Fato 1: a saúde pública em Belém é um horror e enfrentar esse caos deve ser prioridade de todo gestor público.
Fato 2: a situação do Hospital de Pronto Socorro Municipal é especialmente grave, porque devido ao tipo de atendimento ali prestado e do excesso de demanda, o espaço se torna o cenário ideal para dramas humanos superlativos.
Resulta daí que todo candidato a prefeito, em campanha, promete mundos e fundos na área da saúde e sempre se concentra de modo especial no HPSM. Se eleito, alguma providência precisa ser tomada. Digam o que disserem, o único prefeito que agiu sensatamente nesse campo foi Edmilson Rodrigues, que construiu do zero e pôs para funcionar o Pronto Socorro do Guamá, diminuindo um pouco a pressão sobre o Mário Pinotti, além de descentralizar os serviços de urgência e emergência.
Depois dele, veio aquele que não merece ser nomeado e que dispensa apresentações. Logo que assumiu, tomou uma decisão pirotécnica: desapropriou o Hospital Sírio Libanês para ali instalar um novo pronto socorro. E o que aconteceu? O hospital foi "fechado para readequação" e nunca mais abriu suas portas, reduzindo a quantidade de serviços de saúde disponíveis na cidade. O novo PSM jamais foi instalado e o dinheiro desembolsado pelo Município não chegou à atividade-fim, porque os antigos donos do Sírio Libanês tinham débitos trabalhistas e previdenciários, então o dinheiro foi bloqueado. Foi o primeiro grande episódio de malversação de recursos públicos da era maldita.
Aí chegamos à gestão de Zenaldo "Não Sou Mágico" Coutinho que, como bom tucano que é, está perdendo a oportunidade de fazer um bom governo. E olha que, depois daquele outro, até uma ameba raquítica conseguiria passar a impressão de ser uma grande administradora pública. Afora retirar entulho dos canais e capinar ruas, até agora a atual gestão não disse a que veio. Mas já prometeu muito. Além de anunciar medidas altamente questionáveis, como alugar um prédio, que deveria ser um hotel, para ser a nova sede da prefeitura, uma operação cara e controversa que, felizmente, não se confirmará. O último anúncio foi de que a prefeitura se instalará em um prédio ocioso da Caixa Econômica Federal, cedido, ou seja, sem custos com aluguel. O rentável aluguel de um imóvel para sediar a AMUB, entretanto, foi confirmado.
E aí chegamos ao tema desta postagem: o anúncio de que o Município pretende comprar, por 100 milhões de reais, com recursos obviamente federais, o imóvel do primeiro Hospital Porto Dias, onde deveria ser instalado o novo PSM, permitindo o fechamento do anterior. A primeira pergunta a fazer: é sensato apenas transferir a casa de saúde, sem aumentar a oferta de leitos e serviços? Mas outras perguntas se avolumam. Afinal, o caso poderia ser tratado como inexigibilidade de licitação, pela inexistência de outro hospital para comprar. Deus me livre fazer intriga, mas isso poderia facilmente mascarar uma ação entre amigos.
O negócio cairia como uma luva para os donos do Porto Dias, que construíram um novo prédio colossal e ficaram com o primeiro algo ocioso. Vendê-lo seria a melhor opção. Melhor para eles. Mas seria bom também para o interesse público? Não se saberá enquanto não forem respondidas várias perguntas. Em vez de respondê-las, o prefeito mandou colocar no site institucional que o Ministério Público Federal, Ministério Público do Estado, entidades médicas e demais responsáveis já teriam aprovado a compra do hospital. Coisa de político: dar o incerto como favas contadas, a fim de colher dividendos políticos sobre uma mentira.
Texto postado anteontem, contudo, já se pronuncia de outra forma, admitindo que a operação ainda sendo avaliada pelos órgãos competentes (não foi possível copiar o link para colocá-lo aqui; acesse www.belem.pa.gov.br e procure em "Notícias"). Nesse meio tempo, quem teve o nome citado trata de desmentir o prefeito. É o caso do MPF, como mostra esta reportagem. Segundo o Procurador Regional dos Direitos do Cidadão, Alan Rogério Mansur Silva, qualquer decisão deve ser precedida de esclarecimentos sobre a eventual existência de alterativas de compra, condições dos equipamentos (a compra seria com "porteira fechada" e há rumores de que faltariam equipamentos essenciais, nominalmente um tomógrafo) e até mesmo a destinação a ser dada ao Mário Pinotti.
Nada como repor um pouco da verdade dos fatos. Muita gente morre por carência de atendimento médico adequado. Não dá para os espertos ficarem fantasiando em torno de coisa tão séria.
Acréscimo em 10.6.2013:
Os enfermeiros também demonstraram sua posição.
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