é inconstitucional. O juiz, porém, acata o pedido, dando um show de fundamentação:

Defero o pedido de admissão de assistência do Ministério Público, muito embora este Órgão tenha manifestado contrário, mas no caso em tela não vejo como negar.

Decisão primorosa, não? Se a Língua Portuguesa sofre com o "defero", a obrigação constitucional do juiz, de fundamentar toda e qualquer decisão, vem com essa de "não vejo como negar". Então tá. Da próxima vez que for pedir algo a alguém, já sabe: é só dizer que você não vê como o seu pedido possa ser negado. Simples assim.

Nível parlamentar

O deputado federal paraense Gerson Peres, de múltiplos mandatos, durante debates na Câmara Federal sobre a regulamentação da prostituição, saiu-se com esta: "A mulher dá porque quer dar."
Alto nível o do debate. Mas para dizer isso não precisa ser deputado. Basta ser bronco. A assertiva até que cai bem numa roda de amigos jocosos, mas no Congresso Nacional?
Se bem que, pensando melhor, lá é o ambiente mais adequado para se discutir o tema em questão. Afinal, as mães são sagradas.

Software bloqueia estupidez em comentários nos blogs

"É hora de contra-atacar: sofremos em silêncio por muito tempo sob a tirania da idiotice."

É assim que os criadores do site Stupid Filter descrevem o projeto no qual trabalham. Trata-se de uma ferramenta que, como o nome já denuncia, filtra comentários considerados estúpidos, não permitindo que cheguem ao blog e incomodem o moderador. Maravilhoso, não? Infelizmente, por enquanto o programa tem propriedades muito limitadas, que se baseiam, p. ex., na repetição de letras ou em erros vernaculares graves. Não há meios de filtrar intenções estúpidas, num texto corretamente redigido. Que pena.
Em fase de testes, o programa deve ganhar uma versão para testes abertos em dezembro. Infelizmente, só em inglês. Nada para português ou para o nefasto miguxês. Mas bem que poderiam criar no filtro uma opção para identificar o excesso de letras "x" e mandar a mensagem para o olho da lixeira. Para saber mais, clique aqui.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Indenização por "vício adquirido"

Parece coisa de Estados Unidos, mas aconteceu ontem no Brasil. Rélvia Braga Bittencourt decidiu processar a empresa de cigarros Souza Cruz alegando que, aos 12 anos de idade, começou a fumar, seduzida pela publicidade que, sabidamente, sempre associou o tabagismo a glamour, sucesso, sofisticação e beleza. Tendo adquirido o vício, com ele vieram tantas doenças que a queixosa chegou a ter uma perna amputada.
Ontem, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais, acatando o voto do desembargador Elpídio Donizetti Nunes, agora meu ídolo, assegurou uma indenização de 200 mil reais, alegando que a indústria tabagista conhece os malefícios do cigarro desde a década de 50, porém omitiu informações vitais à população, para garantir as vendas. Exatamente o mesmo que se vê no excelente filme O informante (dirigido por Michael Mann, EUA, 1999).
Esta postagem se baseia numa notícia da imprensa. Acessei o sítio do Tribunal de Justiça mineiro, mas ainda não havia nenhuma notícia disponível. Assim que souber mais sobre o caso, informo.

Acréscimo em 4.10.2011
Demorou, mas aqui está: o acórdão proferido neste caso pode ser encontrado no link http://www.tjmg.jus.br/juridico/jt_/inteiro_teor.jsp?tipoTribunal=1&comrCodigo=24&ano=1&txt_processo=38251&complemento=1&sequencial=0&palavrasConsulta=&todas=&expressao=&qualquer=&sem=&radical=

