sexta-feira, 17 de novembro de 2006

Homenagens ao poeta mocorongo

Wilson Dias da Fonseca, o Maestro Isoca, músico autodidata, compositor prolífico e historiador por conta própria, receberá hoje duas homenagens em sua cidade natal, Santarém. Nesta data, ele completaria 94 anos se vivo estivesse.
Às 9 da manhã, o aeroporto de Santarém será renomeado, passando a ostentar o nome do músico que cantou a pérola do Tapajós por toda a vida, fomentando uma cultura musical arraigada naquela região. Às 19 horas, ocorrerá o lançamento do livro Meu baú mocorongo, que Isoca escreveu ao reunir memórias, fatos históricos, "causos" e, claro, a cultura popular, num esforço empírico de historiador, que só se explica por um amor intenso ao universo de que fazia parte e seus personagens.
Tive Meu baú mocorongo nas mãos, anos atrás. Não a edição que virá a lume hoje, mas uma encadernação feita a pedido do artista, um trabalho quase artesanal. E quem o pôs nas minhas mãos foi o próprio Isoca, em sua residência, enquanto me mostrava os seus livros, as suas partituras feitas à mão e o seu piano, em frente ao qual se sentou e tocou para mim.
Esse privilégio todo tem uma explicação: eu o visitava naquela manhã de janeiro de 2001 na condição de namorado de sua neta Polyana, que foi a neta que ele criou e com quem me casei quatro anos depois. Graças a isso, pude estar, ainda que brevemente, na intimidade de um poeta, uma pessoa maravilhosa, todo bondade, todo gentileza, todo arte. Quão carinhoso foi o meu quase avô!
Não compareceremos às suas homenagens, vô Isoca, senão em pensamento e orações. Mas eu acabei recebendo a sua melhor herança e, por isso, junto com o senhor, fico cantarolando aquela valsinha:

Vai, passarinho
Vai buscar
Das rosas lindas o frescor
O encantamento do luar
Dos namorados, o amor
Vai, porque eu quero compor
Com ternura e emoção
Uma doce canção
Polyana, Polyana
Beija-flor tão mimoso a brincar
Polyana, Polyana
Mais feliz tu fizeste o meu lar
Ó pequena, soberana
Teu sorriso traz prazer
Polyana, Polyana
Quanto és linda, meu bem
Nem sei dizer!

5 comentários:

Anônimo disse...

Linda e inspirada homenagem. Homenagem dupla: ao singelo maestro e sua "melhor herança".

Anônimo disse...

Obrigada, meu amor, por me fazer lembrar de momento tão felizes com meu saudoso vôzinho. Te amo.

Anônimo disse...

Inicialmente, parabéns por este blog, que eu ainda não conhecia.

Em homenagem ao registro, transcrevo o que escrevi no encarte do CD "Sinfonia Amazônica" (volume 2), gravado pela excelente Orquestra Jovem "Maestro Wilson Fonseca", sob a regência de meu irmão José Agostinho da Fonseca Neto, pai de minha querida sobrinha Polynana:

Polyana – valsa (1979), que Wilson Fonseca dedicou à sua neta, filha do regente da orquestra. Tem letra de Emir Bemerguy. Foi executada no baile dos 15 anos da homenageada, com quem o avô, orgulhoso, dançou, a exemplo do que fez com filhas e netas, nos eventos familiares de igual importância, no tradicional Centro Recreativo de Santarém. Após breve introdução, a peça inicia por um trecho lento, em que se destaca o oboé, na execução de Agostinho Júnior (Tinhinho), irmão de Polyana, cuja beleza nos dá a idéia de uma garotinha à procura do caminho da vida. Na seqüência, o convite à dança: “Vai, passarinho, vai buscar/Das rosas lindas o frescor,/O encantamento do luar,/Dos namorados o amor!/Vai, pois eu quero compor,/Com ternura e emoção,/Uma doce canção.//Polyana, Polyana,/Beija-flor tão mimoso a brincar!/Polyana, Polyana,/Mais feliz tu fizeste meu lar!/Ó pequena soberana,/Teu sorriso traz prazer./Polyana, Polyana,/Quanto és linda, meu bem, nem sei dizer!”. A netinha, criada pelos avós Wilson e Rosilda, não se continha de tanta felicidade e encantamento. Uma valsinha feita para arrebatar os corações, na oferenda carinhosa de Isoca para sua neta.

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Modestamente, meu pai se considerava apenas um "poeta bisexto".

Vejam o que ele escreveu (o texto está no "Meu Baú Mocorongo"):

Sou um poeta bissexto
É costume dizer-se que todos nós sempre temos no coração uma veiazinha de poeta. Particularmente confesso que jamais senti a presença em mim de tão sublime dom, tanto que nunca fui levado, nem mesmo na fase florida da adolescência, ao desejo de compor um soneto sequer.
Entretanto – talvez para não me tornar exceção à regra – admito que deve andar perdido cá por dentro de mim nem que seja um tenro capilar poético!
Ante a dificuldade com que me deparei em certos momento – conseguir um autêntico poeta que desse letras a determinadas músicas que eu escrevia livremente, sem os rigores da métrica e do ritmo exigidos pela poesia, a que na maioria das vezes acham-se presos os compositores – aventurei-me a jogar miscelânico de rimas geralmente pobres e forçadas.
É que sem ser poeta, mas valendo-me daquele jeitinho do brasileiro, “quebrei o galho” para 63 (sessenta e três) delas, fazendo apenas rimas para cantar!
Sou, por tanto, um poeta bissexto!...
Santarém-Pará, dezembro de 1994.
Wilson Fonseca

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Na verdade, ele, além de compositor, escritor, pesquisador ("Meu Baú Mocorongo", por exemplo), era, sim, também poeta.

Embora, a letra de sua linda valsa "Polyana" não seja de sua autoria (mas de Emir Bemerguy) - papai só escreveu a música -, ele fez tudo com muita alma e dedicou diversas outras músicas às suas filhas (Maria das Dores, Conceição e Maria de Jesus), sobrinhas (Beatrice, Léa, Salete, Maria de Lourdes, Fátima, Bernadete etc.) e netas (Polyana, Diana, Eula, Lorena), além, é claro, de muitas composições à sua musa inspiradora, minha mãe (Rosilda) - avó da Polyana - para quem dedicou a seguinte valsa, que adiante transcrevo para a minha querida sobrinha lembrar da vovó Rosilda:

Rosilda
(valsa)

Letra e Música: Wilson Fonseca (Santarém-PA, 1939)


Ditosa esperança inspiras, querida,
Para o meu amor,
Pois és a deusa descida
Da mansão do redentor!

Tu és a mais lúcida estrela
No céu do meu viver
Que, com sua luz viva e bela,
Impera no meu ser...
E, com essa luz de magia,
Tu me farás feliz,
Nesse porvir
Que há de sorrir
Tão cheio de poesia!

Yúdice Andrade disse...

Tio Vicente, se eu soubesse que o sr. também gosta de blogs, teria avisado sobre este post. Mas fico feliz de ter sido encontrado e de ter agradado uma pessoa de gostos tão eruditos.
Obrigado por enriquecer, com seu comentário, o meu post. O que dá mais valor a ele é essa carga de pessoalidade que tentei imprimir e que a Polyana e o sr., claro, o fazem com a maior naturalidade.
Espero merecer novas visitas.

Anônimo disse...

Olá, Yúdice: quando dá tempo, navego na Internet à busca de preciosidades, como o seu blog. Continuo esperando a visita para vermos o DVD das homenagens em Santarém e, é claro, falarmos sobre o "Baú". Abraços.