O livro retrata duas histórias paralelas, mas absolutamente interligadas. Os capítulos ímpares são dedicados ao drama das monjas tibetanas Kinsom e Yandol, presas pelo governo chinês nos anos 1990 por terem cometido o crime de gritar, em público, "Viva o Tibete livre!". Já os capítulos ímpares retratam a vida de Tenzin Gyatso, o décimo quarto dalai-lama, desde os exames feitos pelos religiosos para encontrar o paradeiro da reencarnação de Buda até a sua condição atual, no exílio, que já dura décadas.
O modelo educacional implantado no Brasil é etnocêntrico e excludente, de modo que nossas escolas pouco ensinam sobre o Oriente. Moro nos faz entender um pouco sobre o Tibete — o país das neves, o teto do mundo —, um lugar peculiaríssimo, onde a religião domina a vida das pessoas a ponto de subsistir a unidade entre os poderes religioso e temporal, onde o dalai-lama — Oceano de Sabedoria ou simplesmente a Presença — é o Deus Rei e comanda tanto a religião quanto o governo. Mas ao contrário da ideia que usualmente possuímos sobre governos teocráticos, no Tibete a preocupação principal é com a espiritualidade, com a busca pela iluminação, com a compreensão de que precisamos ajudar também os outros a alcançar a plenitude. Comandados por uma ética que respeita toda forma de vida, os tibetanos são adeptos da não-violência, postura da qual Tenzin Gyatso não abriu mão e, ainda muito jovem, sofrendo imensamente a dor de seu povo, partiu para o exílio vendo a destruição de seu país, no processo de "Revolução Cultural" promovido pela China a partir do final da década de 1950, revolução que na verdade pode ser resumida em uma única palavra: genocídio.
Claro que houve resistência violenta, através dos khampas, um povo guerreiro das montanhas. Mas a convicção religiosa centrada na paz prevaleceu e tornou o Tibete um alvo facílimo de dominar e de manter até hoje. Florestas dizimadas, templos arrasados, vedação ao exercício religioso, patrulhamento ideológico, cerceamento total das liberdades individuais, prisões, isolamento, torturas alucinantes. O cenário é de horror. É por isso que passam Kinsom e Yandol.
Sua Santidade, o 14º Dalai-Lama |
Não é uma leitura fria, entretanto. Após acompanhar a trajetória do grupo de refugiados, a pé pelas montanhas do Tibete rumo ao Nepal, dormindo ao relento sob temperaturas torturantemente baixas, você não tem como passar indiferente pelo desfecho de suas histórias. A cena do encontro das monjas com o dalai-lama é emocionante.
As montanhas de Buda é uma leitura bonita e útil, não apenas por seus componentes espirituais, mas também pelos políticos, lembrando-nos que o mundo não pode mais aceitar o imperalismo que escraviza povos para subjugá-los literalmente até a alma ou, se não, dizimá-los.
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Formado em História e Antropologia, Javier Moro (56) tem-se notabilizado por sua literatura engajada, que desnuda tragédias pelo mundo afora, que conhece por meio de viagens para conhecer, in loco, as tramas e seus protagonistas. Também atua no cinema e na televisão, tendo vivido seis anos nos Estados Unidos. Seu primeiro livro, Caminhos de liberdade, foi sobre Chico Mendes. Uma de suas obras mais conhecidas é O sári vermelho.
Um comentário:
Oi Yúdice, tudo bem?!
Gostei do seu site =)
Vou comprar este livro de presente para meu pai, mês que vem.
Yúdice, quero que conheça a livraria que trabalho. É só clicar no meu login!
Tenho um blog brechó também, se você quiser conhecer =) www.brechodameninazen.blogspsot.com
Um beijo,
Fernanda.
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