quinta-feira, 2 de maio de 2013

Faroeste caboclo

"Ele ficou bestificado com a cidade
Saindo da rodoviária
Viu as luzes de Natal"

No dia 30 deste mês, finalmente, estreará nos cinemas do país o filme Faroeste caboclo, primeiro longametragem de René Sampaio, inspirado na canção homônima da Legião Urbana (1987) e, por isso mesmo, muito esperado pelos fãs da banda, como eu.

No entanto, o projeto demorou a se realizar. Foi anunciado originalmente em 2005, mas uma contestação em torno de direitos autorais entre uma editora e a família de Renato Russo emperrou por muito tempo os trabalhos. Quando a coisa se resolveu, começou uma lenta captação de recursos. As filmagens só aconteceram em abril de 2011, podendo-se ver que houve significativa demora para finalizar a obra. Segundo a Wikipédia, o orçamento foi de 6 milhões de reais.

Escutando a canção esta manhã, fiquei mais uma vez imaginando as cenas, só que desta feita com os rostos dos atores. E uma cena se prolongou em minha mente: a da chegada de João de Santo Cristo (Fabrício Boliveira) a Brasília, na época do Natal (por isso procurei, na grande rede, uma imagem da cidade, enfeitada para a festividade). A imagem aí ao lado, do filme, o mostra sério, talvez desconcertado, mas eu o imaginei com um sorriso bobo de criança nos lábios, olhando para cima, diante do espetáculo de luzes que uma cidade grande oferece, um mundo totalmente diferente do que ele conhecera até então.

O roteiro é uma livre adaptação da canção, por isso fico curioso em pensar no que foi inventado. O filme, p. ex., retrata Maria Lúcia (Ísis Valverde) como filha de um senador (último trabalho como ator de Marcos Paulo, morto em novembro de 2012), embora a canção não dê a menor informação sobre a moça, exceto que é bonita. Outra criação importante é o personagem Marco Aurélio (Antônio Calloni), um policial corrupto que persegue Santo Cristo, totalmente engendrado pelos roteiristas.

Mas minha maior curiosidade toca ao modo como será retratado o protagonista, porque embora ele se torne um "bandido destemido e temido no Distrito Federal", fica evidente a intenção de Renato Russo em retratá-lo como um anti-heroi, alguém que no fundo tinha bons valores ("Não boto bomba em banca de jornal e em colégio de criança eu não faço, não") e que possuía um inusitado objetivo na vida: "falar com o presidente para ajudar toda essa gente que só faz sofrer". Gente como ele mesmo, que só conhecera a miséria, o abandono e o preconceito.

Chama a atenção, também, que a letra da canção só retrata Santo Cristo como criminoso a partir do momento em que ele começa a roubar, por sinal "sob a má influência dos boyzinhos da cidade". Mas parece leniente com ele, na época em que apenas traficava drogas. Inevitável especular se Renato Russo, que admitiu ter usado drogas de mais de uma espécie, na verdade não via nisso algo tão reprovável assim.

Enfim, cresce a expectativa quanto ao filme, potencializada pela estreia, amanhã, de Somos tão jovens, filme sobre a origem da maior banda de rock brasileira de todos os tempos. Se Deus der bom tempo, assistirei neste final de semana mesmo.

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