Após o sufoco do assalto sofrido (prometo parar de falar nisto; esta postagem já encaminha para o fim do tema), ontem à noite tive a oportunidade de retomar minhas atividades normais como professor, aplicando prova em duas turmas. Enquanto os meninos trabalhavam, fiquei em silêncio um tempo contemplando-os e, de repente, senti um bem estar chegando. Senti-me bem por voltar à minha vida, por não ter sequelas, por ter a oportunidade de readquirir os objetos que me foram levados, por viver cercado de pessoas queridas. Quando alunos deixavam a sala e se despediam de mim carinhosamente, tive outras demonstrações de que sou um privilegiado.
Mesmo cansado, saí da faculdade satisfeito, agradecido. Aquele monte de provas para corrigir — o pior suplício do professor — nunca me pareceu tão leve.
Lembrei-me, então, que certa vez, muitos anos atrás, em circunstâncias de que já não me recordo com clareza, usei a expressão "não há nada como um dia após o outro". Meu interlocutor me recriminou, dizendo que aquilo era comodismo, que precisávamos fazer e acontecer, que aceitar as coisas como são é um erro, etc.
Muito do que me foi dito é verdade. Não precisamos sucumbir às coisas como elas são, muito menos às que nos são impostas. Mas podemos — e até devemos — encontrar prazer nas pequenas mesmices do cotidiano, naquilo que fazemos sem nenhum propósito grandioso, nos caminhos que percorremos diariamente, nas pessoas que sempre vemos. Estou feliz hoje por me encontrar, simplesmente, no lugar em que devia estar.
Esta não é uma mensagem de auto-ajuda. Nem gosto dessas coisas. É apenas um agradecimento a Deus. Quem tiver ouvidos de ouvir, que ouça.
Um comentário:
Yúdice, fiquei feliz ao ler esse post. É bom ver pessoas amigas ficando "de bem com a vida" novamente depois de um trauma tão forte.
Abraço!
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