sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Civilidade de geração para geração

Estacionei meu carro numa vaga de um dos supermercados da cidade. Enquanto descia, um veículo estacionou na vaga ao lado. Era conduzido por uma cidadã que conheço de vista, de algum lugar, embora minha memória ruim não me aponte de onde. Antes mesmo de saltar, ela atirou um objeto pela janela. Depois que tirei minha filha do carro, a cidadã e suas acompanhantes já se haviam afastado, observei que o objeto era um frasco vazio de iogurte.

Lamentando a falta de educação, juntei o frasco e o coloquei em cima do carro da infratora. Minha intenção era que percebesse o objeto e se desse conta do mau passo.

Quando retornei, a turma já tinha ido embora. E como se poderia esperar de uma legítima moradora de Belém do Pará, a capital mundial do egocentrismo, onde as pessoas se ufanam de sua incapacidade de viver em sociedade, a moça não entendeu o meu gesto e me "puniu", colocando lixo no meu carro: bandejas vazias de algo que fora comido, no teto, e uma caixinha de suco, no capô.

Juntei os restos e os levei para uma lixeira. Minha filha estava comigo e eu precisava mostrar a ela como pessoas de bem se comportam. Aliás, a simpática cidadã estava acompanhada por uma criança, que suponho seja sua filha. Imagino que vamos nos encontrar de novo, em algum momento. Nesse dia, eu lhe direi que ela foi muito eficiente em ensinar, àquela criança, como ser porca e incivilizada. Tomara que a menina não aprenda. Mas nada como um péssimo exemplo vindo de alguém que é uma das principais referências em nossas vidas para deformar o caráter, sinalizando para mais um adulto egoísta e agressivo no futuro, o tipo de pessoa de que não estamos precisando.

Belém é isso mesmo: o errado, o cretino, o canalha sempre é aquele que reclama do cigarro, do lixo, da fila dupla, do barulho, das calçadas obstruídas, etc. Quem gera essas situações sempre é o certo, o ofendido, aquele que tem o direito de reagir. Mas eu sigo fazendo o que acho certo.

Como diziam os antigos, a educação de casa vai à rua. E cada um mostra a que tem.

4 comentários:

Adelino Neto disse...

Sabe o que é mais curioso, Yúdice? É que sempre exaltam a "hospitalidade" do belenense nos textos que falam do Círio de Nazaré, do nosso turismo (turismo?) e culinária.
No meu entendimento, ser hospitaleiro vai muito além de hospedar visitantes de fora. Ser hospitaleiro é ser afável, cortês, amável, gentil - e isso tudo remete a ser educado. Sim, porque as ruas da cidade nada mais são do que as extensões de nossos lares.
Como eu vou receber bem, numa casa toda emporcalhada e cheia de gente grossa???

Anônimo disse...

Provavelmente essa senhora é a diretora de uma escola para formação de jovens delinquentes.

Anônimo disse...

Gente, eu acredito 100%. É bem cara da maioria das pessoas desta cidade. Quando desço o Brasil, fico muito triste pela nossa cidade ser tão imunda. Outro dia, vi uma pessoa jogar um coco do ônibus. Dá vontade de gritar! Sério mesmo!
Suellen Resende.

Yúdice Andrade disse...

Sempre dou um sorriso amargo quando escuto esse folclore, Adelino. Reconheço que os paraenses são simpáticos, porque gente simples. Mas há um lado obscuro que ganha força à medida que vamos nos tornando mais urbanos e endinheirados. Evolução às avessas.

Basta que ela crie um, das 19h19. O efeito de reprodução do mal é rápido e eficiente!

Suellen, anos atrás eu poderia ter sofrido um acidente por causa de um coco, atirado não de um ônibus, mas de uma Pajero. Está bom para ti?