quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Equipamentos de segurança automobilística

O airbag foi apresentado ao mundo durante o Salão do Automóvel de Frankfurt, Alemanha, no ano de 1987, sendo resultado do trabalho dos engenheiros da Mercedes-Benz. Hoje, é considerado item básico de segurança veicular e, por isso mesmo, de uso obrigatório no Primeiro Mundo faz tempo. Aliás, por aquelas bandas, carros equipados com bolsas de proteção apenas do motorista e do carona são coisa do passado. Os veículos vêm equipados com sete bolsas (ou até mais), inclusive as chamadas cortinas, que evitam danos decorrentes de colisões laterais. Um primor de segurança, convertida em absoluta rotina.

Por sua vez, os freios ABS (a sigla vem do alemão Antiblockier-Bremssystem, que significa sistema antibloqueio de freios; a versão em inglês surgiu depois) foram desenvolvidos para brecar aviões e remontam à década de 1950, mas sua viabilização comercial para automóveis data de 1978. Obviamente, também foram incorporados há muito tempo à rotina da indústria automobilística em países sérios.

Enquanto isso, no Brasil, somente hoje, dia 1º de janeiro de 2014, 26 e 35 anos após a criação desses importantes mecanismos de segurança, eles se tornam obrigatórios em todo e qualquer veículo produzido ou comercializado no país. Como o consumidor brasileiro até melhorou, mas não aprendeu a ser consciente, não houve dinâmica de mercado: foi a lei mesmo, para variar, que impôs essa obrigatoriedade à indústria, não sem luta e, inclusive, uma tentativa de virada de mesa de última hora. Vários veículos de imprensa chegaram a anunciar que o governo havia desistido da data e prorrogaria o prazo para adequação das empresas. A informação seria de Guido Mantega, ministro da Fazenda, mas a presidente Dilma Rousseff bateu o pé e a obrigação entrou em vigor.

Assim, a forceps, o Brasil se aproximará um pouco, e apenas um pouco, do padrão de qualidade e segurança do Primeiro Mundo. Mas não sem custos consideráveis. Estima-se que, na melhor das hipóteses, veículos de entrada encareçam mais de mil reais com a introdução dos novos itens. Somando-se ao fim do subsídio do imposto sobre produtos industrializados, já em vigor, os preços dos carros mais vendidos subirá consideravelmente. E olha que os preços praticados no Brasil já são irreais e abusivos. O que se paga aqui por um "popular" (classificação risível, ao nível do deboche) é de assombrar mesmo os mais audaciosos.

De quebra, alguns veículos vetustos, ainda comercializados no país por causa do jeitinho brasileiro de aceitar exploração, foram inviabilizados e saem de cena. Mas somente por causa da exigência; do contrário, continuariam por tempo indeterminado nas concessionárias. Refiro-me ao Fiat Mille e à Velha Senhora, a querida Volkswagen Kombi, que ganhou uma série limitada, a Last Edition, por inacreditáveis 85 mil reais e, mesmo assim, vendeu absurdamente, a ponto de ser fabricada uma nova e não planejada segunda leva (além de uma bela campanha publicitária de despedida). Por sinal, os compradores dessas peças de colecionador ficaram enlouquecidos com as notícias de prorrogação do prazo (supostamente, por mais dois anos). Isso faria o preço dos veículos despencar. Ações judiciais foram prometidas, baseadas no ludíbrio ao consumidor, mas no final não será necessário. Se bem que se aventou algum tratamento diferenciado para a Kombi, em face de não haver concorrente equiparável.

O Mille também ganhou uma série especial, a Grazie Mille, que mais não é do que uma enganação estética sobre um carro paupérrimo, tosco mesmo, que esta semana vi em uma concessionária sendo vendido por mais de 33 mil reais! Histérico. Mesmo que sejamos nostálgicos e gratos por toda a valentia e méritos do antigo Uno, quem comprar por esse valor merece uma consulta psiquiátrica.

Não adianta, brasileiro não valoriza segurança veicular. Gosta mesmo é de aparência. Somos um mercado que paga caro por design e firulas, mas não se importa com projetos antiquados, acabamento precário e riscos desnecessários. A mais nova moda, o câmbio automático, que aos poucos vai-se popularizando, tem a ver com conveniência, com o conforto de dirigir no inferno das grandes cidades. Mas pergunte o que a pessoa considera prioritário, câmbio ou airbag, e não tenha dúvida quanto à resposta.

Enfim, uma grande mudança está a caminho. Por obra do governo, não do consumidor, mas uma mudança. Já nas próximas semanas, vamos às consequências.

Sobre a criação do airbag: http://carsale.uol.com.br/editorial/noticia/9811-invencao-do-airbag-completa-25-anos

Sobre o sistema ABS: http://pt.wikipedia.org/wiki/Freio_ABS

Notícia oficial do Ministério da Fazenda: http://www.fazenda.gov.br/divulgacao/noticias/2013/dezembro/airbags-e-freios-abs-serao-itens-obrigatorios-em-veiculos-a-partir-de-2014

Sobre o Grazie Mille: http://carros.uol.com.br/noticias/redacao/2013/12/31/fiat-uno-original-depois-mille-encerra-ciclo-de-vida-opine-e-mande-foto.htm, sua história e o encerramento da fabricação: http://revistaautoesporte.globo.com/Noticias/noticia/2014/01/fiat-mostra-ultimo-mille-produzido-no-brasil.html

Sobre o imbróglio da Kombi Last Edition: http://g1.globo.com/carros/noticia/2013/12/donos-consideram-devolver-last-edition-se-kombi-seguir-em-linha.html

2 comentários:

Anônimo disse...

Yúdice,

Concordo que os preços dos automóveis são abusivos no Brasil. Mas cabe um questionamento. Se com esses valores altíssimos as ruas já vivem congestionadas, imagine se um modelo 0 km custasse, por exemplo, R$ 15 mil. Os engarrafamentos iriam triplicar. Seria o caos, ninguém sairia do lugar.

Melhor continuar assim, né? =)

Abraços,

Yúdice Andrade disse...

Sim, meu amigo, carros mais baratos fariam as ruas mais cheias, sem dúvida. Mas não posso concordar que o modo de resolver o problema do trânsito seja uma política de exploração, que só beneficia os capitalistas.
Para citar um exemplo conhecido, nos Estados Unidos quase todo mundo tem um carrinho, ainda que velho, e as cidades vão se mantendo graças à malha viária atualizada, inteligência na engenharia de tráfego e, acima de tudo, senso de cidadania. A valorização do espaço urbano não pode passar pelo preço dos carros, e sim pela eficiência do transporte público e pela racionalização das cidades, de modo que as pessoas não precisem morar tão longe de onde trabalham.
Abraços.