segunda-feira, 20 de maio de 2013

Educar

Aproximando-se dos 5 anos, Júlia anda temperamental. Às vezes, quando se aborrece, chuta objetos ou os atira ao chão. Não tolero esse tipo de conduta, por isso já havia mandado que aprendesse a se controlar e, depois, avisei que haveria castigo. Como não sou de dar dois avisos, hoje ela atirou um objeto longe e foi direto se sentar no corredor, local desde sempre designado como local da disciplina. Reagiu com um choro imediato, sentido, porque "a culpa" era do tal objeto. Como detesto esse papo de culpa e objetos não podem ter culpa de nada, adverti que parasse de transferir responsabilidades e mandei que se calasse.

O choro aumentou, cheio de explicações e reclamações. Avisei que ela não sairia do castigo enquanto não parasse de chorar. Ela então disse a segunda coisa que detesto, nessas horas: "Eu não consigo!" Controlando o aquecimento de minhas células sanguíneas, expliquei que ela deveria aprender e conseguir, pois do contrário não sairia do castigo. "Eu não tenho a menor pressa", sentenciei.

E foi assim que uma bobagem que poderia ter-se resolvido rapidamente se prolongou por uns 20 minutos. Mas eu havia dito, não é? Missão dada é missão cumprida. Quando ela silenciou, perguntei se ela já tinha se acalmado. "Ainda não totalmente", respondeu. Então ficamos na mesma. Voltou a chorar, até que se calou de vez. Tornei a perguntar e, desta feita, ela concordou que não ia mais chorar. Castigo enfim concluído, perguntei se sabia a razão daquilo tudo. Falou do objeto atirado longe. Expliquei-lhe que não era só jogar algo, mas a atitude que isso representa. Ela prometeu se controlar (de novo...).

A partir daí, a pequena ficou em paz, lendo sua revistinha. Uma meia hora depois, fui até ela e perguntei se estava aborrecida comigo. "Por quê?", quis saber. Lembrei-a do castigo. "Não", respondeu. Expliquei como me sentia mal por castigá-la, mas que faria isso sempre que sentisse necessidade. Ela assentiu com a cabeça e aceitou o meu carinho. Pouco depois, quando fui fazê-la dormir, pediu que a abraçasse e cantasse, o que atendi prontamente. Adormeceu em paz, de bem comigo.

Não faltam aqueles que me consideram duro demais com minha filha. Mas ela não apanha, não é maltratada e recebe explicações para tudo que fazemos. O quê e o por quê. O resultado? É uma criança educada, gentil, respeitadora. Tem seus momentos ruins e até péssimos, como qualquer criança, mas no geral do tempo é um amor. Eu realmente acredito que estamos fazendo um bom trabalho com a educação dela. Porque sabemos equilibrar um amor desmesurado com educação, valores e regras.

Aviso aos tolos: Júlia é uma criança feliz, sem traumas. E por que falo em tolos? Porque hoje em dia boa parte das famílias renunciou ao dever de educar. E acredita que o certo é a libertinagem, o abuso, a subversão de valores. Famílias que passam a mão na cabeça de seus meliantes, encobrem erros e abrem guerra contra quem não se prostra, de quatro, diante de seus reizinhos. Gente responsável por muito dos dramas que nossa sociedade tem enfrentado.

A educação é um dever de todos, mas é um dever precípuo da família, onde ela começa e atua com mais força e por mais tempo. É nisso que acreditamos. E por isso estamos criando uma futura cidadã, se Deus quiser.

Não posso dizer que lamento pelos outros. Na verdade, pelos erros de quem não educa lamentamos e lamentaremos todos nós.

Bem a propósito: http://revistapaisefilhos.uol.com.br/nossa-crianca/educacao-com-coerencia-nao-causa-trauma

5 comentários:

Anônimo disse...

O senhor parece meu pai falando essas coisas. Essa preocupação com a educação de um filho é algo lindo, que admiro profundamente. E esse é um dos motivos que me fazem admirá-lo e lhe ter um carinho especial cada dia mais. Além de um excelente e inigualável professor, considero-o um ser humano incrível. Enfim, só tenho a dizer que se quiser ganhar uma filha postiça, já tem candidata!
Abraço, Emy.

Tanto disse...

Amigo, parabéns. Você está criando uma pessoa boa, que certamente vai contribuir muito para o mundo, longe da loucura geral que parece dominar tudo. Realmente, parabéns.

Yúdice Andrade disse...

Ahahahahahaha! Emy, fico honrado com a proposta, mas não tenho idade para ter uma filha desse tamanho!

É nisso que acreditamos, Fernando. Honestamente. Vamos continuar tentando, com a maior boa fé.

Ana Miranda disse...

Yúdice, eu sempre fui uma mãe bem maluquinha, mas também fui bem rígida na educação dos meus filhos.

Hoje colho os frutos por ter sido "uma mãe brava".

Dizer "NÃO" é muito complicado, você tem que sentar, explicar, castigar quando é preciso, mas é melhor "perder" esse tempo quando eles são crianças, porque crianças crescem e a falta de educação perde a graça...

Yúdice Andrade disse...

É isso que as pessoas não entendem, Ana: ninguém precisa ser o ditador nazista ou o porra-louca surtado. Podemos ser maluquinhos, alegres, excêntricos e de bem com a vida, e mesmo assim sérios com o que pede seriedade. Além do mais, nada indica que pessoas do bem precisem caber no estereótipo da depressão.
Por tudo o que sempre disseste sobre eles, parece que teus filhos foram de fato muito bem educados. Teus comentários me inspiram quanto ao futuro.