segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

O que não mudou e o que não mudará

O que não mudou

Ele mandou sequestrar, torturar e matar milhares de pessoas. Viveu entre glórias imerecidas e enriqueceu à custa do sofrimento dos chilenos. Muitos anos depois, chamado a responder por seus atos, pediu clemência. Sua idade provecta e suas doenças (que muitos dizem que eram mera encenação) foram o pretexto para adiar indefinidamente seu julgamento. Submetê-lo a isso feriria a sua dignidade — conceito certamente ignorado no que tange à vastidão de suas vítimas.

Morreu Pinochet, impune. Como sempre aconteceu com os tiranos mais crueis. O passado não pode ser mudado. Mas pode e deve ser mantido no passado.

O que não mudará

Enquanto isso, na terrinha, estuda-se a possibilidade de alocar os camelôs do entorno do Shopping Castanheira numa área especialmente destinada a eles, no terreno do Seminário Batista Equatorial. A ideia é boa, embora vários dentre eles certamente pensem que, se não estiverem na beira da pista, suas vendas serão prejudicadas, daí preferirem ficar onde estão. Como dizem os versos do Boi Bumbá maranhense: "Eu quero saber por que ele me odeia / Eu sou Coluna de Aço / Se tu quer passar, rudeia!"

Não é isso que fazemos todos, nas calçadas de Belém? Rudeamos?

Anote o que digo: se transferirem os camelôs para uma área organizada, no dia seguinte os novatos estarão lá, esculhambando tudo de novo. Tão certo quanto após a noite vem o dia.

2 comentários:

Frederico Guerreiro disse...

Pinochet: a sentença chegou dos céus com atraso de trinta anos. O SEDEX de Deus deve ter tido problemas com operadores de vôo de almas com destino para baixo, flight to Demon City, 40 thousand feets down. Afinal, há congestionamento na rota.

Camelôs: concordo. Abrir shopping para camelô não resolve o problema da falta de empregos. Ou seja, é só para "rudiar" o problema. Logo estarão todos de volta, com um agravante: teremos agora o nossa graduação em comércio "camelário". O sujeito começa bem no meio da calçada, em frente a um grande centro comercial. Alega necessidade de sobrevivência, que não tem trabalho. A prefeitura constrói um shopping para ele em área privilegiada, toda a sociedade paga para ele. Ele chama os familiares para assumir aquele lugarzinho nobre do qual tinha saído. Mas tudo não fica como está não, muito pelo contrário, piora.
Breve teremos o mercado negro de luvas por um espaço público próximo aos shoppings. Será a máfia "camelária". Será que vou conseguir algum lugar na P. Álv. Cabral, bem pertinho do mega shopping que a Yamada vai construir?
É dessa forma que o poder público diz combater o contrabando? Afinal, camelô vende o quê? Barbaridade!!!
E o pedestre, ó... banana nele.


p.s.: camelário é uma derivação por justaposição, que adjetiva o camelô com técnicas de empresário. Breve no Cesupa, curso de bacharelado em Administração e Comércio Camelário. Não era isso que todo mundo estava esperando?

Yúdice Andrade disse...

Não, Fred, sinceramente espero que ninguém espere por isso...
(Mas não me surpreenderia se surgisse. Afinal, o mercado é que manda.)