Em uma passagem de seu célebre Vigiar e punir, Michel Foucault menciona que, diante do patíbulo em que se executará o condenado, para ele qualquer criminoso vira mártir. Tal frase veio a minha mente quando acordei hoje e vi, pela TV, que Saddam Hussein já fora enforcado. Confesso minha desinformação, pois a última notícia que lera a respeito dizia que uma corte de apelação iraquiana confirmara a sentença e que a execução ocorreria em cerca de 40 dias, no final de janeiro. E, de repente, vejo a sentença já cumprida.
Não sou tão humanista quanto Foucault. Saddam Hussein não é um mártir e não se tornou porque morreu. Foi um criminoso em série, em massa e com imenso poder. Seu discurso ufanista pró-Iraque cai por terra diante de sua condição de tirano e, na minha opinião, principalmente por ter mantido o povo na miséria, ao passo que ele e seus filhos se tornaram trilhardários. Se explorou a miséria de um povo, é um criminoso vil. E mereceu ser deposto. Só lamento que não pelo próprio povo oprimido — o que seria uma redenção —, mas pelo maior tirano do mundo, um criminoso ainda mais psicótico e irracional, que jamais verá um julgamento. Com sorte, receberá ao menos o da História.
A execução de Hussein não me traz nenhuma alegria. Quando cai um ímpio, não falta quem o substitua. Quem sabe o que advirá de um governo iraquiano pelego? Quem sabe o que advirá de uma ONU que não questiona a devastadora ambição estadunidense?
Trocando Foucault pela cultura pop, extraio de O senhor dos aneis uma outra citação. Gandalf ensina, respondendo a um comentário de Sam, acerca de que Gollum deveria morrer, que muitas pessoas merecem morrer. E questiona: mas a quem compete essa decisão?
Em nosso país existem incontáveis assassinos seriais, ocupando os mais altos postos da Nação. Gostaria que eles morressem. Graças a Deus, não me compete a decisão.
2 comentários:
Prezado Yúdice, muito boa a avaliação sobre a morte de Saddam. Eu, particularmente, acho que a morte foi mais um prêmio do que um castigo.
Mudando de assunto, recebi sua mensagem no meu blog e a respondo aqui também. Pode ficar tranqüilo, pois o prazo para a entrea dos textos das virtudes foi prorrogado. Vamos terminar com calma para levar este material para a futura governadora com a esperança que os nossos textos ajudem a iluminar o novo governo. Que a gente não fique mais à espera de políticas culturais, turísticas, sociais, etc.
Um grande abraço e obrigada pela colaboração!
Luciane.
Excelente texto, Yúdice. Um primor de coerência, vindo precisamente ao encontro de meu modo de pensar.
Parabéns!
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