Presas deixam contêineres e ganham celas coloridas
Cerca de 300 mulheres deixaram o convívio com os ratos em vagões de metal por carceragens mais dignas
ERCÍLIA WANZELER
Daqui a pouco mais de um ano, Roberta Monteiro, 26 anos, vai ganhar a liberdade. E já faz planos para quando sair do Centro de Reeducação Feminino (CRF), onde está presa há quatro anos e onze meses. “Estou terminando meus estudos e tenho planos de fazer faculdade de direito”, conta.
Até ontem, Roberta era uma das 307 internas que viviam presas em contêineres. A realidade do lugar assusta. Pequenas celas, ambiente escuro. “Mostra aqui que tem muito rato”, pediam as detentas, apontando os espaços próximos às celas. “Lá é um lugar muito quente e sujo. Não dá pra viver. A gente sobrevive mesmo, é como se estivéssemos em uma selva, perdida, não sabendo pra onde ir”, afirma Roberta.
Justiniano Neto, superintendente do Sistema Penitenciário do Pará (Susipe), anunciou ontem que o espaço “condenado por todos” seria desativado. “Estamos pondo fim ao contêiner feminino”, disse. Para isso, as internas começaram a ser transferidas para um novo espaço, batizado de “Primavera”. O local tem capacidade para 480 internas. “É uma maneira mais humanizada de cumprir pena, ter outra opção de vida”.
As oito unidades prisionais com contêineres serão desativadas. De acordo com o superintendente, os contêineres serão destruídos e o ferro será doado para ações de instituições de caridade. Um sistema de vídeo-audiência também foi inaugurado, que possibilitará a realização de audiências judiciais virtuais. O processo é possível por meio de um link diretamente ligado a uma sala no Tribunal de Justiça do Estado (TJE).
Esse sistema de vídeo possibilita uma maior agilidade nos processos, já que as detentas não precisarão se deslocar para o julgamento. “Por que não utilizar a tecnologia? Assim o Judiciário pode ser atendido na urgência que merece”, afirmou Geraldo Araújo, secretário de Segurança Pública do Estado.
PRIMAVERA
O novo espaço tem uma área de 2.340 m² e custou R$ 1.494.760,96. O local é dividido em dois módulos com quatro blocos carcerários. Cada um possui capacidade para 120 internas. Cada bloco possui dez celas com doze lugares e todas possuem lavatório.
CORES
O espaço foi pintado de lilás, rosa e verde, cores escolhidas pelas próprias detentas. “Optamos por essas cores por ser mais feminino, deixa o lugar mais decente e arejado”, conta Roberta.
Enquanto a liberdade não vem, ela diz que tenta aproveitar as oportunidades que surgem. “Tenho consciência que preciso cumprir a minha pena e sei que tudo na vida tem um tempo determinado. Faço parte do grupo de dança e de violão e quero sair daqui bem encaminhada, vendo a vida de outro jeito”.
Reportagem do "Diário do Pará" de hoje (caderno A8). Fotografia de Anderson Coelho.
Observação minha:
Pequenas coisas, algumas aparentemente insignificantes, como a cor das paredes, podem exercer um efeito altamente benéfico sobre a autoestima de detentos, reforçando o propósito de retomar uma vida honesta quando retornarem ao convívio social.
As detestáveis celas improvisadas em contêineres já vão tarde. Não podemos nos esquecer que o governo do Estado só fez esse investimento porque formalmente enquadrado pelo Ministério Público e Judiciário. Finalmente, essas 307 mulheres ganharão um pouco mais de dignidade. Agora só falta todo o resto da população carcerária.
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