Longe de mim falar do que não sei e julgar o caráter de pessoas que nem conheço, mas meu primeiro impulso, ao saber que o Ministério Público de São Paulo vai apurar se o canal Porta dos Fundos violou direitos difusos de cidadãos cristãos por causa de seu vídeo "Especial de Natal", foi pensar: será que não há nada mais importante para o MP paulista fazer? Lá não tem improbidade administrativa, crime organizado, PCC, estoque de processos colossal, essas coisas em que vale mais a pena investir tempo?
Ora, eu sou um cidadão cristão. E não me senti minimamente ofendido, muito menos reduzido em meus direitos, difusos, confusos ou de outra ordem, por causa do vídeo. Muito ao contrário, eu me acabei de rir e considerei um dos melhores trabalhos da equipe, à altura de uma data especial. Achei que eles tinham voltado aos bons tempos.
Além do mais, a provocação ao MP padece de um vício de origem, qual seja a assinatura do deputado e pastor Marcos Feliciano, esta criatura odiada pela expressiva maioria da população brasileira (ou então os seus asseclas são muito tímidos, porque ninguém fora da igreja dele fala a seu respeito senão para repudiar seus sucessivos desatinos). Claro que não é por ser, o representante, uma pessoa odiosa e sem credibilidade que o MP deveria rechaçar suas pretensões, mas devido ao ódio que o mesmo nutre pelos comediantes, com os quais já teve outros embates. Aliás, a trupe já gravou o vídeo "Deputado", inspirado justamente em seu inimigo público n. 1. O fato é notório.
Parece bastante claro que, sem apoio popular, o deputado pretende atingir financeiramente a produtora dos comediantes, ou eles individualmente, e para não ser acusado de locupletamento, quer que o dinheiro vá para os fundos de direitos difusos. O objetivo é dificultar a vida dos inimigos, não defender qualquer causa justa. Até porque, se fosse mesmo para lutar por causas justas, o deputado pastor poderia começar explicando aquele outro vídeo famoso do YouTube, no qual aparece dizendo que os fieis devem entregar à igreja o cartão de crédito e a senha, pois senão depois Deus não vai conceder nenhuma graça e ele não poderá reclamar!
Isso aí não viola nenhum direito cristão, não? Gostaria que o MP paulista me respondesse. E se a pergunta for muito difícil e ele mesmo não saiba responder, poderia começar me dizendo qual crime em tese haveria no tal vídeo, para justificar o encaminhamento do caso à Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância.
Intolerância. Seria cômico se não fosse trágico. Numa hora dessas não aparece um procurador ou promotor de justiça que, invocando a prerrogativa de independência funcional, prevista em lei, mande essa representação para o quinto dos infernos, que é o seu lugar, inclusive de origem. Palhaçada.
Um comentário:
Yudice, hoje em dia tudo virou constrangimento ou ofensa. Acho que a radicalização da defesa de fé ou ideologia está acarretando este tipo de iniciativa. Os ateus querem que tirem a frase "Deus seja louvado das cédulas", ao seu turno, os cristão representam contra as paródias que julgam ofensivas a sua fé. Eu acho que vai piorar está situação. Pessoalmente, a expressão na cédula é bobagem, tanto faz ficar ou retirar, como também as paródias sobre o Natal.
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