Lei do Oeste no Pará

Jamais gostei de filmes de faroeste — que me perdoem os fãs de Sérgio Leoni. Não tinha a menor paciência para, sequer, começar a ver. Agastava-me aquela coisa de cowboys e índios, com a preponderância dos primeiros, numa indisfarçável ideologia colonialista — mentalidade que começou a mudar em 1991, quando Kevin Costner filmou Dança com Lobos e mostrou o outro lado, com muita humanidade.
Todavia, ficou o conceito de lei do Oeste, para indicar o que seria mais exatamente um estado de anomia, a falta de leis de Direito, que acabava gerando a lei do mais forte, do mais armado ou do mais insano como sendo o meio para solução dos problemas. Havia um desenho a que assistia na infância, embora não me recorde agora o nome, em que um personagem tinha como bordão "É a leeeeeeeeeeei do Oeste!"
O bang bang se instalou no Brasil faz tempo. Aqui, a lógica dos criminosos — matar ou morrer; não tenho nada a perder — tem explicado boa parte das barbaridades a que assistimos, de que tomamos conhecimento e que tanto nos angustiam. Agora, mais uma demonstração.
Em 28 de julho, nosso amigo Eduardo Lauande foi baleado durante um assalto realizado por dois jovens, falecendo dois dias depois. Ontem à noite, um dos acusados do crime, Max Delean Gomes de Souza, o "Mascote", foi executado, sem que se conheça o autor do delito (um motoqueiro de capacete) ou os seus motivos. Cumpriu-se a lei do Oeste: "Mascote" matou e depois morreu. No final das contas, duas vidas desperdiçadas — uma produtiva, outra que poderia tê-lo sido. Não há nada a comemorar.
A morte de "Mascote" tem características de vingança ou acerto de contas, como prefere dizer a polícia. Afinal, enquanto a vítima conversava com um conhecido, passou o motoqueiro e, sem nada dizer, sem parar o veículo, disparou cinco vezes (queria ter certeza de sucesso). Seguiu seu rumo, sem molestar o outro rapaz. Portanto, sua ação tinha endereço certo.
Especulando, creio que um dos possíveis motivos dessa execução tem a ver com a banalização da criminalidade. "Mascote" morava naquela região e, segundo dizem, cometia assaltos por ali. Participou do assalto a Lauande e sua esposa, mas não se afastou. Uma professora da escola pública do Conjunto Médici I declarou que a polícia não prendia os dois porque não queria, pois ela os tinha visto num campo de futebol das redondezas. Depois a dupla foi presa no Guamá, assaltando. "Mascote" recobrou a liberdade e voltou para casa. Foi morto perto de casa, perto de onde caiu Lauande. Sua desenvoltura na sede de seus delitos, como se nada tivesse acontecido, deve ter indignado muita gente. Afinal, tem sempre alguém olhando. Então alguém se cansou dele. Isso se não for uma vítima mais direta.
Recuso-me taxativamente ao discurso de tudo-bem-se-quem-morreu-foi-bandido. Defender os chamados justiceiros (odeio a expressão, porque isso nada tem a ver com justiça) é, no mínimo, fazer concessões ao suicídio. Uma espécie de suicídio social. Que mundo é este, em que o talião parece revigorado e é encarado como um avanço?
Max Delean certamente tinha mãe. Hoje, ela chora a morte de seu filho. Acredito honestamente que sua dor mereça respeito. Definitivamente, não podemos viver de velório em velório.

Atualizado em 8.11.2007:
Do Repórter Diário de hoje:

Avesso da paz
A morte do adolescente Max Delean Gomes de Souza, o “Mascote”, acusado de envolvimento no assassinato do sociólogo Eduardo Lauande, em julho passado, suscitou vários telefonemas de felicitações à família Lauande. Nenhuma dessas manifestações foi bem recebida pelos familiares do sociólogo. Integrantes do Movimento “Lauande Vive”, eles defendem a idéia de uma cultura de paz e não-violência e lamentam a morte do adolescente. O movimento não quer mortes; luta por segurança e justiça.

Tem gente sem noção, mesmo. Telefonar para a família Lauande a fim de parabenizá-los pelo ocorrido é, no mínimo, desconhecer por completo o ideário do Eduardo, que se tenta preservar por meio do movimento "Lauande Vive". Ratifico o que disse ontem: não há o que comemorar.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Quer um desses?

