Todas as vezes que ouço falar que a passagem de ônibus em Belém é a mais barata dentre as capitais brasileiras fico com a nítida impressão de que isso é papo furado dos empresários do setor, a justificar seus pedidos de reajuste. Aliás, os empresários desse setor, desde que me entendo por gente, lamuriam-se de que a atividade não é lucrativa, que dá muitos prejuízos. A estranha matemática não convence, já que nenhum deles larga o osso. E nunca soube de um empresário que, ano após ano, seguisse sofrendo prejuízos.
Talvez R$ 1,70 não seja, de fato, um valor irreal, considerando os custos do setor. Mas duas coisas não deveriam ser ignoradas: em primeiro lugar, o fato de que despender tal quantia para cada vez que se viaja num ônibus é, indiscutivelmente, pesado para um assalariado. A segunda coisa é a qualidade do serviço prestado.
Sejamos honestos: quanto vale o serviço de transporte urbano de Belém? Quanto acharíamos justo pagar por ele?
Leve em consideração não apenas o estado de conservação dos veículos, a sua limpeza, a sua adequação às exigências de segurança e às regras da concessão do serviço, mas também o atendimento dispensado ao usuário pelos rodoviários, desde a lanheza de trato até o parar no ponto correto e não deixar velhinhos com cara de tacho na rua, fazendo inúteis sinais de parada. Pense em como os motoristas dirigem. Pense que, nesta cidade, elas param os ônibus em qualquer lugar para comprar lanche e até, por incrível que pareça, para urinar na rua!
Pense, também, no tempo de espera nas paradas e no fato de que, à noite, ainda cedo, é quase impossível conseguir um coletivo, nos finais de semana. E pense que boa parte dessas mazelas é imposta pelos empresários do setor, com suas absurdas exigências de uma eficiência que não pode ser alcançada sem que, antes, se criem as condições favoráveis.
R$ 1,70 é muito caro, sim. Caro até demais. Belém deveria criar condições para que as pessoas pudessem, quanto possível, trafegar de bicicleta, sem tanto medo de morrer (por atropelamento ou à bala, nos assaltos). E sem despertar a aversão da classe média, só por causa do meio de transporte.
5 comentários:
Agora você imagina, Juiz de Fora, infinitamente menor que Belém, já pagamos $1,70 e estão querendo aumentar, inclusive era para eu estar em uma manifestão agora, contra esse aumento, mas a Carol está de folga hoje, passamos o dia inteiro na rua e está muito frio. Resolvi vir direto para casa...
Mas as condições de transporte aí são boas? E o nível de renda da população?
Além de um ato de justiça, foi também uma homenagem ao poeta, que, no próximo 9 de julho, completa 30 anos de falecimento.
Condições boas????
Péssimas, ônibus lotados em horários de pico. Parece que estão carregando gado. Um dia eu dei o maior chilique dentro do ônibus, que eu raramente pego, pois só ando a pé. As pessoas ficaram caladinhas me ouvindo em um ônibus lotado e ninguém se manifestou, nem a favor, nem contra. Parecia que todos estavam anestesiados. Era horário de almoço, eles tinham que retornar ao trabalho, é muita humilhação andar daquele jeito.
Eles não colocam mais ônibus para não terem que contratar mais funcionários.
Os piores ônibus aqui na região central são os que levam os universitários à federal.
As manisfestações já começaram, eles querem cobrar a partir do dia 01º/08, $1,85. Ano retrasado conseguimos baixar de $1,80, para $1,70. Vamos ver o que vamos conseguir esse ano...
Nos bairros nobres os ônibus andam mais vazios.
Belém realmente tem uma das tarifas mais baixas entre as capitais brasileiras, mas os empresários omitem que, em outros lugares, o transporte é integrado, permitindo que a pessoa troque de veículo no meio do percurso, pelo período de até 2hs. Não há a possibilidade de alguém pagar 2 passagens de ônibus, para ir a um destino, como aqui. Além disso, pelo período de tempo, às vezes dá até pra aproveitar a volta!
Particularmente, odeio dirigir, em virtude dos engarrafamentos, da dificuldade de estacionar e dos famigerados flanelinhas. Se o transporte público fosse de qualidade, permitindo que viajássemos sentados e que tivesse ao menos ventilação (apesar de que, refrigeração, nesta cidade, não é luxo!), eu consideraria percorrer distâncias menores nele. Deixaria o carro na garagem, só para os fins de semana. Acredito que muitos fariam o mesmo, diminuindo o número de carros nas ruas e, consequentemente, os transtornos.
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