Crônica de uma morte anunciada, o estacionamento do Tribunal de Justiça do Estado entrou em colapso. A demanda é muito superior à disponibilidade de espaço físico — nem digo mais de vagas, porque há muito se institucionalizou a prática de parar trancando veículos ou mesmo subindo canteiros. A solução para o problema? Honestamente, desconheço. Talvez a abertura de um estacionamento subterrâneo ou a construção de uma laje (o que acabaria com o aspecto estético). Talvez pedir mais espaço ao Comando Geral da Polícia Militar. Não sei.
Enquanto isso, a secretaria de administração do TJ tomou uma medida mitigadora e baixou uma portaria disciplinando o acesso ao estacionamento, que continua franqueado apenas aos "magistrados, servidores, advogados e jurisdicionados". O problema é que jurisdicionados somos todos nós, ou seja, ao pé da letra, toda e qualquer pessoa pode, em tese, acessar o estacionamento. Qual o sentido, então, da norma restritiva? Para entender, basta prosseguir na leitura. Assim descobrimos que, na verdade, os únicos que não podem mais estacionar no TJ são os estagiários, expressamente citados como alvo da vedação.
Antes que façam as piadinhas, devo lembrar que os estagiários são nossos colaboradores e, a par de estarem aqui para aprender (o que é interesse precípuo deles), também nos ajudam a dar vencimento do serviço (o que é interesse público). Numa sessão em que o Tribunal Pleno decidiu reduzir o valor da bolsa de estágio, uma desembargadora que se opôs a essa medida destacou a relevância do apoio que os estagiários nos prestam. E isso é fato: se o estagiário for bem orientado e corretamente cobrado, ele pode fazer muita coisa — e muita coisa boa.
Além do mais, embora a efetiva restrição de acesso tenha de fato o poder de liberar espaço físico, não resolve o problema. Algo maior e mais definitivo deveria ser pensado, lembrando que no entorno do TJ — avenidas Almirante Barroso, Júlio César e Dr. Freitas — é proibido estacionar.
6 comentários:
O estacionamento do GLS (calma, calma, é só o Grande Lauro Sodré) devia ser destinado exclusivamente ao público que precisa dos seus serviços e é quem realmente paga a conta. Franqueado aos servidores e agora aos estagiários, que já são tantos e a ponto de sair pelo ladrão, não haverá espaço que cheque. Nunquinha. Uma solução: cobrar pelo estacionamento. Aí espanta os espertinhos, como espantou nos shoppings.
Gostaria de lembrá-lo, anônimo, que os servidores também pagam essa conta, porque são igualmente cidadãos contribuintes. Além do mais, em qualquer lugar que funcione com lógica, se estacionamento há, ele não pode ser vedado àqueles que fazem a coisa andar - e isso me parece óbvio.
Para cobrar eficiência, é preciso fornecer condições de trabalho. Um espacinho para estacionamento, sem luxo, é o mínimo, não?
Yúdice, o que me chama a atenção no novo prédio do TJE é sua imponência ao lado de uma escola do Estado caindo aos pedaços.
Espere só até chegar o dia que a sua esposa e a sua filha forem lhe fazer uma visitinha no trabalho, cada uma em seu carro.
O Judiciário possui orçamento próprio, Luiz. Mas sei que isso é uma explicação mais de cunho formal. Sempre poderemos questionar, inclusive quanto à distribuição do bolo orçamentário, as opções de investimento do poder público. Elas, o mais das vezes, são péssimas, mesmo.
Meu amigo Fred, eu realmente gostaria de ter cacife para possuir três carros em casa, mas duvido de que isso vá ocorrer (não sou exatamente um otimista). E se acontecesse, te asseguro que não ocuparíamos três vagas de garagem. Eu me importo demais com os outros para cometer esse tipo de falseta.
O problema do estacionamento é apenas um dos inúmeros que derivam da mentalidade dominante entre aqueles que fazem a gestão da coisa pública. Em vez de servirem, muitos acabam se servindo da coisa pública, fazendo dela uma extensão da coisa privada. Era fácil prever, posto que evidentíssimo, que o tamanho do estacionamento do TJPA não seria suficiente para abrigar o universo de pessoas que, eventualmente ou não, frequentam o Tribunal (magistrados, servidores, advogados, partes, etc). Assim sendo, alguma medida deveria ter sido pensada e implementada quando da construção do prédio (você, sem ser engenheiro, deu algumas no post). Contudo, como a cúpula do TJPA (desembargadores e altos funcionários) têm suas vagas asseguradas - vagas privativas - então devem ter pensado: "os mortais que briguem pelo resto, quem pegar a vaga pegou". Ou seja: o jurisdicionado que se dane. Veja só, não tenho nada contra os desembargadores terem vaga reservada, acho até normal, razoável. Mas me pergunto: e o jurisdicionado? Afinal toda aquela estrutura está ali para servir ao jurisdicionado. Magistrados, advogados, servidores (olha essa palavra), parquet, etc, etc, existem para, sob diferentes primas, servir ao jurisdicionado. Sendo que há uma diferença fundamental: enquanto os advogados são remunerados por seu cliente, dinheiro privado portanto, os servidores são pagos com dinheiro público. Essa "inversão de prioridade" não é notada apenas no TJPA; No Fórum Cível, por exemplo, quase não há cadeiras nos CORREDORES onde as partes e advogados aguardam o pregão para as audiências; sala de espera, com ar-condicionado - presente em todas as secretarias e gabinetes - nem pensar. Bebedouro: vai sonhando! Banheiro não tinha, depois da reforma do Fórum Cível passou a ter um por andar (não sei em quais condições, pois nunca me aventurei). Volto a dizer: não acho nada errado que as secretarias e os gabinetes tenham ar-condicionado ou que os servidores e magistrados tenham um banheiro privativo. O problema não é fato em si, mas o que ele representa, a mentalidade que ele revela. E tais fatos não são isolados. Quem frequenta o fórum trabalhista de Belém vê as mesmas discrepâncias de tratamento. No meu escritório as vezes desligo o ar-condicionado para economizar e fico no calor, mas se chega um cliente ligo imediatamente, não precisa nem ele pedir. Afinal é ele, cliente para mim e jurisdicionado para o Estado, a razão de existir do meu escritório e, principalmente, de toda a "estrutura" do Judiciário.
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