segunda-feira, 22 de março de 2010

O julgamento

Quase dois anos atrás, a mídia nacional foi dominada pelo caso Isabella Nardoni. A obsessão pelo tema era tanta que a Rede Globo, avessa a mudar a sua programação fixa, parou tudo para exibir, em tempo real, durante horas, a reconstituição do crime, feita pelos peritos paulistas.
Este caso, estarrecedor em si mesmo, contou com dois aspectos interessantes: uma investigação científica, baseada em perícias variadas, à semelhança do que acontece em países mais desenvolvidos. No Brasil, a tradição e a praxe são ações penais dependendo predominantemente, ou quase exclusivamente, de prova testemunhal, a mais frágil de todas. O segundo aspecto é a forma como a imprensa lidou com os acusados, convicta da culpa dos mesmos, mas evitando fazer acusações diretas, referindo-se a eles sempre como suspeitos, moderando os juízos de valor e até dando espaço para que eles pudessem sustentar de viva voz suas teses, antes de terem a prisão decretada. Suponho que assim tenha sido por conta do que chamo efeito Escola Base. Se for, pelo menos um lado bom pode ser identificado.
Neste momento, os olhos estão voltados para o Fórum de Santana, em São Paulo, onde deve formar-se o tribunal do júri que decidirá a sorte de Alexandre Nardoni e de Anna Carolina Jatobá. O julgamento deveria ter começado às 13 horas, mas está atrasado e há informações desencontradas sobre a presença das testemunhas no recinto. Por enquanto, não se pode ter certeza de que o julgamento acontecerá mesmo hoje.
Sem dúvida, trata-se de um julgamento histórico, que terá direito a peritos depondo em plenário, maquetes, simulações por computador tudo tão CSI , pelo lado da acusação, e pelo da defesa, nabo, cenoura, banana e alho, para provar que o reagente Bluestar Forensic não é tão seguro quanto se pensa para comprovar a presença de sangue no ambiente.
Haverá também uma quantidade excessiva de dramatização, feita espontaneamente por um sem número de curiosos, que foram de diferentes partes do país assuntar o que se passa no fórum, com direito a cartazes, faixas e até uma enorme cruz de madeira.
Sem dúvida, serão dias intensos. Outro festival como esse só quando Lindemberg Alves, o assassino de Eloá Pimentel, for a júri. Se bem que esse caso não terá o mesmo impacto, já que não pairam dúvidas quanto à autoria do crime.

3 comentários:

Ana Miranda disse...

Incrível Yúdice, foi esse pensamento que tive quando apareceu o caso dos Nardoni: a Escola Base.
Quanto a eles, prefiro acreditar na inocência de ambos, não creio que um pai, para "proteger" a esposa, jogaria sua própria filha pela janela.
Não vejo coerência, por que eles fariam isso???
Eles nem eram obrigados a ficar com a menina, li por aí que a mãe dela nem gostava que eles a buscassem, então pra que, por que, eles a buscavam se não fosse por querer estar com ela????
Espero que haja justiça, torço pela inocência deles, mas se forem culpados, que apodreçam na cadeia.

Yúdice Andrade disse...

Eu não embarco nessa utopia de que pais e mães não desejam muito menos praticam o mal dos filhos. Parei de idealizar as relações familiares muito cedo e tenho boas razões para isso. Daí resulta que meu maior desejo, como pai, é não reiterar os erros que vi e os que sofri.
No caso específico de Alexandre Nardoni, acredito que a tese sustentada pela acusação seja a real: a madrasta asfixiou a criança e o pai, apavorado, atirou-a pela janela para proteger a amada. Quero crer, porém, por minha conta e risco, ao contrário do que afirma o Ministério Público, que ele acreditava que a menina já estivesse morta. Assim, ele se sentiria apenas ajudando a esposa, e não ferindo ou matando a filha.
No final das contas, precisamos considerar que um julgamento gera soluções, mas não necessariamente revela verdades.

Rita Helena Ferreira disse...

Oi, Yúdice!

Na época do crime, afirmei para os meus próximos que a melhor defesa, nesse caso, seria a negativa de autoria, até o último momento.

Não trabalho na área penal, mas estagiei no MPE por um tempo razoável e sei que, na prática, a ausência de confissão e de testemunhas do fato em si, torna a condenação muito difícil.

Pois bem. Dois anos se passaram e os advogados foram felizes duplamente: mantiveram a linha de defesa e seus clientes seguraram a pressão.

E vejo, agora, com o início do julgamento, o quanto essa é a melhor linha de defesa! É surpreendente o número de pessoas que os vê como inocentes!

É assim... As pessoas acreditam tanto nas relações familiares, no caráter humano, que não conseguem enxergar, a não ser que o crime seja filmado ou confessado!

Acredito, inclusive, que, caso a Suzane von Richthofen tivesse praticado o crime sozinha, sem confessar, ainda teríamos várias pessoas com dúvidas acerca da autoria do crime.

Ora, eles só precisam de 4 com dúvida...

Enfim.

Não conheço os autos, obviamente. Mas, pelo que já li a respeito, não tenho dúvidas.

Vamos ver o que os jurados pensarão.

Rita

PS: Vc acha que a "lágrima" da jurada poderá contaminar o julgamento? Fiquei com essa dúvida jurídica....