Hoje foi o primeiro dia de efetivas férias acadêmicas para mim e Polyana. Por isso, decidimos usufruir um pouco do dever cumprido e tiramos uma noite para nós. Ou seja, Júlia foi para a casa da avó.
A primeira parte da noite serviu para resgatar uma alegria que há tempos não experimentávamos: assistir a um concerto. Informado pelo Blog da Franssinete Florenzano, sabia que nesta quinta-feira seria realizada uma edição do projeto "Música na Catedral — Quintas musicais", um evento da Universidade Federal do Pará em parceria com a Catedral Metropolitana de Belém.
Quem teve a oportunidade de ver a catedral após a longa reforma que a manteve fechada, sabe que ela está absolutamente magnífica. A sua visão é de enternecer e maravilhar os olhos. Mas o evento de hoje levou esses bons sentimentos a níveis ainda mais espirituais.
O concerto era uma homenagem ao majestoso órgão Cavaillé-Coll que habita aquele templo. Se você mora nesta cidade e desconhece o órgão — uma jóia única (há vários exemplares no país, mas o nosso é o único mecânico, além de ser o mais antigo) —, merece um puxãozinho de orelha. No programa do espetáculo, há um histórico sobre o instrumento, que transcrevo a seguir. Antes, porém, a imagem do monumento:
"Órgão Cavaillé-Coll
Inaugurado em primeira audição no dia 09 de setembro de 1882 por dois organeiros e organistas franceses, Veerckamp e Moor, funcionou durante quase 70 anos. O rei dos instrumentos foi comprado ao preço de 15 contos de réis por D. Antônio de Macedo Costa. A inauguração pelo então bispo do Pará, D. Antônio de Macedo Costa, teve caráter solene. Foram convidadas as mais graduadas autoridades do Império. O Órgão Cavaillé-Coll da Catedral, instalado no coro, mede 8m de altura por 5,5m de largura e 3,5m de profundidade. E possui 25 mil peças para funcionar dois manuais e pedaleira.
O Grande Órgão ficou parado por 45 anos e ameaçava desabar. Em 1995, iniciou-se uma forte campanha em toda a Cidade de Belém que perdurou o ano inteiro. A restauração aconteceu na França, por sugestão do então organista de Notre Dame de Paris. A Firma Theo Haerpfer de Boulay-França foi escolhida. A reinauguração, com a presença de autoridades, se deu a 14 de junho de 1996, festa do Sagrado Coração de Jesus, sob a presidência de D. Vicente Joaquim Zico, Arcebispo Metropolitano. O Órgão da Sé de Belém é o maior Cavaillé-Coll da América Latina. O buffet do órgão foi restaurado em Belém com madeira paraense por Verbicaro Giestas e Cia. Ltda. A cidade de Belém, capital do Estado do Pará (Brasil), viveu dias esplendorosos de cultura, por ocasião da reinauguração do Grande Órgão de Tubos Cavaillé-Coll, construído pelo maior organeiro do mundo, do século passado, Aristide Cavaillé-Coll. Em 1882, a Igreja era unida ao Estado e a Catedral tinha 60 funcionários mantidos pela Coroa Imperial. Com a separação Igreja-Estado, houve declínio no que se refere a conservação. No ciclo da borracha ela permaneceu em equilíbrio, mas depois foi quase impossível mantê-la esplendorosa. O tempo, por sua vez, a fez corroer e o Grande Órgão por quase cinco décadas permaneceu silencioso. Os organistas da reinauguração foram Hans Bönish (alemão) e Paulo José Campos de Melo (paraense), com especialização na Europa e Superintendente da Fundação Carlos Gomes de Belém/PA. A Schola Cantorum da Catedral e os Pequenos Cantores da Sé apresentaram números em gregoriano e polifonia. No coro da Catedral, placas estão fixadas. A Cidade de Belém, o Estado do Pará e o Brasil podem orgulhar-se da reinauguração proclamada como a RESTAURAÇÃO DO SÉCULO."
Os próprios organizadores do evento esperavam menos pessoas do que as efetivamente presentes, a julgar pela quantidade de bancos virados na direção do coro. Uma pena, porque umas tantas pessoas acabaram indo embora. Mas quem ficou teve o deleite de escutar peças de Renner, Albinoni, Schubert, Franck, Costamagna e principalmente Bach. Os momentos mais impactantes foram a execução da "Ave Maria" de Schubert (arranjo para órgão, saxofone e trompete), a "Toccata e fuga em ré menor", de Bach (poderosamente executada pelo Prof. Guido Oddenino) e, para mim, o "Adágio", de Albinoni, uma das minhas músicas favoritas, arranjada para órgão e trompete (este último executado por um antigo colega de escola, Moisés Gonçalves).
O encerramento do evento teve a interpretação de quatro peças pela Schola Cantorum.
Foi uma noite bela e cheia de espiritualidade, que comemoramos termos presenciado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário