segunda-feira, 15 de março de 2010

Mais estranho que a ficção

Há quem sustente que nós morremos conforme vivemos. Se assim for, o que se pode dizer da morte do cartunista Glauco Villas Boas e seu filho, Raoni?
Desde a última sexta-feira, quando a grande imprensa começou a divulgar amplamente a tragédia, o enfoque tem sido dado à brutalidade com que o duplo homicídio aconteceu. Pessoalmente, desde o primeiro instante, o que me impressionou mesmo foram os elementos místicos e inusitados. Ser assassinado por um sujeito que queria ajuda para convencer a mãe de que era Jesus Cristo?
Fiquei com a impressão inicial de que o autor do delito poderia ser portador de algum transtorno mental que o tornasse inimputável. Agora, considerando sobretudo as circunstâncias da fuga que envolveu roubo de carro, tentativa de saída do país e troca de tiros com a Polícia Federal, seguida de confissão detalhada e consciente do crime , acredito que a causa imediata seja uma velha conhecida da sociedade brasileira, notadamente da juventude: a droga.
Na hora do crime, o assassino confesso decerto estava fora do seu juízo perfeito por causa da droga. Contudo, o consumo desta foi voluntário, o que impede a exclusão da culpabilidade. A alternativa para mudar isso seria a defesa convencer o tribunal do júri de que a dependência química do estudante de 24 anos chegou a níveis tais que se equipara a doença mental. É como poderia derrubar a teoria das actiones liberae in causa1. Mesmo assim, é apenas uma tese e precisa ser provada. Não será fácil.
Paralelamente a isso, consta que o irmão do assassino confesso teria declarado à imprensa que, sim, seu irmão tinha problemas com entorpecentes. Todavia, sua cabeça virou mesmo quando ele passou a frequentar a igreja de Glauco, onde se consome e cultua o santo daime, considerado por médicos uma bebida alucinógena. Este argumento abre um leque de possibilidades todas elas capazes de irritar bastante aqueles que agora lamentam essas duas perdas brutais.
1 Peço desculpas aos leitores leigos, mas este texto foi redigido em juridiquês-penalês. Confesso que não estava com muita paciência para traduzir.

4 comentários:

Liandro Faro disse...

Lar... Doce Lar...

Prezado, as notícias vinculadas neste blog são valiosas para uma análise profunda!

A que pé estamos?!

Antonio Graim Neto disse...

Bebida alucinógena do Santo Daime? Possibilidade de ter essa religião contribuido para a morte do cartunista?


É...isso pode cutucar o calo de muita gente. Não me espantaria que esse enchame todo baixasse repentinamente...afinal, pode ter sido uma fatalidade mesmo, né...

hehe


vamos esperar pra ver.

Ana Miranda disse...

Desculpas aceitas...
Sem comentários, pois vejo aí a união de duas coisas perigosíssimas: religião e drogas.
Desculpem-me, coisa de ateia que nunca usou drogas.

Yúdice Andrade disse...

Vamos analisar, Liandro! Este caso renderá, provavelmente, discussões instigantes sobre temas variados. É aguardar para ver.

Os cultores do daime lutam por reconhecimento, Antônio. O ocorrido não os ajudará a obtê-lo e, pelo contrário, pode prejudicar a concepção que a sociedade em geral tem do movimento. E em se tratando de religião, todo cuidado é pouco.

Tudo em paz, Ana.