terça-feira, 5 de julho de 2011

Índice zero

Repercute amplamente no meio jurídico, como seria inevitável, mais um resultado pífio e assustador no último exame de Ordem, realizado em dezembro passado. Desta vez, o índice de reprovação ficou em impressionantes (mas não inesperados) 88,275%. As consequências são as mesmas de sempre: gente esbravejando contra a falta de qualidade dos cursos de Direito, que proliferaram como praga nos últimos anos, e a mercantilização irresponsável de instituições privadas, tratadas genericamente, como se todas fossem farinha do mesmo saco. Além, é claro, dos pedidos de providência da OAB ao Ministério da Educação. Já vimos esse filme diversas vezes.
O alarde agora está sendo feito sobre cursos que amargam o vexame de não ter conseguido aprovar um aluno sequer. Das 90 instituições de ensino nessa situação (veja a lista completa), apenas duas são paraenses, ambas situadas na capital. Mas é preciso dar a César o que é de César: uma delas é a Escola Superior Madre Celeste, que inscreveu apenas um aluno no certame. Ele não passou (na segunda fase) e isso deu à ESMAC o estigma de aprovação zero. Convenhamos, esse não deve ser o julgamento. Também podemos dizer que a ESMAC teve apenas um aluno reprovado no exame, o que talvez lhe conferisse o menor índice de reprovação do país! Há várias outras instituições que também registraram apenas um acadêmico inscrito.
A segunda IES paraense da lista é o Instituto de Ensino Superior do Pará, que inscreveu 16 egressos, dos quais apenas 14 compareceram para fazer a primeira prova. Todos reprovaram sem acesso à segunda fase. Já é motivo para acender todos os sinais vermelhos.
Não há como minimizar o vergonhoso desempenho dos candidatos, mas também é preciso destacar — e a própria OAB está ciente disso — que a grande maioria dessas instituições inscreveu poucos alunos. O pior desempenho foi da Faculdade Campo Limpo Paulista, que inscreveu 73 alunos, sendo que 71 compareceram à primeira fase e 10 chegaram à segunda. Sem dúvida, de corar o rosto, mas demonstra que as entidades que inscrevem centenas de candidatos não chegam a uma situação tão adversa, felizmente.
Enfim, o índice de aprovação é acintosamente baixo e isso deve ser combatido. O diagnóstico é velho mas, a bem da verdade, o tratamento também. É uma questão de fazer a lição de casa. Instituições e bachareis.

 PS — Vale lembrar que a primeira fase do Exame de Ordem compreendia, até sua última aplicação, 100 questões objetivas com um conteúdo muito diversificado e extenso. Como em qualquer concurso, funciona como uma degola, matando os candidatos pelo cansaço. A segunda fase, já concentrada em uma área específica, era composta por uma peça processual e 5 questões discursivas. Consta que, a partir do certame deste mês, as questões objetivas serão reduzidas para 80 e as discursivas, para 4, mantida é óbvio a peça processual.

3 comentários:

Vitor Martins Dias disse...

Dois pesos duas medidas.

Veja agora o teor da reportagem e a minúcia em dizer todas as características das Faculdades que obtiveram maior índice de aprovação. Quando é para falar mal: desce a porrada de olho fechado! Quando é para falar bem: precisamos prestar atenção em todos os detalhes.

E assim vamos seguindo com reportagens do nível da que você postou sobre o Fábio Junior.

Abraços, Yúdice.

Frederico Guerreiro disse...

E agora? Qual é a saída? Transformar os cursos de graduação em direito em cursinhos preparatórios para o Exame da UNB?

Yúdice Andrade disse...

Nem tinha reparado nisso, Vítor. Mas é perceptível que tens toda a razão.

Não contem comigo para isso, Fred. No meu discurso de apresentação às turmas novas, sempre menciono que não somos cursinho preparatório de exame de Ordem nem de concursos; estamos ali para aprender a ciência do Direito e suas implicações. O resto deve vir como consequência.