quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Primeira

Eu sabia que 2014 começaria tarde. Ou recomeçaria tarde. Reunido com a família (digamos, família lato sensu) em minha casa, trocamos abraços quando os relógios marcavam três, ou dois ou um minuto para a virada. Relógios nunca combinam. Tenho vontade de, um dia, sincronizar meu relógio com o de alguém, inclusive os segundos, para saber qual é a sensação. O fato é que nos desejamos o bem e alegrias e saúde e paz (sempre peço que acrescentem dinheiro!) quando 2013 ainda estava com os pés na soleira da porta.

Não sou de superstições, naturalmente. Mas a primeira coisa que coloquei na boca na ceia do novo ano foram lentilhas. Crendices inocentes me divertem. E eu adoro lentilhas. Recordo-me de, quando criança, ter lido numa bíblia ilustrada que um tal de Esaú abdicara de sua primogenitura por um prato de lentilhas, por armação de seu irmão invejoso, Jacó. Eu não sabia o que era primogenitura nem o que eram lentilhas, mas consegui entender que a troca não tinha sido lá muito inteligente. Só bem mais tarde compreendi que, mais do que perder dons aferíveis em quantidade, Esaú também menosprezara uma tradição, agira sem honra. Enfim, cometera um ato condenável. As lentilhas fui conhecer ainda mais tarde. E adorei.

Três e meia da madrugada, esposa e filha se deitam para dormir. Estou agarrado ao celular, jogando Sudoku. Quem diria... Sudoku. Rendo-me às pálpebras vacilantes quando percebo já faltarem apenas 10 minutos para as 5 da manhã. Por isso eu sabia que o dia começaria tarde.

Acordei às 9 e muito. Não espontaneamente: fui chamado à porta, mas me levantei bem. E um novo dia começou com visitas, uma nova confraternização, crianças espalhando um mundo de brinquedos pela casa. De novo, mesa farta e saborosa, além da reunião com outros membros da família lato sensu.

Deixei quase três parágrafos deste texto na tela do computador e fui viver minha vida. Acabei me esquecendo. Somente agora, às 20h31, sou lembrado da tarefa intérmina e venho concluí-la. Todos já se foram há algum tempo e ficamos apenas nós aqui: eu, Polyana e Júlia, nossa ohana. Um novo ano, enfim, começou. Estamos de acordo que foi tudo bonito e feliz.

Fico na expectativa de que, daqui por diante, só tenhamos diante de nós beleza e felicidade. Que seja assim também para você.

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