segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Gente que só executa

Uma resolução do TSE proíbe a presença de crianças na cabina de votação. Não sei exatamente o motivo. Duvido que uma criança, ainda que faladora e cheia de comentários desconcertantes, ou mesmo danada, possa comprometer a segurança ou a lisura do processo eleitoral. Será que a molecada, em 2010, já pode fazer proselitismo partidário ou sabotar urnas? Fraudá-las, talvez?
Mas ontem, como sempre acontece, crianças fizeram a festa nas seções por aí afora. A enteada de um amigo, de nove anos, confirmou todos os votos da mãe. Esse mesmo amigo bateu o maior papo com um menino de quatro anos, que entrou na cabina com a mãe. Um dos candidatos mais bem sucedidos do país, o governador reeleito do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, apareceu votando em companhia de seu neto. Não me consta que esses ilícitos tenham prejudicado o  processo eleitoral em alguma medida.
Justamente comigo tinha que ser diferente.
Júlia foi conosco para a seção eleitoral apenas porque nos deslocávamos para almoçar com a família, logo em seguida. Eu e Polyana entramos juntos na seção. Enquanto eu aguardava ser autorizado a votar, Polyana estava sentada do outro lado da sala, preenchendo o formulário de justificativa. Mas explicou a Júlia que eu votaria num computadorzinho onde apareceriam as fotos dos candidatos. Claro que ela quis ver. Quando entrei na cabina, ela correu na minha direção, mas a presidente da seção disse, bruscamente, que era proibido. A menina estacou e ficou um tempo sem saber o que fazer, para em seguida desatar num choro intenso. Como votei rápido, nem insisti pela presença dela. Preocupei-me em terminar logo para acalentá-la, mas mesmo fora da seção a criança continuava dizendo que queria ver "o computadorzinho". Aí o sangue me subiu. Saí protestando contra as pessoas que não pensam, como a obtusa e limitada presidente da minha seção.
Para gente como ela criei a categoria de pessoas que somente executam.

11 comentários:

Anônimo disse...

A presidente da seção eleitoral está certa.
Cumpriu a lei.
E lei é para ser cumprida.
Sabia?
Mesmo no Brasil, onde ninguém obedece ninguém.
Se criança menor de idade não pode votar, também não pode entregar na cabine indefazável. Se a moda pega, imagine, a sala secreta do júri criminal cheia de pimpolhos, gritando etc.
Ninguém merece, né?
Irrelevantes e equivocados os exemplos dados na postagem, porque um erro não justifica o outro.
Procure, enfim, educar a sua filha. Moral e cívica não fazem mal a ninguém. Disciplinam.
Valeu!

Yúdice Andrade disse...

Como hoje estou com o humor ótimo, resolvi abrir uma exceção e publicar o seu comentário, anônimo que não me esquece. Alguém que me ama tanto e que visita tanto o meu blog, deixando sempre apupos de todo tipo, merece essa atenção.
Mas eu só publiquei o seu comentário para destacar isto: "cabine indefazável"?
Vou te ensinar pelo menos isto: a palavra é indevassável.
Qualquer coisa, posso desenhar. Sabe como é, temos que falar de acordo com o nível do interlocutor, não é?

Belenâmbulo disse...

"É norma, moço!"
Parece que você não entende...
O país precisa de cumpridores de ordens. Imagina se a maioria começa a questionar?

Yúdice Andrade disse...

Pois é, meu amigo. Já pensou se começar a aparecer gente exigindo que eles pensem? Como vai ser?

Ana Miranda disse...

Eu tive muita sorte, meus filhos quando crianças, votaram muito conosco.
A Carol ia com o pai e o Rodrigo, comigo.
E eles votavam direitinho.
Naquela época eu ainda votava...
Buááááááááááááááááá...
Quero querer votar novamente.
Se bem que, que ninguém aqui me ouça, ontem eu votei 00- CONFIRMA de deputado estadual a governador.
Para presidente eu votei no Serra.
Falei isso bem baixinho na esperança de ninguém aqui ter ouvido.
Ai meu jesuisinhocristinho!!!(e eu sou ateia)

Tanto disse...

Eu cheguei a votar com minha mãe e minha filha chegou a votar comigo. Depois de um tempo ela não pôde mais votar, imposição da Justiça Eleitoral.
Mais depois ainda fui chamado para ser Presidente de Mesa. Durante o treinamento, fui orientado a não deixar crianças votarem (orientação passada pelo juiz eleitoral e outros servidores do TRE). Eles me deram uma série de razões e explicações que convenceram, e por isso não permito que crianças votem com os pais na seção que presido.

P.s.: por estar trabalhando minha filha ficou com meu pai. E com meu pai ela foi autorizada a votar. E votou.

André Carim disse...