O menino sai de casa, toma dois ônibus e se dirige ao aeroporto de sua cidade. Ali, sem ter um só documento, mas munido de muita astúcia, mistura-se aos passageiros e tem acesso à sala de embarque. Escorregadio, consegue entrar na aeronave e chega à maior cidade do país, onde poderá viver muitas aventuras.
Está pensando que isso é o roteiro de mais uma comediazinha débil mental sobre moleques demoníacos que sempre se dão bem? Errado. Trata-se de uma história verídica, somente agora divulgada. O fato se deu em 18 de outubro último e o artista viajou de Cuiabá para São Paulo.
De quebra, meteu os pais numa bela enrascada, a ser explicada perante o Conselho Tutelar.
Quem também vai ter que se explicar são a INFRAERO e a Gol, já que ambas falharam ridiculamente em seus mais comezinhos procedimentos de segurança. Se um garoto de 11 anos consegue entrar num avião e efetivamente viajar sem que ninguém o incomode, o que impedirá alguém de passar com um canivete ou, quem sabe, um explosivo? Mais munição para a crise aérea...
Perdoem-me os pedagogos e psicólogos, mas esse moleque está merecendo umas palmadinhas evangélicas.

Procure o Carlos

Há muito tempo, fui com amigos ao restaurante Famiglia Trattoria, na Tv. Benjamim Constant, ponto onde funcionou o saudoso As Bruxas. Foi uma daquelas noites complicadas, onde todos saíram insatisfeitos. A comida demorou, veio pouca e ruinzinha. Risquei o endereço da minha agenda.
Um longo tempo se passou e comecei a escutar recomendações para ir até lá. Resisti. Um dia, porém, tantas eram as experiências bem sucedidas que me narravam, que resolvi experimentar. Não sei o que mudou no restaurante ao longo do tempo; só sei que a mudança foi grande e altamente positiva. O Famiglia, agora, está na minha lista de preferências.
Em menos de dois meses, estive três vezes lá, sempre atendido pelo garçon Carlos, que provavelmente é uma das receitas do sucesso do local. Mais do que educado e atencioso, Carlos parece analisar o perfil do cliente e tenta sugerir um prato que acerte no alvo. Comigo, acertou. Nas três oportunidades, larguei o cardápio e aceitei as sugestões que me fez: primeiro, um salmão; depois, um bacalhau; por fim, um linguado. Segundo Carlos, um prato retirado do cardápio e dois testes. Ele já sabe como me agradar.
Para completar, você pode modificar os pratos, trocando as guarnições, e isso simplesmente não acrescenta em nada o valor. Ou seja, o restaurante mima o freguês e não cobra por isso. Além de que os pratos são bem servidos: mesmo um sujeito disposto come bem e sai bastante satisfeito.
Estou na fase do enamoramento. Já penso na próxima oportunidade em que poderei saborear as iguarias do Famiglia Trattoria. Experimente.

O tempo dela está chegando

A meteorologia já avisou: em 2007 tem La Niña, portanto podemos esperar muita água nas próximas semanas, especialmente na nossa estação habitualmente chuvosa. Vai ser cada gota do tamanho de uma jaca! Naturalmente, isso obriga a uma série de cuidados, a começar por não jogar lixo que possa acabar nos bueiros, entupindo-os e piorando a tendência natural que Belém possui de ir para o fundo com apenas cinco minutos de chuva forte.
Dentre as diversas providências que devem ser tomadas por nós, cidadãos, individualmente, uma merece atenção para a hora da chuva propriamente dita: cuidados com a condução de veículos.

Clique aqui para conhecer as sugestões de especialistas para dirigir sob chuva, especialmente você que pretende pegar a estrada no feriado do próximo dia 15, enforcando a sexta-feira.
Todo cuidado é pouco. Afinal, apesar da intensa campanha midiática, os acidentes continuam aumentando em quantidade e gravidade. A famosa guerra do trânsito brasileiro, que mata por ano mais do que uma guerra do Iraque, continua em plena atividade.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Caridade de final de ano

