sábado, 23 de dezembro de 2006

Caos aéreo

Brasileiro sofre. Até 29 de setembro último, vivíamos a doce ilusão de que nossos céus eram, além de mais azuis, bastante seguros para a aviação. Aí o avião do vôo 1907 da Gol caiu e com ele a nossa ingenuidade. Agora sabemos da imensa área cega no meio do Brasil; agora sabemos que os controladores de voo simplificavam os procedimentos, para que o tráfego aéreo fluísse melhor, a fim de compensar as dificuldades operacionais; agora sabemos que a infraestrutura de controle do tráfego aéreo está muito deficitária; agora sabemos que os controladores brasileiros chegam a monitorar vinte aeronaves simultaneamente, enquanto nos Estados Unidos esse número não passa de sete; agora sabemos que temos menos frequências de monitoramento, nem todas funcionam, mas todas estão ligadas ao mesmo servidor, quando deveria haver outro(s) auxiliar(es); agora sabemos que as autoridades responsáveis simplesmente não falam a mesma língua; agora sabemos...
Tenho uma viagem marcada para segunda-feira, dia de Natal! Que tal trocar a família e o conforto de um dia festivo por um monte de angústias e tudo que temos visto na TV — desinformação, menosprezo, desrespeito, horas incertas em algum aeroporto lotado... Enquanto os passageiros se revoltam, nada melhora. Já tem passageiro sendo detido, acusado de agressão. Aquelas pessoas que perderam órgãos para transplante não me saem da cabeça... Estou pensando em desistir, dependendo do andamento das coisas. O site da Agência Nacional de Aviação Civil é o que mais visito, agora, atrás dos boletins diários sobre a situação nos aeroportos brasileiros. Medo...
Brasileiro sofre. Houve um tempo em que nada disso acontecia. Mas não acontecia porque os controladores de voo não faziam "operação padrão" que, no Brasil, significa tão somente cumprir as rotinas. Ou seja, fazia-se menos do que o necessário para a efetiva segurança aeronáutica. Logo, qualquer um de nós podia ter morrido no ar. Grande consolo...
Enquanto isso, o Presidente Lula informa que a crise terminará amanhã. Mas ouvimos isso há semanas, meses! Portanto, crise aérea virou fiado. Sabe aqueles cartazes em bares de periferia? "Fiado só amanhã"?
Pois é. Voos tranquilos e dignidade só amanhã. Brasileiro sofre.

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