sábado, 9 de novembro de 2013

A velocidade do Brasil

Há coisas que simplesmente não fazem o menor sentido. Ou até fazem, mas é preciso ser muito calhorda para partilhar dele. Veja-se o caso da velocidade dos serviços de internet banda larga em nosso país. O regulamento atual determina que a operadora precisa assegurar uma velocidade mínima diária. Sabe de quanto? De apenas 30% do contratado. E a média mensal deve ficar em 70%.

Na matemática do Brasil, portanto, você contrata um serviço de 10 megabytes, mas se ele funcionar a 3 MB, tudo bem. E como o ritmo ora diminui, ora aumenta, o importante mesmo é o resultado mensal. Que deve corresponder ao valor contratado, certo? Errado. Se ficar em 7 MB, tudo ótimo. Média 7, você passa. Aí vêm os provedores de serviço e dizem cumprir as regras da Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL). E eles cumprem mesmo! O mais triste é isso: o governo é que cria as condições para que essa gente continue nos roubando impunemente.

Ainda mais interessante de que o silêncio eloquente das autoridades de defesa do consumidor ou do Ministério Público é não haver regra correlata em favor dos consumidores. Por exemplo, você contratou um serviço de internet prometendo pagar 100 reais pela assinatura, mas decide pagar apenas 30 reais. Isso deveria ser admitido, desde que no mês seguinte você pagasse um valor maior, numa relação que, ao final do ano, garantisse um pagamento médio de 70 reais por mês. Isto deveria bastar. Afinal, constitui regra elementar do direito que, se um contratante descumpre a sua parte na obrigação, o outro está desonerado da sua. Rigorosamente falando, pelas características próprias do direito do consumidor, se eu não recebo o que pedi, eu não deveria pagar nada, nem sequer 30% do contratado.

Mas como você tem um boleto, não dá para pagar um valor menor, só o que consta dele. Se for débito em conta, a graninha sai do seu saldo sem que você veja. E se o pagamento não for feito nos valores contratados, você fica sem serviço e pode acabar com o nome inscrito em algum cadastro de inadimplentes, o que traz uma série de dissabores. E qual é o cadastro de inadimplentes que existe para inscrever as empresas que prestam um serviço ruim, mesmo cobrando os preços mais elevados do mundo por ele?

Sim, eu sei que a questão também é técnica. Mas se o problema é a quantidade de usuários, resolve-se investindo para aumentar a capacidade do serviço. Ou então, se você sabe que não consegue oferecer mais do que 7 MB, você vende apenas 7 MB e não 10, admitindo não poder fazer mais do que isso. Aí eu decido se vale a pena contratar você ou não. O que não deveria poder é prometer um valor e oferecer menos.

Enfim, isto tudo é mais do mesmo. É o capitalismo brasileiro: o setor econômico entra com o pé e você, com a bunda. E estou sendo muito elegante ao dizer "pé". Por isso, esta postagem não é uma reclamação contra o capitalista, que sempre esteve muito à vontade para nos explorar. É uma reclamação contra o governo. E uma débil manifestação de esperança de que os brasileiros, informados dessa realidade, um dia queiram chutar o balde contra as empresas, num movimento coordenado e de longa duração. Provavelmente, seria a nossa única chance.

Fonte: http://g1.globo.com/jornal-hoje/noticia/2013/11/reclamacoes-sobre-velocidade-da-internet-aumentam-315-em-um-ano.html

2 comentários:

Ana Miranda disse...

E aqui em casa que colocaram não sei quantas megas de não sei o quê e voltaram para diminuir porque não funcionou??? A internet ficou mais lenta ainda...

Resposta dada??? Minha casa fica longe da fonte não sei de quê.

É bem assim mesmo, explicam, explicam e eu não entendo nada...

Yúdice Andrade disse...

Pois é, minha querida. Sempre há uma explicação técnica altamente relevante. Mas eu não quero explicações e sim soluções. Qualquer coisa que essa canalha diga sempre pode ser redarguida com o mesmo argumento: então por que vendem aquilo que não são capazes de fornecer? Por acaso não sabiam disso?
Quero falar sobre o abatimento do preço!