terça-feira, 1 de outubro de 2013

Uma coisa puxa outra

Costumo dizer a meus alunos que não fiquem na superfície dos fatos; que procurem ir mais além.

Nesse horrendo caso da menina de 9 anos, que foi estuprada e morta na Rocinha, na madrugada do domingo, é muito fácil bradar contra os criminosos que, sim, claro, merecem toda a nossa repulsa e indignação. Mas se realmente quisermos proteger as nossas crianças e todos mais que amamos, devemos ponderar outros aspectos, que comparecem à reportagem (baseio-me nesta reportagem aqui).

Não sei em que horário aconteceu o crime nefando, mas o texto informa, de acordo com uma testemunha, que a criança foi levar um pedaço de bolo para a mãe, que se encontrava em um "birosca". No meio do trajeto havia um "beco escuro" e dali a menina não voltou mais. Que podemos inferir? Que a criança foi deixada por sua conta na festa, porque era perto de casa e havia outras crianças, então não havia perigo, certo? Errado, como os fatos o demonstram da pior maneira possível.

Não quero julgar os outros, muito menos ser palmatória do mundo, mas nunca deixaria minha filha sem supervisão direta e confiável, dentro da festa. Fora, ela sequer iria, ainda mais à noite. Muito menos passando por vielas escuras. Deveríamos ter o direito de andar tranquilos nas ruas, mas não é assim, então não podemos facilitar.

Todavia, a minha crítica não se dirige aos pais, que já estão sofrendo o pior dos tormentos. Minha crítica se dirige à polícia. Segundo os moradores, diz a reportagem, "os policiais da UPP não fazem mais patrulhamento nos becos da favela desde o desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo, há pouco mais de dois meses". No caso Amarildo, a polícia, que deveria ser pacificadora, é acusada de sequestrar e assassinar Amarildo de Souza, após ação que o abordou por suspeita de crimes. Na trajetória da Polícia Militar brasileira, mais do mesmo. Com o detalhe de as acusações de tortura e morte estarem se avolumando na era da Polícia Cidadã. Um deboche.

Não sei se a PM matou Amarildo, como todos parecem acreditar. Mas mesmo que seja inocente, a sua atitude de deixar de patrulhar as ruas criou um cenário favorável ao estuprador homicida que vitimou a pequena Roberta, deixando seu corpo a 50 metros da UPP. 50 metros!

A incapacidade histórica da polícia de inspirar confiança na população fez mais uma vítima. Uma família chora e nós outros prendemos a respiração.

2 comentários:

Ana Miranda disse...

Yúdice, reitero o que disse:

É por essa e por outras que você é meu ÍDOLO!!!!

Yúdice Andrade disse...

Você é gentil demais, Ana.