domingo, 10 de novembro de 2013

Les revenants

Sem ter a mínima ideia do que se tratava, dia desses vi algumas cenas do seriado Les revenants, do Canal+ e exibido no Brasil pelo canal fechado Max. O interesse foi imediato. Bastou arranjar um tempo e tratei de assistir. Numa tentativa de sinopse, pense que, um belo dia, sem qualquer motivo aparente, pessoas que já morreram simplesmente retornam (daí o título). Podem ter morrido há poucos anos ou há décadas, mas retornam em aparentes perfeitas condições, embora famintas, como se nada houvesse acontecido, sem nenhuma memória a partir do instante de suas mortes.

As gêmeas Camille e Léna com os pais separados
e graves problemas relacionados à fé.
De saída, trata-se de um seriado francês, portanto esqueça as soluções mercadológicas típicas dos estadunidenses. A estória é contada sem pressa, sem a preocupação com picos dramáticos (embora o episódio de estreia me pareça dramático o suficiente) e sem o hábito dos menos inteligentes de explicar tudo. Uma pessoa com dois neurônios ativos entende que as irmãs gêmeas Camille e Léna possuíam um código de comunicação através de batidas na parede. Assim, Léna se assusta com as batidas que somente uma pessoa no mundo poderia conhecer e já está atônita quando a porta do quarto se abre. Mas a retornada Camille também fica em choque quando sua irmã gêmea lhe aparece quatro anos mais velha, dando início à cena mais forte do episódio.

Simon ressurge no espelho, mas não é uma alucinação: é totalmente real
e Adèle não parece minimamente em condições de lidar com isso.
Les revenants, que se origina em um filme de 2004, tem um quê de José Saramago, pois o grande mestre português criava reflexões extremas sobre a alma humana a partir de premissas impossíveis, acontecimentos gravíssimos porém restritos a apenas um país, como a cegueira branca de Ensaio sobre a cegueira e a impossibilidade de morrer de As intermitências da morte. No seriado, ao que parece, os mortos voltam à vida apenas em uma pequena e pacata cidade francesa. E nem todos. Por qual razão esta e não aquela pessoa?

Vendo o desenrolar da trama, só conseguia pensar que, em algum momento, os retornados terão que lidar com a verdade, que não lhes pode ser mitigada. Por conseguinte, eles também têm grandes desafios pela frente e eu diria que bem maiores do que os sobreviventes. Afinal, estes sempre podem tomar medidas extremas, como o Sr. Costa. Não direi o que aconteceu.

Não quero essa praga perto de mim nem por um segundo.
Mas o seriado não pretende ser apenas uma discussão sentimental. Entre os retornados está Serge, carinhosamente conhecido pelo epíteto de "canibal", um sujeito que tem compulsão por matar mulheres, o que faz com bastante prazer. E um inocente garoto que quase não fala, mas que assim que surgiu na tela me causou uma impressão bastante desagradável. Eu não lhe daria as costas. E ao ver a última cena do piloto, ficou bem claro que tenho boas razões para pensar assim.

Minha atenção está totalmente comprada. Vale muito a pena ver esse novo seriado, que está fora do circuitão. A primeira temporada tem apenas oito episódios de 60 minutos, mas a segunda já está confirmada, ainda sem data para exibição. Há versões sendo produzidas na Inglaterra e nos Estados Unidos...

Acréscimo em 11.11.2013:
O amigo flâneur Francisco Rocha Júnior viu o filme que originou a série, o qual foi exibido em Belém em condições bastante sintomáticas: no ano de 2007, três após o seu lançamento, e no Cine Líbero Luxardo, aquele que são poucos os que conhecem. A respeito, ele escreveu duas postagens no Flanarhttp://blogflanar.blogspot.com.br/2007/11/os-retornados.html e http://blogflanar.blogspot.com.br/2007/11/imortalidade.html.

Dá para ver como a série é um pouco diferente, já que, como destaquei, não foram todos os mortos do período que retornaram. A bela porém incorreta cena em que uma borboleta retorna à vida dentro de um quadro, enquanto todas as outras permanecem mortas, logo no início do piloto, é uma boa demonstração disso.

Saiba mais: 

Um comentário:

Francisco Rocha Junior disse...

Yúdice,

O filme passou no cineminha do Centur em 2007. Fiz dois posts sobre ele no Flanar, à época: http://blogflanar.blogspot.com.br/2007/11/os-retornados.html e http://blogflanar.blogspot.com.br/2007/11/imortalidade.html.
É perturbador e melancólico.
Não sabia que o filme tinha virado série. Interessei-me. Vou seguir tua dica.
Abraços.