quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Fogão em acidente de trânsito

Se eu dissesse que duas pessoas morreram, em uma rodovia, devido a um acidente de trânsito provocado por um fogão, é provável que a primeira reação fosse de dúvida e incredulidade. Como assim? Qual a relação entre um acidente rodoviário e um fogão? Em princípio nenhuma, não fosse pela mania das pessoas de transportar objetos, inclusive grandes e perigosos, de maneira inadequada. Aí o fogão cai do veículo no meio da pista e o condutor do carro, tentando evitar uma colisão, perde o controle de seu veículo e acaba morrendo em condições trágicas.

O culpado pelo sinistro desapareceu na noite. Ao ver as implicações de seu ato, preferiu sumir. Afinal, o que é um fogão perto do tamanho da responsabilidade que ele teria diante de tão grave ocorrência? Foi irresponsável no transporte do equipamento, foi desumano em sua covardia. Duas famílias lamentam suas perdas brutais e não terão o conforto das respostas. Espero que alguém surja revelando a identidade do culpado, porque por enquanto não há testemunhas nem outros meios de prova.

Faz-me lembrar aquele desastre horroroso ocorrido na estrada de Salinas (PA-124), em julho de 2008, no qual cinco jovens morreram carbonizadas. A manobra imprudente de um sujeito levou à tragédia e, até hoje, nunca se chegou ao culpado. Ninguém teve a dignidade de apresentá-lo, já que ele não teve a decência de assumir os seus atos (como fez, p. ex., esta cidadã aqui). Só podemos desejar que sua consciência pese todos os dias, embora isso seja pouco provável.

Esses dois episódios retratam a guerra diária que este país enfrenta no trânsito, sem que se consiga colocar o dedo na ferida: enquanto as pessoas não mudarem de atitude, teremos que continuar a conviver com esses dramas. Não é a lei, nem a fiscalização, nem nada que soe a responsabilidade jurídica: são as pessoas que precisam mudar e passar a ter o sentimento de compromisso, de respeito pelo semelhante, além de por si mesmas, já que o próprio condutor imprudente pode ser a vítima. Ou alguém que ele ame e com quem se importe.

Juro que, se eu soubesse a identidade dos culpados por esses acidentes, eu os entregaria sem hesitação. E não teria problema algum em olhar na cara do sujeito e de seus familiares e dizer: esse é o certo a se fazer. Assuma seus atos. E deixe que aqueles que choram encontrem o fechamento que seja possível em seu luto.

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