terça-feira, 18 de agosto de 2009

Otoió tês

Sou apaixonado por minha filha. Dizer isto é uma obviedade tremenda, claro, mas penso que às vezes é importante dizer e repetir algumas obviedades.

À medida que o tempo passa e ela cresce, nossa relação se intensifica. Isto também é previsível, mas não poderia deixar de registrar o quão graciosa e adorável é a atual fase. No próximo domingo, ela completará 13 meses. Agora, mantém conosco uma relação muito mais consciente, que nos permite os rudimentos de uma conversa. Antes, externava suas vontades materiais apontando na direção da geladeira ou do brinquedo. Agora, balbucia sons e responde perguntas primárias. Se perguntamos se ela quer comer, p. ex., responde "té" em caso afirmativo, ou fica em silêncio, se negativo. Aprendeu, portanto, a se comunicar de maneira eficiente, para questões objetivas.

Tagarela que só ela, passa um longo tempo matraqueando sons ininteligíveis. Mas hoje observei que são sons coerentes para ela. Em meio a suas "frases", ela disse duas vezes algo parecido com "otoió tês". Minutos mais tarde, em outro cômodo da casa, repetiu a expressão, falando com aquela carinha séria de quem está, de fato, expressando uma ideia.

Sabemos que "tês" corresponde ao número "três", que para ela parece significar qualquer número. Se perguntamos sua idade, a resposta é "tês". Quantos dedos tem na mão, "tês". Quantas figuras na página do livro, "tês". Tudo porque fizemos a maior festa quando ela disse "tês" pela primeira vez. E crianças são movidas pelo desejo de agradar. Como os adultos, por sinal.

Enfim, nunca saberemos o que significa esse "otoió tês". Mas que é uma delícia escutar aquela voz doce, compenetrada, falando conosco, ah isso é!

4 comentários:

Carlos Barretto  disse...

O meu mais velho, quando bem novinho, inventava palavras esquisitas também. Uma delas, jamais saberei o que significa:
IOCONÔ!

Então, "Ioconô" para vc, Yúdice!

Yúdice Andrade disse...

Interessante como esse dialeto de bebês lembra o japonês, não? "Otoió", "ioconô"...
Acho que devemos perguntar a algum fonoaudiólogo se há uma razão científica para isso.
Otoió para ti.

Ivana Braga disse...

De certo que é uma delícia escutar uma voz doce falando conosco e pedindo nossa atenção. Aparentemente, as palavras que nossos filhos balbuciam não tem significado algum,talvez porque não entendamos, a princípio. Mas a ternura com que falam nos faz compreendê-las totalmente. Meu filho já está com dois anos e quero dizer que ser tagarela não é privilégio feminino. Costumo bricar que ele engoliu a pílula falante da Emília (Sítio do Pica-pau Amarelo), pois fala o dia todo.
Um grande abraço.

Yúdice Andrade disse...

Minha querida Ivana, ótimo te encontrar por aqui!
Esta experiência é sublime. E, de fato, penso que eles têm uma coerência própria, uma intencionalidade naqueles balbucios todos, mesmo que não consigam reproduzi-los, já que ainda não desenvolveram a longuagem. A delícia é escutá-los e basta.
Abraço enorme.