sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Dia de finados — Jorge Luís Borges

Que o mármore temerário não arrisque
ruidosas transgressões ao poder do esquecimento,
enumerando com prolixidade
o nome, a opinião, os factos , a pátria.
Tantos enfeites pertencem às trevas
E que o mármore não diga o que calam os homens.
O essencial da vida fenecida
— a trémula esperança, o milagre implacável da dor e o assombro do gozo —
irá perdurar sempre.


Às cegas reclama duração a alma arbitrária
quando a tem assegurada em vidas alheias,
quando tu próprio és o espelho e a réplica
dos que não atingiram o teu tempo
e outros serão (e são) a tua imortalidade na terra.




Jorge Luís Borges Acevedo nasceu em Buenos Aires em 24 de agosto de 1899. A catarata o deixou praticamente cego, o que o fazia referir-se a sua condição como "um lento crepúsculo que já dura mais de meio século". Faleceu em Genebra em 14 de junho de 1986. Deixou, entre outras publicações, 15 livros de poesia, 6 de contos e mais 10 ensaios.

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