Caro Yúdice:
O bronco das 05h56min conseguiu subjugar a Presidente da tua Sessão Eleitoral em matéria de falta de educação e respeito. O insolente, escondido no anonimato covarde, ansiou dar lições de moral no comentário pobre de conteúdo que obrou, possível fruto da inveja que acalenta da tua formação moral e intelectual. Informo ao infeliz que a proibição de crianças nas cabines de votação é tentativa de coibir a compra de votos, pois menores estavam sendo usados por cabos eleitorais como observadores, visando confirmar se o eleitor votou no candidato corrupto. Parabenizo tua tranqüilidade no trato com esse tipo de pessoa, no que, como percebes, somos distintos. Quero te dizer que eu e minha esposa acompanhamos com gosto os divertidos relatos que fazes das peraltices da Júlia, já muito querida lá pros nossos lados.
Abraços do amigo,
André Carim

Jean Pablo disse...

Avisar ao anônimo que o cumprimento da lei deve ser pautado pela razoabilidade.

No caso citado não houve sequer qualquer atentando à democracia.

O "legalismo" pregado por muitos é algo que me espanta.

E qualquer um entendeu que o modo como foi a abordagem à uma criança que foi incorreto e não o ato em si. Ou seja, que tentasse explicar para a criança e não desse um berro dizendo: "PROIBIDO".

Mas enfim, cada um interpreta de qualquer forma.

Abraços!!!

Yúdice Andrade disse...

Existe a categoria do "ateu, graças a Deus". Vai ver que é o teu caso, Ana...

Fernando, gostaria que me informasses quais foram os argumentos que te convenceram. Gostaria de avaliá-los. Quero deixar bem claro que não sou um pai permissivo e nunca tive arroubos de deixar a criança fazer o que bem entenda. Como pai, apenas ratifiquei uma postura rigorosa que já possuía. Mas sou regido pelo bom senso. Posso ser convencido de quase tudo, desde que me forneçam razões defensáveis.
Veja bem, uma criança aos berros, dentro da seção eleitoral, mas longe da cabina de votação, causa a meu ver mais prejuízos do que uma outra, silente, diante da cabina. Sua curiosidade pelo ato de votar pode ser um mote interessante para nós, pais, ensinarmos a ela o que é democracia representativa e exercício da cidadania.
Achei interessante dizeres que tua filha acompanhou o avô na votação. Não externaste nenhuma opinião sobre isso, mas eu também gostaria de saber, se possível.

Ah, caríssimo André, não te iludas com o discurso do anônimo. É um estafermo que aparece por aqui quase todo dia, criticando o que quer que eu escreva. Se um dia eu salvar a vida de um ser humano e escrever sobre isso, ele me criticará também (pelo salvamento e pela divulgação).
Grato por colocar a questão da presença de crianças na seção eleitoral em termos mais concretos. E mais ainda por todo esse carinho com a minha filhotinha.

Jean, a legalidade e a razoabilidade andam juntas. Disseste tudo. Basta um pouquinho de bom senso para perceber-se isso.

Anônimo disse...

Tomara que o senhor um dia seja chamado a trabalhar nas eleições como Presidente...
Na primeira vez que trabalhei deixei uma senhora com duas crianças, que se estapearam para decidir quem ia teclar os números (tive medo que derrubassem a urna).Os demais casos não foram graves mas sem dúvida atrasavam o andamento da fila...
Nesta eleição, tendo sido o assunto devidamente pacificado pelo TSE não permiti tal prática, não só por concordar com a decisão: se não concordasse também cumpriria, pois norma é norma e quem trabalha nas eleições se equipara a funcionário público e tem o DEVER (não a faculade) de zelar pelas regras estabelecidas pelo Poder Público.
Assim meu caro, mais uma vez, espero que vossa senhoria seja um dia convocado para ver como as coisas são na prática.

Yúdice Andrade disse...

Das 13h32, dezoito anos atrás, quando cursava Direito na UFPA, tive um grande professor que gostava de repetir "Direito é bom senso". Jamais esqueci isso. É uma grande verdade: Direito é bom senso.
Concordo com absolutamente tudo que você escreveu. Realmente, eu também teria medo pela integridade da urna. Teria ficado furioso se um bobalhão atrasasse o andamento dos trabalhos por causa dos filhos. Sei que o servidor público tem deveres e não faculdades. Etc., etc. Mas toda norma precisa ser interpretada a aplicada com senso. Tenho medo e horror às pessoas que não conseguem perceber isso. Daí, por sinal, o título da postagem.
Lamento as pessoas que, por "cumprirem ordens", não pensam no que fazem. Lamento, inclusive, que até agora ainda não tenham entendido que eu não fazia questão absoluta de levar minha filha à urna. Minha crítica foi à forma como a presidente lidou com a situação. Ela deveria ter-se dirigido a mim, não à criança.
Enfim, o problema foi o como, não o quê.
E sim, eu acho que ter crianças na urna pode ajudá-las a desenvolver consciência cidadã. Naturalmente, não para crianças do tamanho de minha filha. Mas para maiores, sim. Pena que falte perspicácia para entender isso.
PS - Se Deus quiser, eu jamais serei presidente de seção eleitoral. Deus me livre.