quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Intervenção federal no Maranhão?

Meu amigo Marcelo Santos, radicado em São Luís há alguns anos, não se impressionou com essa conversa de intervenção federal no Maranhão por causa dos crimes assustadores que estão sendo perpetrados há algumas semanas, tendo relação com disputas de poder dentro do sistema penitenciário. Em seu perfil no Facebook, ele recordou rapidamente alguns motivos pelos quais a medida extrema já poderia ter sido cogitada:

  • o saneamento básico ainda não é realidade em mais de 70% da capital; não mencionou os números do interior, mas se pode deduzir a situação;
  • além dos baixos índices de qualidade da educação pública, a última greve atrasou o ano letivo em 6 meses; 
  • no próprio campo da segurança pública, apenas duas delegacias de polícia mantêm plantões para dar conta dos crimes cometidos durante o final de semana, enquanto as demais permanecem fechadas;
  • a valiosa cultura local está prejudicada, pois os museus estão quase à mingua e os teatros há muito custo são mantidos pelos profissionais das artes da capital, não se sabendo como andam as coisas no interior
Mas o Sarneyquistão, como ele se refere, também oferece delirantes exemplos de má gestão pública, capazes de justificar intervenções até do capeta. No mesmo Facebook, acabei de ver a indignação de uns tantos com a notícia de que será aberta uma licitação milionária para abastecer a cozinha da residência oficial da governadora Roseana Sarney. Para começar, muitos Estados nem mantêm mais residências oficiais; enquanto isso, no Maranhão, a lista dos regabofes inclui 80 quilos de lagosta fresca (R$ 6.373,60); 2 toneladas e meia de camarões, entre frescos e secos (mais de R$ 100 mil); 950 kg de sorvete, de 8 sabores (quase R$ 55 mil); R$ 40 mil em filé de pescada amarela fresca; R$ 39,5 mil em patinha de caranguejo fresca (clicando neste link você tem acesso à reportagem e à lista completa da governadora).

Anos atrás, a divulgação de uma nababesca lista de guloseimas para o Supremo Tribunal Federal causou péssima repercussão e motivou que o Conselho Nacional de Justiça regulamentasse os gastos com alimentação no poder judiciário. Mas duvido que no Estado vizinho, cujos governantes de regra não enxergam nenhum problema, ocorra algo semelhante.

Estranheza, mesmo, provoca o silêncio sepulcral da OAB, Seccional Maranhão, em relação à crise aguda de violência na capital do Estado, eis que a questão penitenciária é uma das áreas de maior atuação de nosso órgão de classe. A OAB nunca se cala diante do problema, exceto no Maranhão. O Conselho Federal, por exemplo, está ativo (leia aqui). Agora chega a notícia de que o presidente da seccional maranhense foi advogado de Roseana Sarney perante o Tribunal Superior Eleitoral. Somando-se a isso a quantidade de pessoas com sobrenome Sarney também no judiciário, pode-se compreender o sentido daquela conhecida expressão, famosa em outros carnavais: "tá tudo dominado".

O problema, meus caros, é que aqueles que dominam dentro dos presídios decidiram se manifestar. Na briga de foice entre eles, e entre eles e o poder público, corre-se o risco de transferir a fatura tanto para os presos que não foram condenados à morte e não entraram no esquema no poder dos chefões, quanto para a população civil nas ruas. E o preço cobrado é alto. Muito alto.

Acréscimo no começo da madrugada de 9.1.2014:
E não é que me enganei? A licitação para a comilança no Maranhão foi adiada por tempo indeterminado. Mesmo no Estado vizinho, a opinião pública ainda surte algum efeito.

Um comentário:

Anônimo disse...

Além de tudo isso o que falaste, ainda há a exportação de bandidos para o Pará. Não satisfeitos em não resolver os próprios problemas, ainda empurram a sujeira para os vizinhos.