Mesmo para quem, como eu, evita visões romanceadas do mundo, existe de fato algo que se pode chamar de espírito natalino. Constata-se por uma certa gentileza nas pessoas em geral, num tom acima do usual, posto que a secura no trato é bem mais frequente. Constata-se, principalmente, na iniciativa de várias pessoas em fazer doações aos necessitados, aspecto que me parece um dos mais bonitos do Natal.
Logo no começo do primeiro governo Lula, conversando com um amigo que há anos auxilia uma instituição benemerente, creio que no PAAR, ouvi dele que não pretendia fazer nenhuma doação ao Fome Zero. Economista, explicou-me que se perde um dinheiro enorme nos meandros da burocracia, por meio da criação de secretarias, pagamento de salários, infraestrutura, água, luz, telefone e o escambau. Concluiu dizendo que sua decisão estava tomada: iria à dita instituição perguntar de que eles precisavam. Um fogão, uma geladeira, algo assim. Então ele compraria e mandaria entregar lá. Com isso, ele tem a garantia de que 100% da doação serão empregados exclusivamente nos fins que ele quer ajudar, sem perdas, sem locupletamento, sem desvios.
Tive que dar razão ao amigo. Naturalmente, não recomendo que se abandonem completamente os programas caritativos de maior vulto, vinculados a instituições públicas ou privadas. Sugiro, apenas, que se tome um cuidado adicional com a destinação dada aos recursos doados. Não estou falando de corrupção ou safadezas em geral, mas de perdas inevitáveis, tais como uso de parte do montante doado para pagamento de pessoal ou contratação de transporte.
Pessoalmente, prefiro fazer como meu amigo. Se você quiser ajudar alguém e também almeja 100% de segurança, escolha uma instituição e a visite pessoalmente. Saiba como pode ajudar e defina um meio que seja útil, sem lhe causar ônus desnecessários. E não perca a oportunidade de conhecer o trabalho em si e seus beneficiários. Converse com o público atendido, leve o seu abraço, a sua solidariedade, o seu sorriso.
Asseguro-lhe que essa é a melhor parte.

Mérito a reconhecer

Fui compelido a abrir uma conta no Banco do Estado do Pará em 1997. Com alegria, deixei de me relacionar com essa instituição no ano 2000. Digo alegria porque era uma relação conflituosa e por demais insatisfatória para mim. O pior episódio desse período foi quando me afanaram uma folha de cheque e efetuaram um saque, felizmente de valor baixo, a demonstrar a condição simplória da pessoa que me lesou. Ocorre que a pessoa em questão falsificou minha assinatura com tamanha inidoneidade que, a olho nu, até um recém-nascido saberia tratar-se de uma falsificação grosseira, considerando a cópia que me foi fornecida. Mesmo assim, a gerente me informou que, para eu ser ressarcido, precisaria escrever uma carta circunstanciada à superintendência e, num espaço de 90 dias, eu teria uma "posição". Obviamente, como bom brasileiro, deixei de lado e suportei o prejuízo. Não pagava a pena me estressar com o caso.

Em 2003, precisei retornar às hostes do BANPARÁ. Furioso, claro, mas novamente não tive escolha. Amarguei meus dissabores, a começar por não existirem caixas eletrônicos fora das agências ou de instituições públicas — estas, indisponíveis fora do expediente, especialmente nos finais de semana e feriados. De 2005 a 2006, num espaço de 5 meses, precisei trocar o cartão magnético nada menos do que 6 vezes, porque ele sempre estragava em menos de uma semana. Quantas vezes fui ao aeroporto tentar sacar dinheiro e encontrei o caixa em manutenção, sem dinheiro ou sem opção de saque.

Sou forçado a reconhecer, contudo, que os tempos são outros. A começar pelo fato de que estou usando o mesmo cartão há meses. Agora, além de novas agências, há caixas eletrônicos próprios em vários supermercados, inclusive pela rede 24 Horas, em todo o país. Finalmente, posso viajar sem precisar fazer uma transferência entre minhas contas. A civilização está chegando.

Acredito que a mudança seja o efeito de alguns anos de trabalho. Acima de tudo, deve-se mudar a mentalidade medíocre por outra, de eficiência e qualidade. Como usuário, sinto-me no dever de fazer justiça. Ainda há muito a melhorar, mas estamos indo bem. Graças a Deus.

Conceito de "leseira"

Bom dia.
Esqueçam o dicionário. O que se segue é uma impressão estritamente pessoal minha, arbitrária no sentido mais puro da palavra.

Leseira
s.f. Reg. (N e NE) 1. Qualidade daquilo que é leso, sem noção, irrefletido; patetice, palermice. 2. Capacidade de fazer merda por distração ou despreocupação consigo, com terceiros ou com o ambiente. Frequentemente, causa danos a terceiros inocentes.

