segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Santarém africanizada

O jornal O Liberal de hoje publica pequena matéria acerca de um sítio português, que teria comparado a nossa Santarém ao continente africano, em termos de degradação. Como o jornal em questão tem problemas de credibilidade e a Pérola do Tapajós é administrada pelo PT, o que daria motivos particulares para esculachos, resolvi conferir pessoalmente e acessei o Expresso, que é uma espécie de revista eletrônica. Após alguma garimpagem, finalmente consegui encontrar a matéria mencionada, cujo título é "Os parentes afastados da Amazônia".
Lendo-a, constata-se que O Liberal não inventou. Os termos da matéria são, de fato, contundentes. Santarém é ostensivamente chamada de "a África do Brasil" e, a certa altura, o texto vem desvastador:

A principal cidade do Oeste do Pará é um deslumbramento, quanto a enquadramento paisagístico. Mas, de tão degradada, fornece motivos que baste à tentação de a compararmos, por exemplo, a Freetown ou Conakry na África Ocidental. E se focarmos a atenção em Santarenzinho, o seu bairro maior dos subúrbios e onde vivem umas 35 mil pessoas, o mínimo que pode dizer-se é que mete medo.

O jornal local exagerou um pouco ao dizer que a matéria lusa não dispensa nem Alter-do-Chão. Na verdade, o que se diz é que os turistas preferem passar direto para aquela vila, em vez de permanecer na sede do Município.
Sendo casado com uma santarena, ainda por cima neta do Maestro Isoca, ícone daquelas plagas como músico, compositor e historiador, bem sei que os mocorongos de ufanam de si mesmos, de seu torrão natal, de sua história e de suas tradições. Muitas pessoas lá funcionam como historiadores empíricos, revelando uma cultura disseminada em preservar a própria história, o que merece elogios. Muito melhor do que aqui, onde o gosto parece ser destruir a memória local. O fato, contudo, é que certos santarenos levam longe até demais o direito de amar a própria terra. Gostaria muito de saber o que acharão da reportagem em tela. Aliás, será que o governo da cidade da gente vai se pronunciar?
Seja como for, é um alerta, para além-mar e muito, muito além do discursinho fajuto de estamos-revolucionando-o-turismo que há tempos se escuta por aqui — em vão.

2 comentários:

morenocris disse...

Yúdice, boa noite. Revirei o tal sítio português. É brincadeira comparar nossas cidades com as de Portugal. A matéria poderia ser direcionada ao que existe(belezas naturais), e não, ao que não existe(infraestrutura). Não podemos tapar o sol com a peneira, mas assim também não. Somos crianças diante da história da Europa. Castelos são hotéis. São vilas. A cidade de Bragança(imagine se eles fossem lá), é completamente diferente da de PT. Mas olhe, eles não têm o que nós temos. O nosso sol, calor, praias, natureza. Em Salvador existem bairros que você pensa que está em Lisboa.
Engraçado que se você estiver no Porto, não vai perceber diferenças nos meninos que ficam nas ruas. Se você estiver em Lisboa, o seu carro tem que estar super equipado com alarmes e bem guardados. O roubo se dá em um piscar de olhos. Então, eles não aproveitaram a viagem. Ver somente o negativo tira a beleza da beleza.

Boa noite.

Yúdice Andrade disse...

Ótimas as tuas ponderações, Cris. É preciso desmistificar um pouco a Europa, naquilo que merece críticas. Todavia, por mais que nos sintamos emocionalmente ávidos por defender a terrinha, somos forçados a reconhecer quando as críticas são procedentes. E muitas delas são.