terça-feira, 26 de julho de 2011

Censura prévia ao cinema

Eu jamais ouvira falar de A serbian film, que no Brasil ganhou o sub-título Terror sem limites, do diretor Srdjan Spasojevic (2010). E tomo conhecimento através da notícia de que o Poder Judiciário do Rio de Janeiro proibiu sua exibição pública, incorrendo assim no primeiro caso de censura prévia sobre obra cinematográfica na vigência da Constituição de 1988. O precedente era o filme Je vous salue, Marie, de Jean-Luc Godard, mas isso ocorreu em 1985.
Antes da proibição judicial, o filme já fora eliminado do Festival de Cinema Fantástico do Rio de Janeiro (RioFan), por decisão da Caixa Econômica Federal, patrocinadora do evento.
Para piorar, a decisão judicial foi tomada atendendo a um requerimento de partido político e, pior ainda, do DEM. Políticos e magistrados não viram a obra, mas impediram a sua exibição a um público que, convenhamos, deve saber onde está se metendo. Não estamos falando de transmissão na TV aberta, mas da possibilidade de os cidadãos decidirem se querer ou não encarar o misto de terror com ficção científica.
E por que tanto estardalhaço? Eis a sinopse:

Já em fim de carreira, ator de cinema pornográfico concorda em participar de um "filme de arte", mas é levado a realizar uma produção exploratória, com abuso infantil e necrofilia.

Segundo a decisão da Desembargadora Gilda Maria Dias Carrapatoso, "não se pode admitir e permitir que, em nome da liberdade de expressão, cenas de extrema violência física e moral, inclusive, utilizando recém-natos sejam levadas ao grande público, vez que podem provocar reações adversas, às vezes, em cadeia, em pessoas sem equilíbrio emocional e psíquico adequado para suportar tais evidências de desumanidade. Pontue-se que o d. Ministério Público manifestou-se pela não liberação da exibição da película que constituiria uma afronta à Constituição Federal/88 e ao Estatuto da Criança e do Adolescente."

A confusão está armada, porque já começaram as reações. No final das contas, nós sabemos onde isso termina. Eu, p. ex., estou com a impressão de que o filme é dessas catarses de diretores malucos, que confundem necessidade de tratamento psiquiátrico com arte. Mas que fiquei curioso, lá isso fiquei.
 
Saiba mais: http://www.cinemaemcena.com.br/Ficha_filme.aspx?id_noticia=36956&id_filme=11658&aba=cinenews

2 comentários:

Gabriel Parente disse...

A censura do filme, particularmente, é patética. No mundo do cinema as censuras não são raras, bem como o Brasil não é o único a adotar esta medida lastimável. Luis Buñuel fora censurado em vários países a partir da produção de "Veridiana", o que levou o mesmo a ser excomungado pela Igreja Católica.

Jésus Franco (também conhecido como Jess Franco) foi, por diversas vezes, censurado pelo fato dos seus filmes explorarem perversões sexuais sadomasoquistas (vide 'Succubus', 'Venus in Furs', etc.).

Agora, o acontecimento mais forte a respeito da censura de um filme ocorreu com a obra "Cannibal Holocaust"(1980), do diretor italiano Ruggero Deodato. Quando lançado na Itália, o filme fora imediatamente proibido e, até hoje em alguns países, a sua proibição persiste. A maior polêmica sobre este filme era o rumor dele se tratar de um filme "snuff", ou seja, poderiam haver mortes reais durante as filmagens (as mortes de quatro animais, deveras, ocorreram, agora, de seres humanos, não passaram de boatos). Até hoje não se sabe se realmente existem filmes snuffs ou se não passam de lendas.

O filme que deu origem ao post explora o mito de um 'filme snuff'. Talvez isto torne-o inaceitável para a maioria do público que sequer viu o trailler do mesmo. As supostas cenas de necrofilia e pedofilia também ajudam a criar o preconceito. Contudo, após vê-lo, realmente recomendo: só devem assistir aqueles que estejam preparados para uma experiência cinematográfica brutal, com cenas desconfortáveis. Fiquei sem reação durante certas cenas. Mas o filme tem conteúdo; não é apenas uma união de cenas bárbaras de torturas e anomalias sexuais.

O programa do Datena transmite muito mais absurdo que os filmes considerados censuráveis. É isso.

Grande abraço.

Yúdice Andrade disse...

Tive que me lembrar do Tarantino e sua violência gratuita e sem propósito. Ainda que seja uma violência muito mais fantasiosa, e portanto menos agressiva aos espíritos sensíveis, é uma apologia estúpida. Talvez este filme ora censurado tenha algum engajamento, como afirma o seu diretor. Porque os do Tarantino são apenas besteirol para ganhar dinheiro.