Para mim, já deu. Não vejo a hora de 2007 terminar.

domingo, 4 de novembro de 2007

Eu e os bonecos do Brasil

Desfile dos mamulengos de 4 metros de altura


Daqui a duas semanas, quando o projeto SESI Bonecos do Brasil chegar a Macapá, terá percorrido todo o país num esforço de divulgar e, através disso, preservar elementos da verdadeira cultura nacional de raiz. O foco é mostrar o valor desses artistas, tais como os mestres mamulengueiros, espalhados pelo país afora, gente simples, que vai levando sua arte do jeito que pode e, em alguns momentos e locais, como no carnaval de Olinda, consegue um momento de glória.
O evento aberto ontem, no Hangar, e que termina hoje, com programação sempre a partir das 17 horas, serve para mostrar o trabalho de grupos que fazem trabalho com bonecos no Brasil, alguns com carreira internacional. No programa, artistas de Pernambuco, Rio Grande do Sul, São Paulo e Pará, dentre outros. O espetáculo de abertura, por sinal, foi da Companhia In Bust Teatro com Bonecos, que particularmente adoro. Eles apresentaram o espetáculo inspirado nos pássaros juninos, típicos daqui, A peleja da Princesa Mariana e sua ave Garça Dourada contra a Rainha Valéria de Marambaia e a Bruxa do Mal. Maravilhoso.
O público, claro, atendeu ao convite e o Hangar encheu. Daí se precisa chegar a uma constatação chata, porém verdadeira: eventos desse tipo precisam ser mais bem preparados. Quando cheguei ao local, com minha família, quase uma hora antes da abertura, deparamo-nos com umas 200 cadeiras, mais ou menos, em frente aos palcos principais. Obviamente, um nada. Àquela altura, já estavam todas ocupadas — senão com pessoas, com bolsas, pois todo vagabundo antissocial entende que tem o direito de guardar lugar para quem vai chegar depois, em detrimento de quem já está lá, inclusive minha mãe e seu esporão calcâneo.
Quando a peça começou, o excesso de barulho abafava as vozes dos atores, apesar de o sistema de som ser aparentemente bom. Ou seja, realmente precisamos que as peças sejam exibidas em locais com acústica adequada, sob pena de o público não aproveitar o espetáculo e de não se fazer justiça aos artistas.
Mas valeu. Peço a Deus que mais iniciativas desse tipo surjam e cheguem até aqui. Foi um domingo diferente e bem legal. Aí ao lado, eu fingindo manipular um tocador de rabeca.

sábado, 3 de novembro de 2007

Esfinge

Após noticiar que uns félas estão surrupiando os vegetais plantados no canteiro central da Av. Duque de Caxias — o que não surpreende, considerando que essas plantas são fáceis de vender —, a coluna Repórter 70 de hoje me sai com esta frase enigmática:

AliásÉ melhor roubar planta do que dinheiros públicos.

Estou tentando, mas ainda não consegui entender o que o jornal quis dizer com isso. Não mesmo.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

A 1000

Passado um ano, dois meses e dois dias desde que me sentei à frente de um computador e cliquei no botão "Criar um blog", lá se vão 1000 postagens. Esta é a milésima, número esse que inclui seis textos que, após um tempo de exibição, foram suprimidos e agora existem apenas em meu acervo pessoal. Mas, enfim, posso dizer, sem hipérboles, que mil coisas me passaram pela cabeça.
Mil bobagens, mil pensamentos sérios, mil devaneios. Eu, que sempre sonhei em ser escritor, mas não realizei o sonho, acabei escrevendo de fato e alguém leu. Alguém tomou conhecimento dessas ideias, alguém se manifestou. Alguém foi solidário, alguém me fez pensar por outro viés. Alguém enriqueceu o que eu sabia ou me informou coisas de que jamas ouvira falar. Também me criticaram e me disseram coisas feias. E sobre essas feiúras eu falei rindo com minha psicóloga. As ofensas chegaram com anos de atraso. Agora só me atinge o que eu acho que tem um fundo de verdade. Agora eu sei por que as pessoas agridem.
O Arbítrio do Yúdice surgiu sobre o fio da navalha. Podia ter durado o tempo de uma empolgação, mas resistiu além disso. Fui ficando, graças a pessoas tão especiais que conheci através da blogosfera. Por isso permaneço, contabilizando postagens, bobagens, idéias, devaneios, comentários e amigos. Ainda acordo de manhã me perguntando: "sobre o que postarei hoje?"
Mil textos já são muita coisa. Acho que algo de mim, de um jeito ou de outro, ficará. Espero que estejam gostando, como eu. Muitos abraços. Deus nos abençoe.

Aí, capitalistas: cultura dá dinheiro!

