sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Com ou sem dia de finados

Ao contrário dos textos anteriores, o poema que se segue não versa sobre o dia de finados, especificamente, mas menciona uma possível visita ao túmulo de uma pessoa amada, vista pela ótica de quem morreu! É um de meus sonetos favoritos, que leva às últimas conseqüências os delírios do amor romântico — aquele capaz de vencer a morte.

O coração que bate neste peito,
E que bate por ti unicamente,
O coração, outrora independente,
Hoje humilde, cativo e satisfeito;

Quando eu cair, enfim, morto e desfeito,
Quando a hora soar lugubremente
Do repouso final, — tranqüilo e crente
Irá sonhar no derradeiro leito.

E quando um dia fores comovida
— Branca visão que entre os sepulcros erra —
Visitar minha fúnebre guarida,

O coração, que toda em si te encerra,
Sentindo-te chegar, mulher querida,
Palpitará de amor dentro da terra.


Luís Caetano Pereira Guimarães Júnior nasceu no Rio de Janeiro, em 17 de fevereiro de 1845. Foi poeta, romancista e teatrólogo, tendo se abeberado no Romantismo e no Parnasianismo. Também atuou como diplomata, exercendo suas funções em Santiago, Roma e Lisboa, onde morreu em 30 de maio de 1898, tendo lá se fixado após sua aposentadoria. Foi um dos dez membros eleitos para completar o quadro de fundadores da Academia Brasileira de Letras, onde criou a Cadeira n. 31, que tem como patrono o poeta Pedro Luís.

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