quarta-feira, 17 de março de 2010

Tragédias nossas de todo dia

Uma mulher de Piracicaba vai responder por crime de maus tratos contra o próprio filho, de 13 anos, por mantê-lo preso dentro de casa, acorrentado a uma cadeira. Um monstro? Não: uma mulher desesperada e sem alternativas, diante de um Estado criminosamente omisso.
O menino se viciou em crack há um ano e passou a cometer pequenos furtos em casa para sustentar o vício. Não tendo a quem recorrer, a mãe tomou a medida extrema e teve que lidar, dia após dia, com as crises de abstinência, com a agressividade e com o desespero do adolescente. E esteve ao seu lado o tempo inteiro, como mãe amorosa que é.
Entrevistada, a mulher chora e se mostra disposta a acorrentar o filho de novo, "se for preciso". Ela não teme as consequências criminais; teme apenas a morte do filho. Segundo ela, a própria polícia já lhe deu o alerta: ele morrerá na mão dos bandidos ou na nossa.
O caso é emblemático do que é o Brasil: quando veio à tona, o braço punitivo do Estado funcionou: a mulher foi autuada e responderá criminalmente. Mas o braço assistencial do Estado revelou sua incompetência: em Piracicaba, não há recursos adequados para atender o menino. A duras penas, e com certeza somente por causa da ampla repercussão, foi internado na Santa Casa de Misericórdia. Mas terá acesso à desintoxicação? Se não tiver, sabemos do risco de recaída. O Conselho Tutelar da cidade confessa sua impotência.
O caso em si não é inédito. Há precedentes no país, inclusive com a absolvição das mães acusadas, pelo reconhecimento de estado de necessidade situação que exclui a ilicitude da conduta e, portanto, o crime. E que é a solução que o caso deveria ter, o mais rapidamente possível.

Leia a matéria e veja o vídeo sobre o caso.

6 comentários:

Tanto disse...

Cara! Uma das situações mais absurdas que eu vi. Absurda, mil vezes absurda! A mãe tenta salvar o filho e é punida? Putz...

Ana Miranda disse...

Eu vi a reportagem na TV.
Vi o desespero da mãe. O garoto, que foi mostrado exatamente igual à foto, parece ter, no máximo, uns 9, 10 anos. Seu desenvolvimento já está sendo prejudicado. A mãe disse que ele fica sumido, 5, 6 dias e quando aparece, vem todo agressivo, quebrando tudo dentro de casa. E disse também que ele vomita quase tudo que come.
E aí, vamos prender essa mãe???
Vamos claro, porque aí o filho dela irá à uma clínica de desintoxicação, paga pelo Estado, de onde ele sairá "limpo" para sempre e o monstro que é sua mãe deverá apodrecer na cadeia.
É brincadeira, viu!!!
O Estado não cuida do que lhe compete.
Não acho com isso que a mãe está totalmente eximida da culpa, afinal de contas, essa criança tem apenas 13 anos, como ela não percebeu o buraco em que o menino estava se enfiando??? mas essa é sua maneira de tentar resolver o problema. Ambos precisam de ajuda. urgentemente!!!
Sei lá, viu. Como a vida é complicada...

Yúdice Andrade disse...

Como eu disse, Fernando, isso é o Estado funcionando...

Ana, sou meio reticente quanto a dizer que a mãe foi negligente na educação ou vigilância ao filho. Sei de casos em que famílias bastante ajustadas foram surpreendidas com o envolvimento de seus filhos com drogas ou crimes. É o problema das relações horizontais, que preponderam sobre as verticais. Isso me apavora como pai.
Além disso, sabe-se lá como essa família vive. Não sei se essa mulher tem um companheiro, uma família com quem dividir a responsabilidade. Não sei se ela possui outro filho, se tem um emprego. Há muito o que considerar. Não recrimino essa mãe. Sabe Deus se o traficante não acertou o filho enquanto ela estava no batente, lutando pela sobrevivência de ambos?

Ana Miranda disse...

Não estou achando que a mãe tenha 100% de culpa, o que eu não entendo é como uma situação chega a esse nível sem que ela tenha percebido antes. Não creio(opinião de quem nunca usou ou conviveu diariamente com quem usasse drogas)que isso aconteça de uma dia para o outro, acho que há todo um corpotamento atípico. Sei lá, como eu disse, não tenho e espero jamais vir a ter, experiência nesse assunto.

Sakura Monini disse...

A questão das drogas é um assunto extremamente tormentoso, com certeza essa mãe tentou de todas as maneiras tirar o filho desse mundo, e numa idade em que o jovem começa a formar o seu caráter, "amizades" com determinadas pessoas podem ser extremamente prejudiciais. Sem falar que muitos pais (num país como o nosso), não possuem sequer conhecimentos necessários pra poder lidar com essa situação, muitos jovens que entram não conseguem mais sair, e isso é uma realidade aqui no Brasil com tantos jovens carentes precisando de ajuda e famílias destruídas por causa disso.
Tirar alguém das drogas sem o mínimo de estrura (foi falado da dificuldade em colocar o menino em uma clínica)é muito difícil.
Essa mãe com certeza ama seu filho com todas as suas forças, sem conhecimento e sem apoio, ela prefere se vê forçada a amarrá-lo em casa do que vê-lo morto na rua. É uma pena que como o caso dela, muitas mãe também vivem na mesma siuação de angústia.
Tenho parentes que sofrem o cárcere das drogas e sei o quanto isso é doloroso! Quem vê a situação de fora não sabe o quanto dói querer fazer alguma coisa e todas as suas tentativas se verem frustradas pra tentar ajudar essa pessoa.
Mas creio que, no caso desse menino não é tarde demais, basta alguém verdadeiramente se dispor (digo os que trabalham com pessoas nessa mesma situaçõ) a ajudá-los: mãe e filho.

Anônimo disse...

É nessas horas que o judiciário deve contemplar a lucides e a sensibilidade que a lei se recusa a ter.

Abraços