quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Apagaram-se os holofotes

Nada como um crime rumoroso e um consequente julgamento espetaculoso para inflar egos em busca de autoafirmação. Eles podem ser identificados pela postura, pelo olhar, pela linguagem. Por mínimas coisas. Frases de efeito são obrigatórias. Alusões religiosas também. Ao final, o importante é demonstrar que se esteve do lado certo. No caso, do lado da justiça. Que, na realidade, tanto pode ser a justiça que condena como a que absolve.

Por sorte, a RBA fez uma cobertura em tempo real, que me permite tecer alguns comentários sem ser acusado de falar sem saber.

O resultado do julgamento foi o esperado: condenação e pena exemplar. Esperado e justo, dirá a maioria.

Agora os defensores dos réus podem recorrer. E, de quebra, alegar a suspeição do juiz presidente do tribunal do júri que, ao final da sessão, quis garantir também os seus 15 minutos. Aliás, falou mais do que isso. Um discurso emocionado e nada imparcial. Agradeceu a Deus e o mundo. Elogiou o promotor de justiça, que chamou os réus de "vagabundos" e outros impropérios — o que, por sinal, é proibido por lei e deveria ter sido coibido pelo juiz no ato. Solidarizou-se com o pai das vítimas, falando sobre o seu sofrimento.

Tudo bem, o Judiciário também pode ser palco de solidariedade. Mas há limites. O juiz precisa se mostrar isento não apenas até o bater do martelo, com o veredito. Sentimentos e opiniões não brotam subitamente, ao se ouvir a sentença. Aliás, no caso do juiz, ao lê-la. Os sentimentos e opiniões expressados naquele discurso, o magistrado já os tinha. Apenas os calou, mas acabou por revelá-los. Com que estado de espírito, então, presidiu o julgamento?

Quando as pessoas consideram algo natural, expõem-se sem pensar na significação de seus atos. E assim foi feita a justiça.

PS — Tenho grande respeito pelo advogado Roberto Lauria, por sinal também um respeitado professor. Mas filminho com imagens fofas das vítimas, com Canção da América ao fundo... Enfim, cumpriu bem a sua finalidade. A acusação nem precisou ir à réplica.

2 comentários:

Sergio Lopes disse...

Yúdice, muitos doutrinadores já disseram que o Tribunal do Jurí é igual a um teatro, onde destacam os atores que melhor interpretam os desejos mais intrinsecos da sociedade (plateia).
No Jurí referido, cumpriu-se fielmente tal pensamento, os componentes (magistrado, acusação e defesa) tiveram seus minutos de fama e saciaram o desejo da plateia.
O que vale realmente, é o fato de que os autores de tão odioso crime, tiveram a pena de que mereciam.
O Pior amigo é que a peça de teatro que você assitiu ainda não acabou, e o segundo ato parece que tera ingredientes mais fortes que o primeiro. Quando a cortina subir novamente, poderemos ter entre os componentes do espetáculo politicos tido como honestos, filhos de politicos tido como bem criados e muitos mais. Aguarde o proximo ato dessa opera Bufa.

Yúdice Andrade disse...

É, meu caro Sérgio, vamos esperar o próximo ato. Tenho uma curiosidade pessoal quanto ao prosseguimento do caso. Se, como foi prometido com especial dramaticidade pelo promotor de justiça, só Deus pode impedi-lo de levar os demais acusados a júri, como será o comportamento de nossas autoridades diante do filho do outrora semideus? Será o processo tão rápido quanto este foi? A imprensa demonizará os réus do mesmo jeito? Serão eles chamados de vagabundos? O juiz se dirigirá a eles com a mesma dureza?
Sim, meu caro, eu pago para ver. Mas já estou sentado.