segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Calhordas

No Fantástico, da Rede Globo, edição de ontem, foi exibida matéria sobre a recusa de atendimento a clientes de planos de saúde, obrigando-os a recorrer ao Judiciário (veja aqui). Os números assustam: na capital carioca, p. ex., 80% das demandas levadas ao plantão judiciário se referem a tutelas de urgência relacionadas à saúde. Em Pernambuco, 60% dos atendimentos da Defensoria Pública têm relação com planos de saúde. E tramitam 240 mil ações em todo o país.
Alguns trechos da matéria causam repugnância. Em um dos casos exibidos, liminar judicial determina a realização de cirurgia na coluna de uma senhora. A cirurgia foi autorizada, mas não houve a liberação dos materiais necessários, velho golpe que empresas canalhas utilizam corriqueiramente. Neste caso, alegou-se o alto custo desse material, onde se revela que, para o capitalista, não tem o menor problema tratar os pacientes com material de segunda. Mas o preço do plano provavelmente é de primeira.
Falando sobre o caso, o presidente da Associação de Medicina de Grupo disse que a exigência de autorização prévia em casos de urgência e emergência é contra a lei, mas pode acontecer. Simples assim. Nenhuma palavra sobre como o setor pretende se comportar a respeito.
No mais, as empresas alegam cumprir a lei do setor, mas muitas vezes os juízes decidem com base no Código do Consumidor ou no Estatuto do Idoso. E o que esses grandessíssimos félas esperavam?! Se uma pessoa contrata um plano de saúde, ela é consumidora. Se tem 60 anos completos, é idosa nos termos da lei. Por conseguinte, o Judiciário está apenas aplicando a legislação vigente e é obrigado a fazê-lo assim, combinando as normas, interpretando-as de acordo com os interesses prevalecentes.
O interesse, no caso, deveria ser a vida e o bem estar dos seres humanos e não o lucro das empresas que, como em todos os demais setores, cobram muito caro por serviços ruins.
O presidente da associação de classe ainda se sai com esta: “O plano de saúde, mesmo quando ele ganha, às vezes o custo é tão alto daquele procedimento, que a família não tem condições de arcar com isso. Então o prejuízo fica com o plano de saúde”. Viram? O prejuízo. Aparentemente, tudo o que eles gastam com o cliente é prejuízo. Então seria o caso de nós pagarmos religiosamente, todos os meses, e nunca utilizarmos o plano para nada? Ou talvez só para pequenas consultas e procedimentos singelos, como uma onicotomia?
Francamente. Essa camarilha nunca ouviu falar em risco do empreendimento? Se decido trabalhar numa área, devo suportar os riscos inerentes a ela. O que não posso é transferir esse ônus para meus clientes (ou funcionários).
Bem a propósito, para angariar maior número de simpatizantes para esta postagem, lembro que os planos também são péssimos para os médicos: pagam mal, glosam despesas por qualquer bobagem, questionam a competência médica na tomada de decisões, etc. Ou seja, essa é uma festa de que três lados participam. Mas somente um pode se divertir.

5 comentários:

Anônimo disse...

Pior do que a postura do representante dos planos de saúde, foi ficar ouvindo as abobrinhas da Diretora da ANS. Vejam bem : cabe à ANS a fiscalização de todos esses absurdos. Cabe à ANS determinar o que deve e o que não deve ser feito.

Mas ela nada faz. Em momento algum aquela incompetente senhora vestiu a camisa de agente pública , responsável pela regulação do setor, e falou em tomar alguma providência.

A grande verdade é que todas as nossas "Agências Reguladoras" são objeto de fatiamento político, não se olhando o perfil técnico dos nomeados.

Olhem para a ANATEL, para a ANEEL, a ANTAQ e ANTT. A maioria de seus conselheiros são oriundos de empresas do setor, e estão ali para defender os interesses delas, empresas, enão o do sociedade.

Quantos anos levou a ANATEL para tomar a pífia, ridícula, insensata e inoperante decisão de "punir" as teles? E a "punição" durou apenas 10 dias.

Vejam bem : dez dias !!!! Nesses dez dias nada foi melhorado. Foram somente planos, para os próximos 3-5 anos.

Fosse a ANATEL um órgão sério, diria : muito bem, quando vocês acabarem de implantar esse maravilhoso plano de recuperação, poderão voltar a vender linhas.

Não o fizeram. Liberaram de imediato a venda de novas linhas. Ou seja, os problemas persistem, e se agravarão a cada dia, vez que as melhorias são previstas somente para daqui a 3 ou 4 anos.

Kenneth Fleming

Ana Miranda disse...

Ah, Yúdice, lamentável isso...

Pagamos nossos planos com o maior sacrifício - pois não é barato ter um plano de saúde para a família toda - pagamos mensalmente, usamos ocasionalmente e ainda temos problemas...

Realmente, somente um lado está divertindo-se...

Yúdice Andrade disse...

Verdade, Kenneth. Na hora da exibição, fiquei irritadíssimo com isso, porque no mês passado fiz uma reclamação à ANS sobre um reajuste indecente - e a meu ver totalmente ilegal - e até agora não consegui nenhuma resposta. A sensação é de que ninguém me ouviu, mesmo.
Enquanto isso, minha briga de 8 meses com a Oi envolveu uma tentativa de reclamação à ANATEL, mas você acredita que eu não consigo, sequer, a área de reclamações do site?

Anônimo disse...

Tenho a minha opinião já consolidada de que de nada adianta reclamar a essas agências reguladoras fajutas e mal intencionadas.

Quanto á tua briga com a Oi, por que não entras logo com uma ação judicial?

Ainda que ande a passos de cágado, ou mais lenta ainda, ao menos você terá alguma resposta. Não seja tão crédulo quanto a ANATEL "resolver" a tua situação.

A da Oi ela resolve rapidinho, com certeza. mas a tua, hummmmmmm.......

Abs

Kenneth

Anna Cruz disse...

Professor, estou sentindo isso na pele - aliás, aquela camada de pele mais sensível que temos, a pele DE UM FILHO. Vou à Justiça, espero que ela me receba, e levarei comigo os excelentes argumentos do Sandel em "O que o dinheiro não compra: os limites morais do mercado"; fica a dica de leitura.