segunda-feira, 13 de maio de 2013

Uma matéria "inocente" sobre um perigo já comentado

Há alguns dias, publiquei esta postagem, na qual questionava a motivação sub-liminar de uma nota publicada na imprensa comum, em relação ao perigo representado pelo Aeroporto Brigadeiro Protásio de Oliveira, antigo Aeroclube do Pará.

Passados 14 dias (ontem), matéria não assinada, desta feita em outro veículo de comunicação, ostenta o seguinte título: "Medo de avião é comum na Sacramenta". Como o site não me permite copiar o link, transcrevo o texto:

'Tenho medo. Esses aviões pequenos são danados para cair, né?', disse Maria da Glória Oliveira, dona de casa de 67 anos, que vive na rua Cláudio Bordalo, quase esquina com Pedro Álvares Cabral, na Sacramenta, próximo de onde uma aeronave de pequeno porte, de prefixo PR-JLI, da empresa Brabo Táxi Aéreo, fez um pouso forçado, no elevado Daniel Berg, na avenida Júlio César, no dia 26 de abril.
Por causa da força do impacto no solo, uma mulher morreu e o piloto teve o braço direito amputado e parte do rosto desfigurado. Uma semana depois, o piloto também morreu. Esse não foi o primeiro acidente aéreo que dona Maria viu acontecer perto de sua casa. Ela vive há 26 anos no local e recorda de outro avião, cuja asa bateu em um poste de energia quase em frente à residência dela e caiu mais adiante, na avenida, há cerca de cinco anos. 'Na época, eu pensei em vender a casa, mas não dava para comprar em outro lugar melhor', revela. 
Dados do Primeiro Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Seripa I), que abrange os estados do Pará, Amapá e Maranhão, revelam que este ano dois acidentes aéreos foram registrados no Estado, contra 16 no ano passado. Em contrapartida, o número de mortos chega a 11 em 2013, apenas dois a menos que o registrado durante todo o ano de 2012. Somente a queda do avião bimotor na região de Monte Dourado, distrito de Almeirim, no mês de março, matou 10 pessoas.

A irrisória reportagem tenta justificar o tal "medo" disseminado no bairro da Sacramenta com base no suposto depoimento de uma única cidadã, que teria levantado a questão: "esses aviões pequenos são danados para cair, né?"

Não, minha senhora. Não são. A senhora, como moradora do entorno, deveria saber muito bem. E eu, que sempre morei pertinho do Aeroporto Internacional de Val-de-Cans, também sei, pelos mesmos motivos empíricos.

Para tentar salvar o argumento, a matéria recorre a dados do SERIPA I, que teria registrado 16 acidentes aéreos em 2012. O zeloso jornalista esqueceu, no entanto, que o termo "acidentes aéreos" abrange desde quedas com muitas dezenas de mortos até derrapagens, pousos forçados ou arremetidas. Se era para escrever matéria isenta, isso deveria ser lembrado.

Mas é como escrevi antes: tem muita gente apavorada com os perigos do aeroporto pequeno, mas sem se preocupar com o grande. Talvez porque o entorno deste último já esteja dominado pela indústria imobiliária. O tal bairro "Cidade Cristal" está em vias de ser lançado, não é isso?

2 comentários:

Anônimo disse...

Morei por 35 anos ao lado do aeroclube do Pará, portanto, posso afiançar aos leitores do blog que ninguém tem medo de um avião ou paraquedista cair na sua casa. Nosso medo é a privatização daquela área! Eu afirmo, tem um ano que vi três diretores no hangar da antiga Kovacs e eles não estavam ali para pegar avião. Eu vou logo avisando, eu vou representar ao MPF se aquela área cair na mão da iniciativa privada e sem consulta a população. O bairro da Sacramente tem uma relação de afeto com aquela área. eu cheguei a correr com medo da P.A só porque estavamos brincando bola no terreno deste aeroporto. Ali, as bandas das escolas Plácido aristoteles e graziela amaral costumavam ensaiar para os desfils escolares.Não à privatização. Vocês não passaram!

Yúdice Andrade disse...

Das 15h35, agradeço muito por sua contundente manifestação, que irá à ribalta.