quinta-feira, 16 de maio de 2013

A hora de acordar dos advogados

No meio jurídico, a principal pauta desde ontem foi o comentário infeliz (pra variar) do Min. Joaquim Barbosa, atual presidente do Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional de Justiça, que durante sessão na qual se discutia o horário de atendimento do judiciário paulista aos advogados, reduzido para começar apenas às 11 horas da manhã, disse "Mas a maioria dos advogados não acorda lá pelas 11 horas, mesmo?"

Na frenética sociedade atual, dormir até tarde é coisa de gente desocupada. Eu mesmo costumo dizer que é coisa de vagabundo. Tenho pessoas na família que dizem precisar de pelo menos 8 horas de sono para ficarem bem no dia seguinte. Costumo olhar com desprezo esse tipo de afirmação — e nem é porque durmo em média quatro horas e meia todos os dias, mas por considerar uma pretensão fora da realidade.

No mundo real da advocacia, às 8 da matina você precisa estar de prontidão, seja no escritório, seja em algum outro lugar. Um advogado pode ter uma audiência marcada para as 8h. Ou pode nem ter dormido, atravessando toda a madrugada numa delegacia, como certa vez aconteceu comigo. Afinal, trata-se de um profissional liberal; logo, se não trabalhar, não ganha dinheiro. Não há depósito em conta garantido no final do mês, nem estabilidade, vitaliciedade ou aposentadoria integral. Natural, portanto, que a classe tenha reagido com tanta indignação ao que, depois, o próprio ministro classificou como uma "piada".

Piada, é? Curioso como ninguém conhecia esse inusitado senso de humor do supremo presidente. No geral do tempo, ele costuma mostrar-se sempre carrancudo, de rosto contraído, fazendo comentários ácidos e acusatórios sobre os mais variados assuntos. Não mais que de repente, ele redescobriu a alegria de viver justamente quando teve a oportunidade de menosprezar os advogados. Sintomático. A mesma pessoa que humilhou juízes representantes de classe em sua sala, recentemente, agora quer merecer a complacência geral. A generosidade, que não manifesta aos outros, quer para si.

Quem não é advogado acha que está havendo muito barulho por nada. Mas a verdade é que o clamor deste momento não é consequência de um evento isolado, mas de um somatório de episódios que revelam um histórico de desrespeito aos advogados e de incapacidade de tolerar divergências, permeada pela aparente convicção de que somente os outros é que possuem defeitos. O julgamento do processo do "mensalão" foi a maior demonstração do que digo.

Em agosto de 2010, um Barbosa em licença médica por problemas crônicos na coluna vertebral há mais de três meses foi fotografado em uma festa de aniversário em um point de Brasília. Também foi fotografado tomando um gorozinho num bar. Na época, o caso teve repercussão porque ele era o relator de mais de 13 mil processos, os quais estavam estagnados porque o ministro não estava em condições de trabalhar, sequer para despachos de mero expediente. Ele, claro, se defendeu e se indignou.

Então é isso. Quando os nervos já estão à flor da pele, as mínimas atitudes (e sobretudo as que não são nada pequenas) provocam reações elevadas. Motivos há. Eu não acredito em piada. Aqui ninguém é inocente.

Mais: 

5 comentários:

Anônimo disse...

O ministro acorda cedo porque antes de ir trabalhar precisa ir charfundar no lixo.

Yúdice Andrade disse...

Junto com os jornalistas! Ahahahahahah

Anônimo disse...

Yúdice, eu acho que JB está deslumbrado com o poder e o cargo.De repente, a grande mídia o transformou numa espécie de Batman, de paladino da Justiça, de reserva moral da nação.Ele se acha acima do bem e do mal.Por isso, acha que pode falar o que quiser. Ele não respeita a advocacia e eu espero que a OAB reaja a altura. E outra: JB somente está onde está, graças a Lula e a Dirceu, que o nomearam pela capacidade intelectual e pelo fato de ser negro também, pois o PT sempre defendeu a população negra. Márcio Farias

Luiza Montenegro Duarte disse...

Meu querido, fiquei um pouco incomodada com este trecho:

"Na frenética sociedade atual, dormir até tarde é coisa de gente desocupada. Eu mesmo costumo dizer que é coisa de vagabundo. Tenho pessoas na família que dizer precisar de pelo menos 8 horas de sono para ficarem bem no dia seguinte. Costumo olhar com desprezo esse tipo de afirmação — e nem é porque durmo em média quatro horas e meia todos os dias, mas por considerar uma pretensão fora da realidade."

Não que a carapuça tenha servido (apesar de que eu bem gostaria de dormir 8h por noite!), mas temos que ter cuidado para não tomar as nossas condutas como padrão a ser seguido. Achei um pouco intransigente tu considerares vagabundo quem dorme até tarde. Talvez o trabalho do sujeito permita. Talvez as pretensões profissionais e econômicas dele não sejam tão grandes e ele opte por ter uma vida menos acelerada. Ou ainda, pode ser que ele realmente precise de um número elevado de horas de sono para se recuperar.

No mais, fiquei preocupada porque teu tempo de sono diário está contra qualquer recomendação médica! Uma vez ou outra, tudo bem, mas tornar isso um hábito pode ser prejudicial para tua saúde, inclusive emocional. Já ouvi falar de estudos comprovando que há pessoas que cumprem todas as fases do sono em um período bem menor que a média, o que pode ser o teu caso. No geral, o "mínimo existencial" (hehe) deve ser de 6h, segundo a medicina. Eu tento cumprir!

Beijos

Yúdice Andrade disse...

Também acho que Barbosa teve o privilégio de ver o cavalo passar selado a sua frente duas vezes. Na primeira, estava no lugar certo e na hora certa, quando o PT quis mandar uma mensagem ao país escolhendo o primeiro ministro negro. Na segunda, quando o mesmo PT, agora do lado do mal, vitrine de todas as pedradas, envolveu-se com o "mensalão". Aí a mídia fez dele um heroi.
Mas ele não é um heroi. É apenas uma autoridade pública, das mais altas, com muitos méritos (acho bela a sua trajetória pessoal, adversa e mesmo assim vitoriosa), mas que não sabe se comportar no cargo.

Luiza, querida, foi consciente que escrevi o termo que poderia incomodar e acabou incomodando. Há dias em que resolvo retornar às origens e faço uma postagem verdadeiramente "arbitrária" e esta foi o caso. Felizmente, o único protesto que recebi foi o teu, sempre sensata e educada.
Quero dizer que anotarei a crítica e a levarei em consideração, com prazer. Mas esclareço, também, que o texto saiu desse jeito porque eu tinha em mente situações concretas que vivenciei.
Não pretendi fazer de mim um parâmetro, até porque não desejo minha rotina nem para os inimigos. Apenas acredito, realmente, que a vida atual não permite isso aos adultos. O texto não esclarece, mas em relação à garotada, que felizmente ainda não possui tantas responsabilidades, o raciocínio é diferente.
No mais, sorte de quem pode dormir as 8 horas outrora recomendadas pela OMS (especulo que o índice já não seria esse). Mas acredito que se o cara não é artista ou atleta, em ambos os casos consagrado, não dá para ficar na cama tanto tempo.
Beijo.
PS - Assim que as coisas melhorarem (se...), tentarei dormir um pouco mais. Juro que gostaria.