terça-feira, 7 de maio de 2013

Boas maneiras roqueiras

Dia desses encontrei lá por casa um livro que se dispõe a ensinar boas maneiras para as crianças, o que é um ótima ideia. Ocorre que quem ensina são as onipresentes e chatíssimas princesas da Disney, que ensinam, às meninas, virtudes sem perder de vista a futilidade.

Acho bom que Júlia leia o livro e já a vi, várias vezes, repetir conselhos que aprendeu nele. Mas não precisamos viver cercados pela ditadura dos fru-frus. Podemos encontrar outros referenciais. E eis que, não mais que de repente, deparo-me com uma reportagem que vem exatamente ao encontro da minha pretensão.

Ela trata do simpaticíssimo Rock para pequenos, escrito por Laura Macoriello, uma cabeleireira paulista formada em Letras e fã de rock. O ilustrador é Lucas Dutra.

Definido como "um livro ilustrado para futuros roqueiros", de cara traz uma vantagem: um livro das princesas tende a afastar meninos, por causa dos preconceitos sexistas que os adultos incutem na cabeça das crianças. O livro de Macoriello, entretanto, pode ser considerado "unissex", sem provocar aversão nos meninos, justamente os que mais precisam ser educados (por conta dos estereótipos em torno do que seria comportamento masculino)!

Outra vantagem é que, além de boas maneiras, o livro também sugere a importância de manter hábitos saudáveis, tais como beber água. Se bem que, neste caso, achei um pouco forçar a barra, porque ela cita como exemplo Janis Joplin, que eu sabia tomar muitas coisas, não necessariamente água.

Para exemplificar a proposta do livro, veja aí ao lado a página dedicada a David Bowie. O texto diz: "Esse moço é um dos cantores mais incríveis que o rock já conheceu. Ele tem os olhos de duas cores, um é castanho e o outro é azul(*). Ou seja, ser diferente também é muito legal. E devemos respeitar as diferenças". Tudo muito direto, mas sem dedo na cara, tornando o livro interessante para crianças menores.

Além do bem que se aprende a fazer, a criançada acaba apresentada a grandes nomes da música mundial. Música mesmo, com letra maiúscula, não essa lixarada que se produz hoje em dia. E cultura geral não tem preço. Espero que seja fácil de encontrar.

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(*) A autora do livro, assim como eu e um monte de gente, talvez você inclusive, acreditou nessa história de heterocromia. Na verdade, Bowie levou um soco no rosto aos 15, lesão que paralisou a musculatura da íris. Em consequência, sua pupila esquerda ficou permanentemente dilatada, condição conhecida como anisocoria (pupilas de tamanhos desiguais). Como a pupila é negra, temos a impressão de que a íris é castanha, mas Bowie possuía olhos azuis. Há várias páginas na internet contando essa história.

Mais: http://revistatpm.uol.com.br/so-no-site/entrevistas/rock-para-pequenos.html

Nota acrescida em 16.3.2020.

2 comentários:

Anônimo disse...

Não sei se gosto. Gostaria de ter filhos roqueiros (se tivesse filhos), mas não sei se "boas maneiras roqueiras" me soa legal.

O rock surgiu pra ser contestação, digressão, polêmico. Não pra ensinar crianças a sentarem direitinho.

Malditos Beatles, que afrescalharam o rock para sempre.

Yúdice Andrade disse...

Engraçado, das 8h32, mas não encarei por esse lado. Acho que a atitude rock é, sim, contestadora e corajosa, mas isso não implica necessariamente - ou não implica a esta altura do campeonato - em chutar todos os baldes.
Acho que pode haver, sim, "boas maneiras roqueiras". Um comportamento legal com senso crítico e atitude.
Também acho que a coisa não precisa ser levada tão ao pé da letra. Realmente, a função do rock não é ensinar boas maneiras, mas qual o problema de usá-lo como pano de fundo. A diversidade das linguagens é uma boa forma de melhorar a educação. É o que penso.