Há mais de uma década, quando era voluntário no Hospital Ophir Loyola, junto ao setor de oncologia infantil, eu e meu grupo resolvemos conhecer outros setores onde também houvesse crianças internadas. Passamos por uma ala onde havia crianças queimadas, algumas internadas há vários meses e sem previsão de alta. Vi uma menina que havia caído numa carvoeira e perdido tanta massa muscular em uma das pernas que o membro, após umas tantas cirurgias para enxertar tecido, cicatrizara torta, formando um "v". Ou seja, andar normalmente, jamais.
Já estando adaptado quanto possível à rotina de mortes provocadas pelo câncer, essa visita me afetou profundamente. Cheguei em casa, onde tínhamos duas crianças, implorando que tomassem cuidado com elas, no sentido de prevenir acidentes com fogo e afins.
Esta manhã, nos meus curtos minutos de jornal antes do trabalho, assistia a uma matéria sobre o setor de queimados do Hospital Metropolitano. Fiquei sabendo que mais de 60% dos pacientes atendidos são crianças (muitas bem pequenas). Este ano, já foram 468 casos — um horror, especialmente porque não se trata de queimaduras leves, mas de lesões seríssimas, que poderiam inclusive ter levado à morte. Sobrevivendo a vítima, as sequelas são medonhas.
Para completar, a maioria das vítimas vêm do interior, o que explica acidentes de certo modo inconcebíveis, como o da criança de 3 anos que caiu num buraco onde queimavam lixo. Isso implica na grande demora para que recebam atendimento adequado, em Belém, pois seus locais de origem são completamente desprovidos de condições de tratamento.
Louve-se, por isso, a iniciativa do hospital, de fazer uma campanha de conscientização para as famílias. Mas com ou sem campanha, pelo amor de Deus, cuidado com as suas crianças.
2 comentários:
É Yudice, o hospital faz campanha para prevenção, porém este mesmo hospital, em relação a criança que caiu no buraco onde queimavam lixo, foi de primeira mão rejeitada no hospital por problemas burocráticos.
Isto não pode acontecer.
Eu soube desse incidente, Ana Paula. Infelizmente, no mesmo espaço de uma repartição pública, há os que trabalham engajadamente e os que não pensam, não estão nem aí. A falta de informação não serve de justificativa. Primeiro, porque os profissionais que recusaram o paciente, num primeiro momento, têm o dever de se informar. Segundo, e mais importante, porque o senso de humanidade revela que deveriam ter-se preocupado em arranjar uma rápida solução para o impasse, já que um ser humano estava sofrendo.
A criança em questão está lá no Metropolitano e é mencionada na reportagem.
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