O Sesi Teatro de Bonecos do Brasil, que vai se apresentar amanhã e domingo, no Hangar, deve atingir, com o público de Belém, mais de um milhão de espectadores desde que iniciou sua turnê pelo país. Com isso, é candidato a entrar no livro dos recordes como o maior evento de bonecos do mundo. Para se ter uma idéia da graciosidade do espetáculo, a estrutura leva três dias para ser montada, 10 horas para ser desmontada e gera aproximadamente 900 empregos diretos. (Repórter Diário, hoje)

900 empregos diretos! Ainda que temporários, isso é excelente, pois permite a pessoas viverem de seu trabalho, honestamente. Há um salário e isso injeta recursos na economia, fazendo a circulação da riqueza. O que falta, então, para os capitalistas selvagens investirem mais em eventos culturais? Lucram eles, o público e os trabalhadores.
Além disso, Belém é uma cidade sequiosa de cultura. Apesar das extremas concessões à mediocridade que se veem no âmbito "musical", o povo sempre responde aos eventos, quando existem. Todo Arrastão do Pavulagem é acompanhado por uma procissão. Todo ano as comunidades se empenham em participar do concurso de quadrilhas juninas. O Auto do Círio lota. Faltou ingresso para o Circuito Cultural Banco do Brasil. Todo ano temos um festival de música erudita e outro de ópera, além do concurso de canto, e todos estão sempre cheios e considerados de alto nível pela crítica, em âmbito nacional. Já temos até um incipiente festival de cinema, além da mostra de curtas e do Anima Mundi. Tudo sempre cheio.
Então alguém vai me dizer que não há público para cultura? Fala sério! É investir e ver a coisa acontecer!

Festival de bonecos, eu vou!!

Com ou sem dia de finados

Ao contrário dos textos anteriores, o poema que se segue não versa sobre o dia de finados, especificamente, mas menciona uma possível visita ao túmulo de uma pessoa amada, vista pela ótica de quem morreu! É um de meus sonetos favoritos, que leva às últimas conseqüências os delírios do amor romântico — aquele capaz de vencer a morte.

O coração que bate neste peito,
E que bate por ti unicamente,
O coração, outrora independente,
Hoje humilde, cativo e satisfeito;

Quando eu cair, enfim, morto e desfeito,
Quando a hora soar lugubremente
Do repouso final, — tranqüilo e crente
Irá sonhar no derradeiro leito.

E quando um dia fores comovida
— Branca visão que entre os sepulcros erra —
Visitar minha fúnebre guarida,

O coração, que toda em si te encerra,
Sentindo-te chegar, mulher querida,
Palpitará de amor dentro da terra.


Luís Caetano Pereira Guimarães Júnior nasceu no Rio de Janeiro, em 17 de fevereiro de 1845. Foi poeta, romancista e teatrólogo, tendo se abeberado no Romantismo e no Parnasianismo. Também atuou como diplomata, exercendo suas funções em Santiago, Roma e Lisboa, onde morreu em 30 de maio de 1898, tendo lá se fixado após sua aposentadoria. Foi um dos dez membros eleitos para completar o quadro de fundadores da Academia Brasileira de Letras, onde criou a Cadeira n. 31, que tem como patrono o poeta Pedro Luís.

Dia de finados — Jorge Luís Borges

Que o mármore temerário não arrisque
ruidosas transgressões ao poder do esquecimento,
enumerando com prolixidade
o nome, a opinião, os factos , a pátria.
Tantos enfeites pertencem às trevas
E que o mármore não diga o que calam os homens.
O essencial da vida fenecida
— a trémula esperança, o milagre implacável da dor e o assombro do gozo —
irá perdurar sempre.


Às cegas reclama duração a alma arbitrária
quando a tem assegurada em vidas alheias,
quando tu próprio és o espelho e a réplica
dos que não atingiram o teu tempo
e outros serão (e são) a tua imortalidade na terra.




Jorge Luís Borges Acevedo nasceu em Buenos Aires em 24 de agosto de 1899. A catarata o deixou praticamente cego, o que o fazia referir-se a sua condição como "um lento crepúsculo que já dura mais de meio século". Faleceu em Genebra em 14 de junho de 1986. Deixou, entre outras publicações, 15 livros de poesia, 6 de contos e mais 10 ensaios.