quarta-feira, 6 de dezembro de 2006

A relação entre maternidade e distúrbios psiquiátricos

Tempos atrás, publiquei um artigo chamado "Deu a louca nas jovens mães" e, hoje, encontrei um comentário raivoso sobre ele, o qual foi devidamente respondido. Por coincidência, acabei de ler em O Liberal de hoje a seguinte notícia:

Mamães de primeira viagem enfrentam um risco maior de desenvolver diversos problemas mentais, e não apenas depressão pós-parto, de acordo com um dos maiores estudos sobre doenças psiquiátricas nessa fase da vida. Já os pais estreantes não são tão vulneráveis, provavelmente porque não passam pelas mesmas mudanças sociais e físicas que acompanham o parto, disseram os cientistas. O estudo foi publicado na edição de ontem do 'Journal of the American Medical Association'.
O estudo, baseado nos registros médicos de 2,3 milhões de pessoas da Dinamarca, ao longo de 30 anos, mostra que os primeiros três meses após o nascimento do primeiro bebê são os mais arriscados. É nesse momento que a consciência do tamanho da nova responsabilidade chega com força total.
Durante as primeiras 10 a 19 semanas, as novas mães tiveram sete vezes mais chance de acabar internadas com algum tipo de problema mental, em comparação com mulheres mães de filhos mais velhos. Comparadas a mulheres sem filhos, as novas mães tiveram quatro vezes mais chance de acabar num hospital por motivo psiquiátrico.
Já os novos pais não têm um aumento na chance de internação psiquiátrica, seja em comparação com pais de filhos mais velhos ou com homens sem filhos. A proporção de distúrbios mentais foi de um em mil nascimentos para mulheres, e 0,37 em mil para homens.
Os problemas verificados incluem depressão pós-parto, mas também distúrbio bipolar, esquizofrenia e distúrbios de adaptação, como ansiedade.

Para repor a verdade dos fatos, o texto se inseria num contexto maior. Veja: em 24 de outubro, publiquei "Abandono não; irresponsabilidade, mesmo", comentando o caso da jovem que deixou a filha no carro enquanto ia para um show de pagode. Seis dias mais tarde, veio o artigo objurgado, sobre Daniele Toledo do Prado, que teria envenenado a filha com cocaína — cujo título mostra que eu fazia uma relação entre os dois casos. Em 1º de novembro, com "Mais uma jovem mãe, agora mais ponderada", comenta um abandono de bebê, cuidadosamente realizado para que a criança tivesse um futuro melhor, na visão da mãe.
De tudo isto resulta que fico feliz que Daniele do Prado não seja a louca que nos fizeram crer, no clamor da hora. Isso, contudo, não muda o fato de que uma criança morreu. A par de criticar a imprensa — que sempre merece severas críticas, porque normalmente publica notícias com erros —, pergunto-me onde entram os médicos nessa história. Afinal, quem divulgou a causa da morte foram eles.
Nesse meio tempo, Daniele foi violentamente espancada, ficou em estado de pré-coma e agora apareceu um estupro pelo meio. Honestamente, espero que os culpados sejam encontrados e punidos.
Como se vê, os questionamentos que levantei na época — acerca de a juventude estar afetando o comportamento das mães — tinham alguma procedência.

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